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terça-feira, 21 de janeiro de 2014

MUDANÇAS NO JORNALISMO E NO JORNALISTA

LEIA HOJE:

. O jornalismo e o jornalista

. Inovação na agfricultura orgânica

. Eventos

. Quando as crianças são sexualmente precoces

. O romance e as alterações cerebrais

MUDANÇAS NO JORNALISMO E NO JORNALISTA

(Texto de Jussara Mangini, distribuído pela Agência FAPESP)  As transformações ocorridas nos meios de comunicação, por meio das novas tecnologias e da cultura de convergência midiática, impactaram profundamente os processos de produção do jornalismo e, consequentemente, o perfil do jornalista.
A conclusão é de uma pesquisa que avaliou o perfil do jornalista e as mudanças em trabalho.
“Os produtos jornalísticos impressos, televisivos ou radiofônicos são feitos de maneira completamente diferente do que há cerca de 20 anos”, disse Roseli Fígaro, coordenadora do Centro de Pesquisa em Comunicação e Trabalho da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP).
Responsável pela pesquisa “O perfil do jornalista e os discursos sobre o jornalismo: um estudo das mudanças no mundo do trabalho do jornalista profissional em São Paulo”, que teve apoio da FAPESP, Fígaro destaca que uma série de funções desapareceu da rotina do métier do jornalista.
“O tempo e o espaço, comprimidos pelas possibilidades das tecnologias de comunicação e de informação, foram assimilados nos processos de produção de modo a reduzir o tempo para a reflexão, a apuração e a pesquisa no trabalho jornalístico.”
“O espaço de trabalho encolheu e ao mesmo tempo diversificou-se, transformando as grandes redações em células de produção que podem ser instaladas em qualquer lugar com internet e computador. O jornalismo on-line, em tempo real, os blogs e as ferramentas das redes sociais são inovações nas rotinas profissionais”, disse à Agência FAPESP.
No estudo, concluído em 2013, um grupo de pesquisadores do Centro de Pesquisa em Comunicação e Trabalho, orientado por Fígaro, buscou saber o que essas transformações representam em termos de mudanças no perfil do profissional e o que o jornalista pensa sobre o próprio trabalho e sobre o jornalismo.
O trabalho é resultado da análise das respostas de 538 jornalistas. Os dados também estão no e-book As mudanças no mundo do trabalho do jornalista(Editora Salta), lançado no segundo semestre de 2013.
Os 538 jornalistas pesquisados são de São Paulo – estado que abriga mais de 30% dos profissionais brasileiros da categoria – e foram consultados em duas fases metodológicas: a quantitativa, com o uso de um questionário fechado de múltipla escolha, e a qualitativa, com entrevista face a face com roteiro de perguntas abertas, e grupo de discussão, com roteiro dos temas mais polêmicos encontrados pelos instrumentos anteriores.
Quatro grupos amostrais responderam os questionários em diferentes períodos: dois grupos em 2009 – um formado com 30 jornalistas de diferentes mídias e vínculos empregatícios, selecionados de maneira aleatória via rede social, e outro constituído por 340 associados do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, também de diferentes mídias, vínculos e funções.
Um grupo de 90 jornalistas freelancers (sem vínculo empregatício), trabalhando em diferentes mídias, foi consultado em 2010. E um outro grupo de 82 jornalistas de uma grande empresa editorial da capital paulista também compôs a amostra, como fruto de uma pesquisa anterior, realizada em 2007.
Para a fase qualitativa – com entrevista individual de 20 jornalistas e discussão em focus groups, em duas sessões, com 16 jornalistas no total – foram selecionados 36 dos 538 jornalistas que responderam os questionários na fase quantitativa.
De forma geral, a maioria dos jornalistas tem um perfil socioeconômico de classe média, é jovem (até 30 anos), branca, do sexo feminino, não tem filho, atua em multiplataformas e tem curso superior completo e especialização em nível de pós-graduação.
 Outras características comuns são a carga horária de trabalho – de oito a dez horas por dia – e a faixa salarial de R$ 2 mil a R$ 6 mil.
O predomínio feminino coincide com os dados divulgados pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) que, no fim de 2012, registrou que os jornalistas brasileiros eram majoritariamente mulheres brancas, solteiras, com até 30 anos.
Apenas no grupo dos sindicalizados, que reúne os profissionais com a faixa etária mais elevada e maior tempo de profissão, observou-se predomínio masculino.
Precarização dos vínculos empregatícios
A reestruturação produtiva ocorrida no mundo do trabalho, principalmente a partir dos anos 1990, transformou as relações de trabalho, afirma a pesquisadora na introdução de seu livro.
Foi a partir dessa década que aumentou o número de jornalistas contratados sem registro em carteira profissional, abrindo caminho para novas formas de contratação, como a terceirização, contratos de trabalho por tempo determinado, contrato de pessoa jurídica (PJ), cooperados e freelancers, entre outros.
A chamada “flexibilidade” acaba por transferir aos trabalhadores o peso das incertezas do mercado.
“Como mão de obra maleável seja em termos de horário, de jornada de trabalho ou de um vínculo empregatício, esses profissionais não podem planejar suas vidas em termos econômicos nem em termos afetivos”, disse Fígaro.
Os freelancers trabalham em período integral, para vários lugares, sozinhos em casa. Começam a pensar como empreendedores, aplicam os conhecimentos do jornalismo em outras atividades, como na revisão de trabalho acadêmico ou até na venda de pacotes de assessoria de comunicação para políticos.
Os mais jovens e os freelancers são os que menos conseguem planejar sua vida pessoal em relação à profissional fora do curto prazo, de acordo com a pesquisadora.
“Trabalham hoje, para consumir hoje e não sabem como será seu trabalho no ano seguinte. Imagino que isso cause grande parte do estresse na vida do indivíduo”, afirmou Fígaro.
A pesquisa também verificou que as novas gerações se sindicalizam menos.
Uma possível explicação para isso, segundo Fígaro, é que os profissionais que vivem instabilidade financeira e têm dificuldade em se relacionar com o mundo do trabalho não vislumbram soluções coletivas – como sindicalizar-se ou organizar-se para pleitear melhores condições de trabalho –, mas sempre em saídas individuais como, por exemplo, arrumar mais um emprego.
“Possuem um perfil profissional deslocado de valores coletivos, são individualistas e muito preocupados com o negócio. Vão em busca do cliente e consideram a informação um produto.”
Ela ressalta, no entanto, que isso não quer dizer que o jornalista não esteja preocupado com causas da coletividade ou da sociedade, mas que há uma busca individual de soluções.
Os profissionais da área sabem que uma característica comum é a alta rotatividade de emprego: muda-se muito de uma empresa ou veículo de comunicação para outro.
Na avaliação de Fígaro, “se por um lado, a experiência pode enriquecer o profissional, por outro é sempre um começar de novo, um novo que não é tão novo, porque se fica no mesmo nível hierárquico”.
De acordo com ela, é exigida hoje do jornalista atualização constante no uso de ferramentas digitais de prospecção, apuração e edição de informações.
É fundamental ter habilidades e competências que permitam a atuação em diversas plataformas – impressa, tevê, rádio, internet – e em diferentes linguagens – verbal, escrita, sonora, fotográfica, audiovisual, hipertextual.
“Exigem-se ainda noções de marketing e de administração, visto que se prioriza a visão de negócio/mercadoria já inserida no produto cultural, por meio do tratamento dado às pautas e à segmentação de públicos”, disse Fígaro.
Diferenças entre gerações
Enquanto os mais jovens estão fora das redações, em trabalhos precarizados, os mais velhos migram para a coordenação das assessorias de comunicação.
A coordenadora do estudo comentou que há casos muito conflituosos de desrespeito e intolerância tanto em relação ao profissional mais velho, quanto em relação ao jovem muito tecnológico, sem experiência.
“As empresas, no afã de mudar sua cultura e dinamizar os interesses de seu negócio, quebram uma regra muito importante no mundo do trabalho: a transferência de saberes profissionais de uma geração para outra.”
“Isso traz danos não só para a empresa, mas para toda a sociedade. Há um custo social a pagar por isso”, avaliou Fígaro.
Há diferença entre o que significa ser um bom jornalista hoje em relação a 20 anos atrás?
“Jornalistas trabalham com os discursos da sociedade. Devem, portanto, compreender as implicações disso: discurso é produção de sentido; e produção de sentido é tomar posição, é editar o mundo e disponibilizar essa edição para quem estiver interessado nela.”
De acordo com a pesquisadora, hoje é preciso maior destreza com tecnologias que não existiam.
Os jornalistas tinham menor destreza anteriormente? Não, na opinião de Fígaro. “Ser multitarefa e multiplataforma são exigências que colocam em ação habilidades humanas diferentes; e trazem implicações profissionais diferentes.”
Sob esse aspecto, os profissionais apresentam no discurso preocupação com a ética jornalística, com a apuração, com o texto, com a qualidade e a idoneidade das fontes.
“Mas eles também têm claro que o tempo da racionalidade produtiva da mídia é o algoz do bom jornalismo. Destaco que esse tempo não é o tempo da vida cotidiana. É o tempo da produção comercial do produto notícia”, ressaltou Fígaro.
Formação profissional
Da amostra total, cerca de 5% não têm ou não concluíram o ensino superior. A absoluta maioria possui nível superior e, em média, 65% deles têm curso de especialização em nível de pós-graduação.
A mudança operacional é tão evidente que os cursos de jornalismo ganharam na última década teor ainda mais técnico-prático e operacional; fato que, na opinião da pesquisadora, não deveria se contrapor à preocupação com a ampla formação cultural e humanística do futuro profissional.
 “No entanto, é isso que vem acontecendo, inclusive com o aval do cliente/aluno, visto que a maioria dos jornalistas da pesquisa se formou em faculdades privadas.”
Outra característica marcante é que o jornalista começa a trabalhar muito cedo. Antes mesmo de concluir a faculdade, é incentivado a conquistar logo um posto de trabalho na área.
Fígaro percebeu que há até um certo desprezo pela faculdade, como se o necessário fosse somente a formação técnica conquistada no âmbito do trabalho.
“Essa discussão é complexa. O trabalho nunca é só técnica, norma, prescrição de uma empresa para a produção de determinado produto.”
 “Para o trabalho mobiliza-se um conjunto de saberes amplos que vão da gestão de si próprio e suas habilidades, à gestão das normas, dos relacionamentos, das linguagens etc.”
Na avaliação dos pesquisadores, parte dos profissionais da amostra teve uma formação “débil” no que diz respeito à capacidade de inter-relacionar fatos, dados e acontecimentos de maneira contextualizada política, social e historicamente.
“Na verdade, é essa capacidade que considero como conhecimento fundamental para o desempenho da profissão”, disse Fígaro.
Produção de conteúdo
Os autores da pesquisa destacam o quanto o processo de seleção, análise e interpretação das informações, que são de fácil acesso hoje, ficou mais complexo e exige maturidade intelectual, profundo compromisso com a ética jornalística e com os fundamentos da produção do discurso jornalístico.
Porém, lamentam que “o limite e a separação entre as orientações da redação de um veículo de comunicação e a área comercial da empresa, antes tão fundamentais para a credibilidade do exercício profissional, hoje sequer fazem parte do repertório das novas gerações”.

Os jornalistas da empresa editorial pesquisada consideram os meios de comunicação o negócio mais promissor do mundo globalizado e um negócio como outro qualquer.
O grupo de jornalistas selecionado nas redes sociais se divide sobre o papel dos meios de comunicação – para uns, é um instrumento de fazer política, cultura e educação e, para outros, trata-se de um negócio como outro qualquer.
Os sindicalizados e os freelancers consideram os meios de comunicação um instrumento de informação, cultura e educação.
No que diz respeito à opinião dos jornalistas sobre o “valor” da informação, apenas os profissionais do grupo dos sindicalizados a veem como um direito do cidadão. Os demais a consideram um produto fundamental da sociedade.
Dessas questões derivam outras em relação ao tipo de jornalismo que o cidadão deseja e daí qual o engajamento profissional necessário. “Está em jogo que tipo de democracia se quer construir, pois o direito à informação é o alicerce de uma sociedade democrática”, disse Fígaro.
Para a pesquisadora, falta a compreensão de que o jornalista é o profissional que trabalha com os discursos das diferentes instituições e agentes sociais para devolvê-los aos cidadãos, de maneira compreensível.
“A informação é um direito humano, consagrado pela nossa Constituição e pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. Hoje, grande parte dos jornalistas encara a informação como uma mercadoria como outra qualquer e, em minha opinião, aí está o problema.”
Consumo cultural
A maioria dos jornalistas pesquisados lê jornais todos os dias; quem menos lê, no entanto, são osfreelancers. Todos os grupos afirmam assistir à televisão todos os dias. Parte da mostra também ouve rádio todos os dias.
A internet, mais do que outros meios de comunicação ou de comunicação interpessoal, é o meio pelo qual todos ficam sabendo das notícias mais importantes, fazem compras, estudam, trabalham e pesquisam.
Ainda assim, o que o jornalista mais segue nas mídias sociais é a mídia tradicional e grandes veículos de comunicação e a busca, geralmente, está mais ligada ao trabalho do que à obtenção de informação em si.
Todos os grupos gostam de ler, ir ao cinema, boa parte vai ao teatro. Nas horas vagas, alguns vão à academia de ginástica e outros não vão a lugar algum.
Para os autores da pesquisa, o maior crédito que atribuem ao estudo e ao e-book, além dos dados levantados, é provocar nos jornalistas um debate sobre a profissão.

INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NA AGRICULTURA ORGÂNICA

(Texto de José Tadeu Arantes, distribuído pela Agência FAPESP A agricultura orgânica tem crescido a taxas elevadas no Brasil.
Segundo dados divulgados em 2013 pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, o mercado de produtos orgânicos se expande de 15% a 20% ao ano, abastecido por cerca de 90 mil produtores, dos quais aproximadamente 85% são agricultores familiares.
Uma pesquisa, conduzida por Mauro José Andrade Tereso, professor associado da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), investigou as condições de trabalho e a inovação tecnológica no setor.
O estudo, apoiado pela FAPESP, contou com a participação de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), da Unicamp, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
No período de vigência da pesquisa, que se estendeu de maio de 2010 a maio de 2013, foram investigadas 33 Unidades de Produção de Agricultura Orgânica (UPAO) dedicadas prioritariamente ao cultivo de hortaliças.
 Esse montante representava um terço das UPAOs dedicadas à horticultura certificadas no Estado de São Paulo na data inicial da pesquisa.
Aproximadamente dois terços das UPAOs visitadas eram propriedades familiares, com áreas totais não superiores a 20 hectares e nenhuma dedicando à horticultura mais do que 15 hectares. A maioria contava com área de proteção ambiental e se caracterizava pela grande diversidade de itens produzidos.
Os pesquisadores buscaram mapear as tecnologias empregadas e as demandas, adaptações e inovações tecnológicas, destinadas a minimizar a carga de trabalho e as dificuldades na execução das tarefas e a aumentar a produtividade.
“Como a tecnologia disponível no mercado foi desenvolvida para o modelo convencional de agricultura, os produtores orgânicos são obrigados a adaptar ferramentas e equipamentos e a realizar outras inovações a fim de aumentar a produtividade de seu trabalho”, disse Tereso àAgência FAPESP.
A agricultura convencional, que se difundiu em escala planetária a partir da chamada “revolução verde”, durante as décadas de 1960 e 1970, baseia-se, grosso modo, em: monocultura; uso intensivo de compostos químicos sintéticos para recuperação do solo e controle de pragas; uso de maquinário no processo de produção, do preparo do solo à pós-colheita; uso de sementes geneticamente adaptadas ao modelo de produção; uso de fontes exógenas de energia em relação ao espaço produtivo.
Já a agricultura orgânica, segundo definição do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, é um sistema de produção que exclui amplamente o uso de fertilizantes, pesticidas, reguladores de crescimento e aditivos para a alimentação animal compostos sinteticamente.
Baseia-se também, tanto quanto possível, na rotação de culturas e na utilização de estercos animais, leguminosas, adubação verde, reaproveitamento de materiais orgânicos vindos de fora das propriedades, minerais naturais e controle biológico de pragas para manter a estrutura e a produtividade do solo, fornecer nutrientes para as plantas e controlar insetos, ervas daninhas e outras pragas.
A agricultura orgânica geralmente emprega o cultivo mecânico, retomando antigas práticas agrícolas, porém adaptando-as às modernas tecnologias de produção agropecuária, com o objetivo de aumentar a produtividade com o mínimo de interferência nos ecossistemas.
“Os agricultores orgânicos compensam a ausência de equipamentos concebidos diretamente para eles com a inovação dos processos produtivos e a adoção de novos métodos organizacionais. São também comuns adaptações muito engenhosas dos equipamentos convencionais”, afirmou Tereso.
A diversidade de produtos e de alternativas de vendas também constituem estratégias importantes para os agricultores orgânicos competirem no mercado.
“Nossa pesquisa mostrou que esses agricultores são altamente qualificados, com uma impressionante quantidade de conhecimentos acerca das plantas, do solo, da relação solo-água e de outros tópicos agronômicos. Além disso, trabalham com uma grande diversidade de produtos”, informou Tereso.
“Na agricultura convencional, o agricultor lida muitas vezes com um único tipo de produto, por exemplo, alface ou tomate. Já na agricultura orgânica, é comum os agricultores lidarem com 15, 20, às vezes 60 itens diferentes. Encontramos uma propriedade com mais de 100 itens hortícolas produzidos”, prosseguiu o pesquisador.
Metade dos gestores entrevistados na pesquisa estava na faixa etária dos 40 aos 60 anos. Dois terços tinham mais de dez anos de experiência na atividade agrícola e na própria agricultura orgânica. Vários acumulavam mais de vinte anos de certificação.
Além dos gestores, a maioria dos trabalhadores das UPAOs familiares executava todas as tarefas que compõem os diferentes sistemas de trabalho.
As exceções eram as poucas tarefas que requerem muita força física, como a colheita de raízes e tubérculos, realizada apenas por homens, ou atividades que requeriam habilidades específicas, como a preparação de mudas.
As especializações laborais surgiram nas operações de máquinas e equipamentos, como tratores e pulverizadores.
Com tal qualificação e diante da ausência de ofertas tecnológicas no mercado, esses agricultores buscam soluções criativas e promovem a inovação no sentido mais estrito da palavra, não apenas trazendo novos aportes tecnológicos para dentro da propriedade, mas desenvolvendo tecnologias muito específicas lá mesmo.
“Essa foi uma das conclusões mais interessantes de nossa pesquisa”, comentou Tereso.
Outro diferencial entre os agricultores orgânicos e os agricultores convencionais é que os primeiros buscam diversos nichos de mercado.
“Normalmente, o produtor convencional vende para um atravessador e se contenta com isso. Já o produtor orgânico procura explorar várias possibilidades: cooperativas, vendas pela internet, vendas de cestas de produtos, pontos de venda próprios, convênios com restaurantes ou supermercados, enfim, uma gama muito grande de alternativas para escapar dos atravessadores”, disse Tereso.
Muitos desses produtores já criaram embalagens diferenciadas e marcas. E vários também promovem algum tipo de processamento, agregando valor aos seus produtos.
Soluções tecnológicas
Depois do levantamento geral de dados, em uma segunda fase, a pesquisa estudou em profundidade as UPAOs que se destacaram nas várias modalidades da inovação tecnológica.
Os pesquisadores observaram o dia-a-dia dos gestores destas propriedades, procurando compreender como a inovação ocorria no interior das UPAOs que administravam.
Cada gestor foi acompanhado por pelo menos 40 horas. No total, os pesquisadores somaram quase 400 horas de trabalho de campo nesta segunda fase.
Os produtores orgânicos compensam a ausência de tecnologia disponível na forma de máquinas e equipamentos com o desenvolvimento de soluções tecnológicas na forma de processos, de organização do trabalho e de comercialização de seus produtos.
“O que mais chamou nossa atenção foi a capacidade de os produtores orgânicos encontrarem saídas para driblar a falta de oferta de equipamentos que enfrentam hoje no mercado brasileiro.”
“Quando o mercado passar a oferecer equipamentos específicos para esses profissionais, eles poderão superar em muito a produtividade da agricultura convencional”, disse Tereso.

“O Brasil é hoje o maior produtor de açúcar orgânico do mundo. Em meados da década de 1980, quando iniciou suas atividades, a produtividade da maior empresa do setor era inferior à metade da média nacional.”

“De lá para cá, essa empresa desenvolveu tecnologias próprias (maquinários, equipamentos, novos processos agronômicos, controle biológico de pragas etc.).”

“Hoje, sua produtividade é 80% superior à média nacional. Isso mostra que, quando se conjugam conhecimentos tão abrangentes dos processos produtivos com recursos tecnológicos, a produtividade pode alcançar níveis surpreendentes”, afirmou o pesquisador. 

EVENTOS

. 4º Simpósio Brasileiro sobre Nutrição de Plantas Aplicada em Sistemas de Alta Produtividade -  Entre 9 e 11 de abril, a Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista (FCAV/Unesp), em Jaboticabal, realizará o 4º Simpósio Brasileiro sobre Nutrição de Plantas Aplicada em Sistemas de Alta Produtividade.

Direcionado a estudantes e profissionais da área, o evento terá palestras de pesquisadores de diversas universidades, institutos de pesquisa e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Assuntos relacionados a nutrição e adubação, ciclagem biogeoquímica e diagnose foliar fazem parte da programação.
As inscrições com desconto podem ser feitas até 9 de março e o número de vagas é limitado a 200 participantes.
O simpósio ocorrerá no Centro de Convenções da FCAV/Unesp, localizado na via de acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/nº, em Jaboticabal (SP). Detalhes: http://www.funep.org.br/mostrar_evento.php?idevento=392

. 15ª Jornada PedagógicaEntre 13 e 15 de maio, ocorre na Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC), da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Marília, a 15ª Jornada Pedagógica – Formação de Professores: Curso de Pedagogia em Debate.

Assuntos envolvendo os desafios e as políticas para a formação de professores serão debatidos em mesas-redondas lideradas por docentes de várias universidades.
Os interessados em submeter trabalhos para apresentação devem enviar o material até 30 de março. Podem ser inscritos relatos de experiência e de pesquisa, ou pesquisas concluídas ou em andamento, desde que estejam baseadas em um dos seis temas propostos.
O evento ocorrerá na FFC/Unesp, situada na Av. Hygino Muzzi Filho, 737, em Marília, no centro-oeste paulista.

. 8º Simpósio Internacional de Endoscopia Digestiva - A Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (Sobed) realiza, nos dias 21 e 22 de março, a oitava edição do Simpósio Internacional de Endoscopia Digestiva, que ocorrerá em Gramado, no Rio Grande do Sul.

O evento reunirá especialistas do Brasil e o exterior. Entre as presenças internacionais confirmadas estão René Lambert, da França; Raf Bisschops, da Bélgica; Takahisa Matsuda, do Japão; e Kenneth Binmoeller e Ram Chuttani, dos Estados Unidos.
A programação científica inclui assuntos como esôfago de Barret, vias biliares, cápsula endoscópica e câncer de reto, que serão discutidos por meio de apresentações, exposições de casos clínicos e sessões de vídeos.
As inscrições com desconto podem ser feitas pela internet até 21 de fevereiro. O evento será no Serrano Gramado Hotel, que fica na Av. das Hortênsias, 1480, em Gramado.
Mais informações e inscrições no site http://www.simposiosobed2014.com.br 

Simpósio Internacional de Oncologia Veterinária - A Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Estadual Paulista (FMVZ/Unesp) de Botucatu realiza, entre os dias 21 e 23 de março, o Simpósio Internacional de Oncologia Veterinária.

O encontro promoverá o debate de temas como inovações em oncologia veterinária, diagnóstico por imagens e cirurgias reconstrutivas, que serão abordados por profissionais do Brasil e do exterior.
A programação também inclui apresentação de trabalhos. Os resumos devem ser redigidos em inglês e devem estar classificados em uma das quatro áreas temáticas disponíveis: oncologia veterinária, oncologia experimental e comparada, diagnóstico e terapêutica. O prazo de envio dos resumos é até 7 de fevereiro.
As inscrições podem ser feitas até a data do evento, mas o desconto na taxa será concedido somente até 16 de março.Detalhes:  http://www.fmvz.unesp.br/#!/eventos/1-simposio-internacional-de-oncologia-veterinaria/ 

DESPERTAR PRECOSE

(Textp de  Ricardo Zorzetto, distribuído pela Revista Pesquisa FAPESP) Há cerca de 7 anos a médicaAna Claudia Latronico atendeu no ambulatório de endocrinologia pediátrica do Hospital das Clínicas (HC) de São Paulo um caso que lhe chamou a atenção e acabou por conduzir à identificação, em meados de 2013, do primeiro gene associado à puberdade precoce de origem hereditária.
Era uma menina de 5 anos que já apresentava os primeiros sinais da puberdade.
As mamas começavam a se formar e os pelos cresciam mais espessos nas axilas e na região pubiana, dois sinais de que os hormônios sexuais, produzidos em maior quantidade só no final da infância, já circulavam em níveis elevados no corpo da garota.
Pouco frequentes na população, casos como esse de puberdade que ocorre muito antes do tempo adequado até são comuns no maior hospital da América Latina, para onde são encaminhados os problemas mais raros e complexos do país.
O que despertou o interesse de Ana Claudia, no entanto, foi outro motivo. A menina havia chegado ao hospital por iniciativa da avó paterna, então uma senhora de 69 anos, que tinha entrado na puberdade cedo e menstruado pela primeira vez aos 9 anos.
Semanas mais tarde a avó retornou com uma segunda neta, filha de outro filho, e anos depois com uma terceira, nascida do segundo casamento do primeiro filho.
Em comum, todas apresentavam as mudanças corporais da puberdade bem antes da hora em que costumam surgir na maioria das crianças: a partir dos 8 anos nas meninas e dos 9 anos nos meninos.
Essa sequência de casos na mesma família – mais tarde chegariam a seis – levou Ana Claudia a desconfiar de uma origem genética para o problema, algo em que poucos especialistas pensavam na época, e a iniciar uma procura ativa entre os parentes das crianças atendidas por ela e sua equipe no HC.
“Passamos a conversar com as mães, que em geral são quem leva as crianças às consultas, sobre a puberdade do pai, dos tios e dos avós”, lembra a endocrinologista. Perguntas como “com que idade a avó menstruou pela primeira vez?” ou “na família há casos de homens que começaram a fazer a barba muito cedo?” ajudaram esse grupo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) a encontrar mais 11 famílias brasileiras com mais de um caso de puberdade precoce entre os parentes de primeiro grau.
Exames clínicos e testes hormonais confirmaram que nessas 12 famílias brasileiras e em outras 3 estrangeiras havia 32 pessoas que tinham entrado na puberdade muito cedo, em média aos 6 anos.

Em todos esses casos, apresentados em junho de 2013 em um artigo no New England Journal of Medicine (NEJM), o desenvolvimento acelerado do corpo que marca a transição da infância para a idade adulta havia começado antes do tempo por causa do aumento prematuro na produção do hormônio liberador das gonadotrofinas: o GnRH, que comanda o amadurecimento sexual do organismo – esses casos são chamados de puberdade precoce central ou verdadeira.
Produzido no cérebro por um pequeno grupo de neurônios do hipotálamo, o GnRH funciona como o acelerador de um carro.
Esse hormônio é liberado em pulsos mais rápidos na puberdade, induzindo a glândula hipófise a produzir dois outros hormônios sexuais: o homônio luteinizante (LH) e o hormônio folículo estimulante (FSH).
Esses hormônios são lançados na corrente sanguínea e viajam até os ovários e os testículos, onde ativam a liberação de outros hormônios sexuais que fazem o corpo crescer e amadurecer do ponto de vista reprodutivo.
Com os dados daquelas 32 pessoas em mãos, faltava descobrir o que havia levado o corpo delas a secretar mais GnRH antes da hora.
O grupo de Ana Claudia, em parceria com pesquisadores da Santa Casa de São Paulo, da Universidade Federal de Minas Gerais, da Universidade de Leuven, na Bélgica, e da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, decidiu sequenciar o material genético desses participantes em busca de alterações que pudessem explicar o início antecipado da puberdade.
Um terço deles (oito pessoas) apresentou defeitos em um mesmo gene: o MKRN3, hoje considerado o primeiro gene responsável por uma forma hereditária de puberdade precoce.
“Esse resultado é importante porque os determinantes do início da puberdade permanecem um dos mistérios não resolvidos da biologia”, comenta o endocrinologista Jean-Claude Carel, da Universidade Paris Diderot e do Centro de Referência em Doenças Endócrinas Raras do Crescimento, na França.
Especialista de renome internacional que investiga a puberdade precoce central, Carel observa: “A puberdade está associada a uma série de desfechos físicos e psicológicos de longo prazo, e compreender melhor o que define seu início cria a oportunidade de contribuir para questões de saúde como câncer, comportamentos de risco e abuso de drogas”.
Para Erica Eugster, da Universidade da Saúde de Indiana, Estados Unidos, “esse achado representa um avanço importante na determinação da base genética da puberdade precoce central”, em especial por envolver uma forma até então desconhecida de controle da produção do GnRH.
Leia a reportagem completa em: http://revistapesquisa.fapesp.br/2014/01/13/despertar-precoce/ 

 
ROMANCES PROVOCAM ALTERAÇÕES CEREBRAIS
(Roberta Machado - Correio Braziliense) - Mas, talvez, o escritor de 'A escolha de Sofia' não soubesse que sua descrição das emoções da leitura fosse muito apropriada também para os efeitos que uma boa ficção têm no cérebro humano.
Pesquisa recentemente realizada nos Estados Unidos mostra que ler um romance causa mudanças nas conexões neurais similares às que ocorreriam se a pessoa realmente tivesse vivido as experiências dos personagens fictícios.

O estudo, publicado na revista especializada Brain Connectivity, descreve como um grupo de 21 voluntários teve os cérebros examinados antes, durante e depois de uma maratona de leitura.

Todos foram submetidos a cinco sessões diárias na máquina de ressonância magnética funcional antes de embarcarem na ficção. Depois, os participantes foram apresentados ao livro Pompeia, de Robert Harris, que serviu de estímulo para os cérebros examinados.

A obra foi dividida em nove partes, que deveriam ser lidas a cada noite do experimento. Na manhã seguinte à leitura do trecho indicado, cada participante respondeu a um questionário e foi novamente submetido à ressonância magnética, que registrou as mudanças ocorridas no cérebro.

A lembrança da experiência narrativa durante o exame aumentou a excitação dos participantes conforme eles se aproximavam do clímax da história, marcado pela erupção do Monte Vesúvio sobre a antiga cidade romana.

A cada dia, também aumentava a conectividade visualizada no córtex temporal esquerdo, a área do cérebro relacionada com a compreensão da linguagem.

A mudança era visível mesmo quase um dia inteiro depois da atividade, mostrando que a mente permanecia “alerta” para esse tipo de pensamento. Esse feito é chamado pelos estudiosos de vestígio de atividade.

Os exames também mostraram mudanças depois que os voluntários já haviam concluído a leitura do livro. Durante mais de cinco dias, eles voltaram para a máquina de ressonância magnética e os resultados foram comparados com as imagens registradas antes de eles começarem a ler o romance histórico.

Entre o início e o fim da experiência, foi possível notar conexões mais intensas no sulco central do cérebro, localizado entre os centros motor e sensório. Esses são os neurônios que são “ligados” não somente quando o corpo está ativo, mas também quando a mente pensa em agir.

A região acende de forma similar, por exemplo, quando uma pessoa está correndo e quando ela imagina estar em uma corrida.

Cientistas acreditam que estudos mais prolongados possam apontar com mais precisão a duração das marcas deixadas pela experiência literária no cérebro de uma pessoa

Efeito prolongado

“As mudanças neurais que encontramos associadas com a sensação física e os sistemas de movimento sugerem que ler um romance pode transportar você para o corpo do protagonista”, descreve, em um comunicado, Gregory Berns, pesquisador da Emory University, do estado norte-americano de Georgia.

“Já sabíamos que boas histórias podem colocá-lo na pele de outra pessoa em um sentido figurativo, mas, agora, estamos vendo que algo também pode estar acontecendo biologicamente”, compara Berns.

Esse fenômeno, de acordo com a neurologista Sonia Maria Dozzi Brucki, é causado pela plasticidade cerebral, que permite mudar as conexões do cérebro de acordo com as experiências vividas por uma pessoa.

Mas, nesse caso, as ações foram vivenciadas somente na imaginação do leitor. “É muito interessante provar que, por meio da leitura, a pessoa ativa áreas (do cérebro) como se estivesse mesmo vendo a ação.

Isso mostra que você tem um grande circuito cerebral que pode ser ativado por meio de mecanismos externos”, explica a coordenadora do Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia.

Os efeitos da leitura foram registrados até cinco dias depois da atividade, quando o experimento foi concluído. Mas os cientistas acreditam que estudos mais prolongados possam apontar com mais precisão a duração das marcas deixadas pela experiência literária no cérebro de uma pessoa.

Benefícios cognitivos

Especialistas lembram que o poder da sugestão e da imaginação havia sido registrado em estudos anteriores.

“A ciência já mostra muito isso. Imaginar que esteja comendo 30 vezes um bolinho de carne e depois ser oferecido o bolinho de verdade vai deixar a pessoa com menos apetite. Você vivência aquilo, sem dúvida”, descreve o neurologista Ricardo Afonso Teixeira, do Instituto do Cérebro de Brasília.

A leitura, de acordo com Teixeira, é uma forma usada pelo cérebro para perceber a realidade e, por isso, deixa marcas nas conexões como as experiências reais. “É outra linguagem que, assim como aprender uma língua estrangeira, tem benefícios cognitivos para a pessoa”, avalia.

Até então, a maioria dos estudos havia se focado nos processos cognitivos envolvidos na leitura de contos, lidos durante os exames que registravam as mudanças nos cérebros de voluntários.

Outras pesquisas já provaram que o pensamento criativo estimulado pela leitura gera também benefícios nas relações interpessoais. Estudando a complexidade dos personagens ao longo de uma história de ficção, o leitor faria um tipo de exercício de empatia, desenvolvendo a sensibilidade necessária para compreender os sentimentos de pessoas na vida real.

Para Sonia Maria Brucki, o estudo da Emory University sobre os efeitos das experiências vividas por meio dos personagens comprova os benefícios da leitura de ficção para o cérebro.

Além de exercitar as áreas de linguagem e todas as regiões ligadas às informações abordadas na história, a imaginação traria consequências positivas para a saúde mental do leitor.

 “Em qualquer idade, o cérebro é capaz de criar novas sinapses. Desde a criança em formação até adultos e idosos, todos se beneficiam de qualquer tipo de leitura, seja técnica, de ficção ou literatura. Cada uma ativa o cérebro de uma forma diferente”, defende Sonia.

Obra histórica

A ficção escrita pelo jornalista e escritor britânico Robert Harris descreve a história de Marcus Attilius, um jovem engenheiro que trabalhava em um aqueduto de Pompeia no ano de 79.

O personagem descobre uma obstrução no sistema e logo conclui que uma erupção atingiria a cidade em breve. A aventura é coberta de intrigas políticas, que impedem o protagonista de salvar a cidade do desastre que a destruiria.


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