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quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

MOVIMENTO ESTUDANTIL NÃO ACORDOU


 (Por Bruna Souza Cruz, do UOL, em São Paulo) -  Mesmo tendo registrado participação significativa de estudantes durante a onda de protestos iniciadas em junho deste ano, é difícil falar em renascimento do movimento estudantil brasileiro.

O "gigante", ao menos na sua faceta estudantil, não acordou segundo especialistas ouvidos pelo UOL. A frase "o gigante acordou" foi bastante utilizada na época em referência ao despertar da consciência crítica dos brasileiros.

Para o mestre em história pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Célio Ricardo Tasinafo, não houve um despertar de consciência crítica porque as reivindicações ficaram lá no período das maiores manifestações e não tiveram continuidade ou outros desdobramentos concretos.

"Não estou desmerecendo a revogação do aumento da passagem [uma das pautas levantadas pelos manifestantes], mas depois de junho tivemos casos muito mais graves na política e não vimos grandes mobilizações", exemplifica Tasinafo se referindo ao julgamento do mensalão e à prisão do parlamentar Natan Donadon.

"O gigante acordou, mas as propostas depois de junho se tornaram tão amplas que acabaram se perdendo. Melhoria geral no ensino, ser contra corrupção, exigir hospitais no padrão Fifa são demandas vagas", acrescenta Tasinafo.

"A gente precisa ter projetos concretos de financiamento do ensino superior além do Fies, projetos que abordem a qualidade do ensino superior, que reforce que só o aumento de vagas e a garantia de bolsas não são suficientes."

Para o o professor Renato Cancian, doutor em ciências sociais pela UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), as manifestações que tomaram o país entre junho e agosto não podem sequer ser consideradas "estudantis".

"Embora os protestos de junho tenham sido protagonizados por jovens, essa categoria social saiu às ruas em sua condição de cidadãos, conscientes de seus direitos de cidadania", argumenta.

"O movimento estudantil é um movimento social protagonizado por jovens, na condição de estudantes, que se organizam a partir das organizações estudantis representativas, como DCEs (Diretórios Centrais Estudantis), UEEs (União Estadual dos Estudantes), UNE (União Nacional dos Estudantes), entre outros", define o professor Renato Cancian.

No Brasil, a UNE (União Nacional dos Estudantes), UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) e ANEL (Assembleia Nacional de Estudantes – Livre) são três das entidades mais conhecidas.

Um dos períodos mais simbólicos para os movimentos estudantis foi o de combate ao regime militar, segundo o historiador Tasinafo.

"O ano de 1968 foi bem representativo. No período, a UNE ganhou bastante destaque, mesmo enquanto agia na clandestinidade. Foi a mobilização popular mais simbólica e persistente que contou com grande ajuda dos estudantes.

 O problema foi que após o período a UNE foi perdendo força. Pra muitos, a UNE é lembrada hoje apenas como 'aquela' da carteirinha dos estudantes", lembra.

UNE, UBES e ANEL


  • A UNE (União Nacional dos Estudantes) surgiu no dia 11 de agosto de 1937 na Casa do Estudante do Brasil, no Rio de Janeiro, e passou a reunir e representar entidades ligadas a movimentos estudantis brasileiros. Atualmente, ela defende a ampliação para 10% do PIB (Produto Interno Bruto) em educação.
  • A UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) foi oficializada em julho de 1948, no 1° Congresso Nacional dos Estudantes Secundários, realizado no Rio de Janeiro. Uma de suas principais bandeiras é a reforma do ensino médio brasileiro.
  • A ANEL (Assembleia Nacional de Estudantes – Livre) foi fundada em 2009 em oposição a UNE, durante um Congresso Nacional de Estudantes, realizado no Rio de Janeiro. A entidade se diz independente política, ou seja, não aceita apoio de governos; e independente financeira, onde não aceita verbas de governos e nem de empresários.

Distanciamento de entidades estudantis


Na opinião do pesquisador Marcos Ribeiro Mesquita, o comportamento na participação em movimentos da juventude tem mudado com os anos.

De acordo com seu artigo "Movimento estudantil brasileiro: Práticas militantes na ótica dos Novos Movimentos Sociais", a mudança aconteceu porque a classe de estudantes se tornou mais plural e não se limitou às organizações estudantis. Além disso, a constituição de novos coletivos trouxe novidades em termos de organização, estimulando uma participação mais "democrática, autônoma e horizontalizada".

Célio Tasinafo acrescenta que no caso da UNE o afastamento de boa parte dos estudantes se deu pela aproximação da entidade com partidos políticos após a redemocratização do Brasil.

"Muitas das chapas que disputam sua presidência são compostas por integrantes de partidos. Outra coisa é que os jovens acabam reconhecendo ex-participantes da UNE que se tornaram políticos envolvidos com propinas e corrupção."

Grau de participação dos jovens e o que eles valorizam no Brasil


·         45%


A participação em mobilizações de rua e outras ações diretas foram mencionadas como as melhores formas de atuação que podem melhorar o Brasil

·         44%


Mencionaram que a atuação em associações ou coletivos que se organizam em prol de uma causa pode contribuir com o país

Um levantamento, sobre o perfil e opinião dos jovens brasileiros neste ano, finalizado um mês antes da onda de protestos ter início, já dava indícios do interesse da categoria em manifestações de ruas.

De acordo com a soma das opções mencionadas pelos entrevistados, com idade entre 15 e 29 anos, a participação em mobilizações de rua e outras ações diretas são as melhores formas de atuação que podem melhorar o Brasil (45%).

O estudo indica também que 44% dos participantes mencionaram que a atuação em associações ou coletivos que se organizam em prol de uma causa pode contribuir com o país.


Em relação às coisas que os jovens mais valorizam no Brasil, a 'possibilidade de estudo' foi a mais citada, com 63% da soma das menções. A 'liberdade de expressão' (55%) e 'estabilidade econômica' (46%) apareceram na segunda e terceira colocação, respectivamente.

Como desafios que o país precisa enfrentar, os jovens participantes citaram a melhorias na saúde da população (99%), na educação (98%) e redução do desemprego (95%).

HUMORNALISMO


Em Brasília, 11 da manhã. Na Praça dos Três Poderes, o sol implacável produz uma sombra dura, feia de ver na TV. Fernando Meirelles, meu parceiro na reportagem, tenta resolver o pepino apertando o botão da macro na câmera, um recurso que permite fazer o foco a poucos centímetros da lente.

Ele vira o visor para eu poder me ver. Estou com a famosa “cara de colher”, arredondada e deformada, como a arquitetura espacial de Oscar Niemeyer que reina ao fundo sobre o cerrado goiano. O feio vira engraçado.

Com o nariz praticamente colado no vidro da lente, inicio a gravação com um trecho do verbete “Política” do Dicionário Filosófico, de Voltaire, escrito em 1764.

 – Alô, senhores telespectadores, novamente com vocês o seu repórter Ernesto Varela... A política dos homens consiste em tentar se igualar aos animais, a quem a natureza deu alimentação, vestuário e moradia. Hoje, aqui em Brasília, eu vou falar com brasileiros que estão no poder e com os que querem chegar ao poder...

É setembro de 1985. A ditadura dá os últimos suspiros. Com o fracasso da aprovação de eleições diretas para presidente, os políticos disputam nos bastidores dos palácios a sucessão do general João Baptista Figueiredo.

 Este, o último da sequência de militares a ocupar a Presidência da República, não conseguiu emplacar o nome do candidato preferido dele:o gaúcho Mário Andreazza.

Quem conquistou, por insistência, o direito de representar o PDS – partido de apoio ao governo militar – foi Paulo Maluf. Engenheiro de formação, o empresário paulista virou político por apadrinhamento de Arthur da Costa e Silva, outro general-presidente da turma do golpe de 1964, de quem era amigo de jogar baralho.

Fogo amigo

 

Nessa manhã, um andar inteiro do Hotel San Marco está ocupado por assessores, cabos eleitorais e puxa-sacos de Maluf. O candidato se prepara para receber a imprensa sob bombardeio de fogo amigo.

Antigos aliados políticos da ditadura, como José Sarney e Antônio Carlos Magalhães, estão deixando o barco em direção à maré favorável do candidato da oposição, pero no mucho, Tancredo Neves. A temperatura do dia subiu ainda mais depois da publicação de uma singela declaração do cacique baiano ACM justificando a razão de não apoiar Maluf: porque “é um ladrão”.

A caminho do San Marco, Fernando e eu fazemos uma paradinha estratégica na padaria da rodoviária. O motivo é nobre: hoje, 3 de setembro, é aniversário de Paulo Maluf. Escolhemos no capricho um bolo bem colorido da vitrine para o doutor Paulo apagar suas bem vividas 54 velinhas.

A coletiva é aquela guerra de sempre. Repórteres movimentam os microfones para lá e para cá tentando fisgar alguma declaração bombástica do entrevistado que é liso como um lambari.

Estou acuado atrás do emaranhado de cabos, fotógrafos e repórteres. De repente, numa brecha, consigo deslizar o bolo sobre a bancada onde entrevistado e entrevistadores se digladiam.

Os coleguinhas e o próprio Maluf se calam surpresos com a aparição do objeto decorado com glacê azul que destoa redondamente da cena. São os três segundos mais constrangedores que eu já vivi. Ou melhor, em matéria de constrangimento, os minutos seguintes ganham de lavada.

Eu puxo um Parabéns a você, nesta data querida... Uma jornalista magrela de meia-idade rosna de raiva na minha orelha, disparando perguntas sem esperar pela resposta: De que emissora é você? Por que trouxe esse bolo? Você é do PDS?

A sequência de constrangimentos é crescente. Talvez movidos por hábito de infância, os profissionais da notícia abaixam os microfones e entoam um Parabéns a Você lúgubre para o candidato da ditadura, visivelmente contra a vontade deles.

Maluf dá uma gargalhada, agradece e tenta sair de fininho. Puxo o candidato pelo paletó e imploro por uma entrevista exclusiva. “Exclusiva não, só uma pergunta”, responde ele, lépido como sempre. Imploro, faço cara de choro: “Só uma é muito pouco, candidato!”

Ele eleva a voz com seu sotaque característico e assertividade de um feirante de Istambul: “Exclusivo, exclusivo, exclusivo... Só uma pergunta, só uma pergunta... E faça logo!”

Sem opção, disparo a pergunta que representa a dúvida cruel de toda uma nação: “Deputado, é verdade que o senhor é um ladrão?” Ele congela, me fuzila com os olhos e sai sem responder.

Entre bom senso e nonsense

O repórter ficcional Ernesto Varela nasceu em 1983, sem nenhum aviso dos céus. O anjo torto me colocou os óculos vermelhos na cara e um microfone na mão e disse: “Vai, Tas, ser gauche na vida, misturar o que não deve, humor e jornalismo”.

Depois da pequena TV Gazeta, onde estreei, passei pelas principais empresas de comunicação do país. Hoje, na cadeira central do CQC, na Band, ainda me surpreendo com as possibilidades infinitas e preciosas dessa mistura improvável.

Enquanto o jornalismo busca sem descanso o equilíbrio e a precisão, o humor é a celebração do improviso e do tombo desconcertante.

O jornalista é um buscador do bom senso, o humorista do nonsense. Por que naturezas aparentemente incongruentes resultam numa comunicação tão eficiente, que tem conquistado a atenção das recentes gerações? Eu não tenho a resposta para a pergunta, mas venho colecionando algumas pistas.

Desde a primeira temporada do CQC, em 2008, guardo com disciplina de soldado prussiano os comentários dos telespectadores via redes sociais. 

É importante aqui abrir um parêntese: nunca antes na história desse veículo – a TV – pudemos ouvir o que o cara de casa tem a dizer. Muita gente boa que faz TV até hoje prefere não ouvir. Eu, ao contrário, coleciono tudo o que o “da poltrona” fala sobre o CQC, sobre mim ou minhas atividades profissionais. Fecho o parêntese.

Certo tipo de comentário frequente começou a me chamar a atenção ainda no início do projeto. Ele pode ser resumido num post de Isabela Santos, publicado no Twitter, durante o programa no dia 7 de setembro de 2009:

“Não gosto muito de jornal, depois que o CQC começou a mostrar os fatos do Brasil de forma diferente, voltei a me informar mais!”

Primeira informação relevante: tem gente vendo o CQC como um programa jornalístico, como fonte primária de informação.

Segunda: o que atrai nossa jovem telespectadora é que mostramos os fatos de maneira diferente. Diferente como? Misturando humor e jornalismo. Terceira: isso faz com que ela volte a se interessar pelo noticiário por meio de outras fontes de informação. Ufa, que alívio!

Nunca defendi, nem defendo aqui, a tese de que misturar humor e jornalismo seja a melhor maneira de contar uma história.

Na verdade, devo confessar que, quando iniciei a história do Ernesto Varela, com minha turminha lá nos anos 80, ninguém tinha pretensão de fazer humor nem jornalismo. Nossa ambição era muito maior: revolucionar a televisão do terceiro milênio! Tal meta estava escrita com letras garrafais num livrão preto que servia como nosso diário coletivo.

Uma ilha na mão

A Olhar Eletrônico Vídeo, nossa razão social, já tinha papel timbrado, cozinha comunitária, prática matinal de tai chi chuan e até gente morando junto em um dos quartos da casa que servia de sede da empresa.

Éramos universitários recém-formados ou desistentes do diploma, entre os 18 e os 20 e poucos anos, oriundos de cantos diversos: arquitetos, psicólogos, atores, engenheiros, jornalistas, fotógrafos e até gente do curso recém-fundado de Rádio e TV.

Em um dos cômodos, em meio a muita coisa hippie e “alternativa” – palavra muito valorizada na época –, ficavam as armas de guerra letais com a quais preparávamos a nossa revolução: a câmera portátil e a ilha de edição.

É difícil hoje dar a dimensão da importância de uma câmera de vídeo e uma ilha de edição na mão de uma molecada no início de anos 80.

Hoje, qualquer celular tem isso dentro. Até então, quem detinha o privilégio da posse das primeiras câmeras portáteis com gravadores de fita U-matic e de aparelhos para editar as imagens eram as emissoras de TV. E mais ninguém.

Antes de humor ou jornalismo, o interesse primordial da Olhar Eletrônico era explorar novas linguagens para contar nossas próprias histórias usando os recursos da manipulação eletrônica de imagens.

Era uma forma muito mais ágil e divertida que a utilizada pelo pessoal do cinema, que observava nosso entusiasmo com um olhar torto e desconfiado.

Particularmente, a ilha de edição representava um cruzamento sexy entre duas máquinas que eu utilizava muito na época: a calculadora (cursava engenharia simultaneamente com jornalismo) e o videogame. Foi amor à primeira vista.

Na Olhar, todo mundo fazia de tudo: da direção da Kombi à direção do programa na TV, passando pela fotografia, edição, texto e limpeza da cozinha. Curiosamente, a única tarefa que ninguém encarava bem era aparecer na frente da câmera. Por isso, na função havia um revezamento como nas peladas quando ninguém quer ficar mofando no gol.

Repórter ingênuo

Em uma das minhas vezes de ser o “goleiro”, surgiu o Varela. Chovia na cidade de Santos e não havia o que fazer até a hora de gravar o show de Itamar Assumpção, nossa missão principal na cidade.

Na praia, um relógio público quebrado mostrava a temperatura de 68 graus. Diante da imagem inusitada, fui para a frente da câmera e usei uma voz diferente da minha, pausada, um modo propositalmente desajeitado para disfarçar a timidez e… Pimba!

Surgiu no vídeo uma figura bastante diferente de mim. O pessoal riu e foi um grande alívio. Era melhor ser outro do que eu mesmo diante da máquina cruel de destruir espontaneidade chamada câmera de TV.

Voltamos para São Paulo e a brincadeira ingênua virou um quadro de humor do programa. Toniko Melo, o câmera e meu parceiro na brincadeira, colou uma vinheta com letras nervosas: “Santos Urgente!” e uma trilha sonora vibrante de breaking news do tipo “Plantão” da Globo.

O ar de credibilidade jornalística era imediatamente quebrado pelo repórter ingênuo diante do relógio quebrado na praia.

– Estranha variação climática na cidade de Santos: 68 graus!

Nos meus estudos de formação (ou deformação?) como comunicador, virei devoto de uma trinca de pensadores que geralmente não estão no currículo das escolas de jornalismo: Bergson, Freud e Nietzsche.

O primeiro diz algo extremamente vasto e importante: não há comicidade fora do humano. Ou seja, ninguém acha graça numa paisagem ou num animal – a não ser que reconheça neles alguma expressão humana.

Em seu ensaio O Riso (Martins, 2001), o francês Henri Bergson ainda lança uma definição preciosa sobre o significado da risada: o contato entre inteligências.

Para ele, o riso sinaliza o instante exato quando entendemos alguma coisa de um jeito como nunca havíamos pensado antes. Graças ao Bergson, aprendi que a risada, o hahaha, é o ruído da ficha caindo. Ahhhh... Entendi!!!

Com sua lâmina afiada, Sigmund Freud fez uma anatomia preciosa do humor em seu livro Jokes and Their Relation to the Unconscious (‘Os Chistes e Sua Relação com o Inconsciente’ faz parte da Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Freud. Rio de Janeiro, Imago, 1980, volume 8).

O mestre da psicanálise valoriza humoristas como agentes sociais. Em poucas linhas, escreve o que seriam, segundo ele, os dois únicos objetivos do humor: a sátira, que serve ao propósito de crítica ao poder, e a piada obscena, que serve para a exposição do sujeito criticado.

E completa com precisão: é desnecessário teorizar sobre limites ou outras metas para o humor, já que o prazer proporcionado pela graça já é suficiente para justificar o trabalho do comediante.

Se esse pequeno livro de Freud fosse mais conhecido, creio que muita tinta seria economizada nos rasos e chatíssimos debates sobre “os limites do humor” que infestaram o Brasil nos anos recentes.

Desde a Idade Média, sabe-se que a arte do bobo da corte é criticar o rei sem que este perceba, ou, caso perceba, o prazer da diversão o desestimule a cortar a cabeça do bufão. Está na hora de a lição de Freud ser assimilada.

O humorista é um agente de saúde com uma função social: nos lembrar de que somos precários e imperfeitos. Se muita gente insiste em querer viver em um mundo perfeitinho, problema deles.

O comediante não pode virar um chato resmungão, assumindo o papel confortável de vítima desse sistema doente. Deve se livrar dessa cilada com a sua arte: encantando, criticando e dando um nó na cabeça do rei com humor afiado.

Já Friedrich Nietzsche, o filósofo alemão, desce o seu vigoroso martelo numa caixa de marimbondos ainda mais polêmicos e perigosos.

Para ele, o que chamamos de “verdade” é apenas um garantidor do convívio social, uma arma de domesticação da massa.

Segundo Nietzsche, a origem da palavra verdade é enganosa e foi criada como ferramenta de poder. Talvez por influência do alemão bigodudo, nunca me senti à vontade com a ideia de que jornalista publica a verdade sobre as coisas.

Prefiro realidade e mesmo assim penso que deve ser um conceito relativizado e debatido até cientificamente. O que é a realidade? Isso que imaginamos captar com nossos olhos e audição precários? A realidade existe? Sou um daqueles que acreditam existir mais realidade em um filme de Fellini ou em um romance de Dostoiévski que em uma notícia de jornal.

Pecados mortais

Essa trinca de pensadores mais o meu amado iluminista Voltaire, um grande humorista, me ofereceram munição farta para cutucar os limites da realidade com a ficção, do humor com o jornalismo.

Creio que no atrito desses mundos que aparentemente não se tocam surgem brechas para o exercício da dúvida e do olhar crítico, combustíveis essenciais e comuns a ambas as atividades: a do jornalista e a do humorista.

Agradeço a companhia de quem chegou até aqui neste longo texto e finalizo dizendo que o humor não é uma obrigação nem uma oposição ao jornalismo.

Enquanto, para o comediante, o humor é uma virtude absolutamente necessária, para o jornalista, é apenas uma qualidade possível como a beleza.

Assim como ninguém precisa ser o Brad Pitt para ser jornalista, também não precisa ser o Seinfield, o Woody Allen ou o Tiririca. Jornalista pode ser feio, sem graça, lindo ou hilário. Para ser jornalista ou humorista, a pessoa só não pode cometer dois pecados mortais: não saber reconhecer seus erros e não rir de si mesmo. O resto, enquanto houver diversão e descoberta, está valendo. (Por Marcelo Tas, jornalista e âncora do CQC, na Rede Bandeirantes. Publicado originalmente no Observatório da Imprensa. Reproduzido da Revista de Jornalismo ESPM nº 6, jul/ago/set 2013 e agora, aqui).

ORIGENS DA IDEOLOGIA ANARQUISTA

(Renato Cancian, Especial na Página 3 Pedagogia & Comunicação do UOL e aqui) – A palavra anarquismo tem origem no termo grego ánarkhos, cujo significado é, aproximadamente, "sem governo". O anarquismo é frequentemente apontado como uma ideologia negadora dos valores sociais e políticos prevalecentes no mundo moderno: o Estado laico, a lei, a ordem, a religião, a propriedade privada etc.

De fato, como ideologia libertária e profundamente individualista, o anarquismo defende a ruptura com todas as formas de autoridade política e religiosa, a propriedade privada e quaisquer outros tipos de normas institucionais que cerceiem a liberdade do indivíduo em sociedade e na esfera da vida privada.

Anarquismo e comunidade fraterna

As doutrinas de inspiração anarquista defendem a ideia de que a supressão de todas as formas de dominação e opressão vigentes na sociedade moderna daria lugar a uma comunidade mais fraterna e igualitária. Mas a igualdade e a solidariedade comunitária seriam resultados de um esforço individual a partir de um árduo trabalho de conscientização.

Os movimentos anarquistas do século 20 promoveram a criação de núcleos comunitários denominados de "ateneus", para onde eram encaminhados os adeptos desta ideologia e que servia de aprendizagem e aperfeiçoamento intelectual. No Brasil, a primeira experiência desse tipo foi a criação da Colônia Cecília, em 1890, que foi dirigida por imigrantes italianos.


Origens do anarquismo

Não há consenso entre os historiadores sobre as origens da ideologia anarquista. Mas é possível afirmar que alguns pensadores e teóricos, como o inglês William Godwin, que em 1793 publicou o livro "Enquiry Concerning Political Justice" (cuja tradução é Indagação relativa à justiça política), o francês Pierre-Joseph Proudhon, que em 1840 publicou "Qu'est-ce que la propriété?" (cuja tradução é Que é a propriedade?), e o alemão Max Stirner, que publicou "Der Einzige und sein Eigentum" (cuja tradução é O indivíduo e sua propriedade), influenciaram decisivamente o conteúdo da ideologia anarquista.

O anarquismo influenciou importantes movimentos sociais no transcurso do século 19 até a metade do século 20.


Movimentos anarquistas

A crítica da propriedade privada e do Estado burguês feita pelos ideólogos anarquistas resultou no desenvolvimento do trabalho de conscientização e mobilização das massas proletárias (ou seja, o operariado).

Em muitos aspectos, a ideologia anarquista se assemelhava à ideologia socialista - principalmente no tocante a luta de classes, a defesa das classes oprimidas, a crítica da propriedade privada, da sociedade e do Estado burguês. Por conta disso, durante décadas os anarquistas e os comunistas se aliaram na organização dos movimentos revolucionários.

Na Europa do século 19, destacou-se o trabalho do intelectual e revolucionário russo
Mikhail Bakunin, responsável pela sistematização de muitos princípios, ideias e valores que vão compor a ideologia anarquista. Bakunin inspirou inúmeros movimentos anarquistas por todo o continente.

Anarquismo no Brasil

No Brasil, a ideologia anarquista foi introduzida pelos imigrantes europeus, principalmente os italianos e espanhóis. Os anarquistas foram os responsáveis pela organização dos primeiros movimentos operários e sindicatos trabalhistas autônomos. Eles lideraram as greves de 1917, 1918 e 1919, ocorridas em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Entre os militantes anarquistas brasileiros, destacam-se o jornalista Edgard Leuenroth, o filólogo e professor José Oiticica e o intelectual Neno Vasco. A partir da década de 1920, os anarquistas progressivamente se afastam dos socialistas e, cada vez mais, perdem influência social e política. Após a
Segunda Guerra Mundial, a ideologia anarquista entra em declínio em praticamente todos os países.

Renato Cancian, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação é cientista social, mestre em sociologia política e doutorando em ciências sociais. É autor do livro "Comissão Justiça e Paz de São Paulo: Gênese e Atuação Política - 1972-1985". (UOL  Educação)

 

OS 50 ANOS DO GOLPE MILITAR

Está aberta a chamada para submissão de trabalhos ao 5º Encontro Regional Sul de História da Mídia – Alcar Sul 2014. O evento acontecerá nos dias 27 e 28 de março na Universidade Federal de Santa Catarina em Florianópolis e terá como tema 50 anos do Golpe Militar de 64 – A história que a mídia faz, conta ou não conta.

No site do evento alcarsul2014.sites.ufsc.br já podem acessar a chamada de trabalhos e a programação completa ainda em fase de organização e confirmações. Nos próximos dias, também já estarão disponíveis as inscrições gerais e orientações para os pagamentos das taxas.

A promoção é da Associação Brasileira de Pesquisadores de História da Mídia (Alcar), com realização do Jornalismo da UFSC ( Departamento e Curso de Jornalismo e PosJor – Programa de Pós Graduação em Jornalismo).

Poderão ser inscritos nos Grupos Temáticos artigos elaborados por docentes, pesquisadores e/ou estudantes de pós-graduação; trabalhos produzidos por estudantes dos cursos de graduação, em co-autoria com seus orientadores; textos produzidos pelos profissionais ou empresários que atuaram como testemunhas oculares da história da mídia ou das respectivas profissões.

A submissão de trabalhos inicia neste 16 de dezembro de 2013 e vai até 26 de janeiro de 2014.Inscrições gerais (sem apresentação de trabalho) serão de 16 de dezembro de 2013 a 10 de março de 2014. Para outras informações acesse: alcarsul2014.sites.ufsc.br

CHAMADA PARA SUBMISSÃO DE TRABALHOS: http://alcarsul2014.sites.ufsc.br/inscricao/submissao-de-trabalhos/

5º Encontro Regional Sul de História da Mídia - ALCAR SUL 2014
Tema geral : 50 anos do Golpe Militar de 64 – A história que a mídia faz, conta ou não conta
Promoção: Associação Brasileira de Pesquisadores de História da Mídia (Alcar), em parceria com a Universidade Federal de Santa CatarinaPoderão inscrever-se nos Grupos Temáticos as seguintes modalidades de trabalhos:

a) Artigos escritos por docentes, pesquisadores e/ou estudantes de pós-graduação;

b) Trabalhos produzidos por estudantes dos cursos de graduação, em co-autoria com os respectivos orientadores;

c) Textos produzidos pelos profissionais ou empresários que atuaram como testemunhas oculares da história da mídia ou das respectivas profissões.

 CALENDÁRIO DE INSCRIÇÕES

16 de DEZEMBRO de 2013 a 26 de JANEIRO de 2014

Envio dos aceitesaté 31 de JANEIRO de 2014

Confirmação e pagamento da inscrição para apresentação de trabalho e inclusão na programação e nos Anais do evento: até 28 DE FEVEREIRO de 2014

Inscrições gerais (sem apresentação de trabalho): 16 de DEZEMBRO de 2013 a 10 de MARÇO de 2014

Os textos completos, segundo normas editoriais do evento, deverão ser enviados para o endereço eletrônico do(s) coordenador(es) do GT a que se destina, aguardando confirmação de recebimento. Estes arquivos deverão ser enviados simultaneamente para os e-mails do(s) coordenador(s) e o e-mail da coordenação científica: comitecientificoalcarsul2014@gmail.com

Os aceites serão enviados na medida em que os trabalhos forem sendo avaliados pelos coordenadores e/ou pareceristas.


Importante: O recebimento, a avaliação e a aprovação de trabalhos submetidos aos GTs não ficam condicionados à inscrição no evento. Entretanto, só poderão participar do evento, apresentar paper no GT, receber certificados e constar nos anais, trabalhos cujos pesquisadores comprovarem a inscrição e o pagamento da respectiva taxa. 


NORMAS EDITORIAIS

O trabalho deve conter:

Título: em negrito, fonte Times New Roman, 14, centralizado. Incluir nota de rodapé informando em qual GT o trabalho será apresentado.

Autor(es): último sobrenome em maiúsculas, titulação ou graduação, identificação da instituição e unidade de federação – em Times New Roman, 12, centralizado, duas linhas após o título. Incluir nota de rodapé com breve currículo do autor e endereço eletrônico.

Resumo: entre 10 e 15 linhas, deve ser formatado em fonte Times New Roman, 10, justificado, entrelinhamento simples.

Palavras-chave: o resumo deve ser seguido por, pelo menos, três palavras-chave, sendo a primeira ancorada na temática do respectivo GT e as demais especificando sub-áreas temáticas ou interfaces disciplinares.

Texto: alinhamento justificado; fonte Times New Roman, tamanho 12; espaço entrelinhas de 1,5, margem superior/inferior e esquerda/direita 3 cm, de 10 a 15 páginas, incluindo bibliografia.

Referências: conforme norma da ABNT

Atenção: clique aqui para baixar o modelo de submissão de trabalho.

Informações importantes:

1) Os textos completos devem ser salvos em formato .pdf e ter como título o GT específico, nome e sobrenome do autor (por exemplo, gtjornalismo_joao_cunha). Os textos completos devem ser enviados para o e-mail do coordenador do Grupo Temático respectivo, com cópia para  comitecientificoalcarsul2014@gmail.com.

2) Os autores devem aguardar resposta de confirmação do recebimento pelo respectivo coordenador.

3) Na ausência de resposta imediata, recomenda-se fazer nova remessa, para evitar problemas de extravio.

4) Os coordenadores de grupos temáticos somente incluirão no programa do evento e os organizadores locais somente publicarão nos Anais Eletrônicos aqueles trabalhos cujos autores estiverem formalmente inscritos.

5) Cada autor só pode submeter um trabalho como autor principal e, no máximo, dois trabalhos como autor secundário.

  • São considerados autores principais: graduados, especialistas, mestrandos, mestres, doutorandos, doutores e pós-doutores.
  • Os graduandos só podem inscrever trabalhos em co-autoria com seus respectivos orientadores.

6) Os trabalhos devem ter o número máximo de 5 (cinco) autores (autor principal + co-autores).

GRUPOS TEMÁTICOS (GTs) E COORDENADORES DO 5º ALCAR SUL

História do Jornalismo

Coordenador: Prof. Dr. Márcio Fernandes (Unicentro/PR) - marciorf@globo.com
Ementa: História do jornalismo: aspectos teóricos e conceituais. Estudos de jornalismo: aspectos históricos. Os jornais como lugares de construção historiográfica. Os jornais como objeto de estudos históricos. Aspectos da conformação do campo profissional. A trajetória histórica do jornalismo e dos jornalistas no Brasil. Estudos de caso referentes a espaços sociais e veículos determinados. Os jornais como fonte historiográfica.

História da Publicidade e da Comunicação Institucional

Coordenador: Prof. Dr. Clóvis Reis (FURB) – clovis@furb.br
Ementa: Estuda a história e os processos de comunicação e de relacionamento, internos e mercadológicos, estabelecidos entre as instituições, públicas, privadas e não governamentais, e seus diferentes públicos. Contempla aspectos teóricos, técnicos e práticos da publicidade e propaganda e da comunicação institucional, inclusive os ligados ao ensino e à pesquisa, bem como as suas interfaces com as mais variadas ciências. Trata das questões epistemológicas, culturais, ideológicas, éticas, estratégicas e de gestão do campo, bem como das múltiplas linguagens, estéticas, mídias, profissões e da organização do trabalho.

História da Mídia Digital

Coordenadora:  Sandra Rubia da Silva (UFSM) - sandraxrubia@gmail.com
Ementa: O objetivo é construir a memória dos conteúdos digitais disseminados por intermédio da mídia on-line (redes de computadores), off-line (CD-ROM, DVD) e por dispositivos de comunicação sem fio como celular e assistente digital pessoal (Personal Digital Assistant – PDA), revelando processos, formas, técnicas e experiências precursoras desse novo sistema de comunicação social.

História da Mídia Impressa

Coordenadora: Prof. Dra Rosemeri Laurindo (FURB) – roselaurindo@gmail.com
Ementa: Aborda a história da imprensa como mídia (massiva, erudita ou popular), valorizando sua relevância como mais antigo suporte industrial da informação no Brasil. O grupo tem recebido predominantemente trabalhos sobre a produção, a edição e a leitura de jornais, mas está aberto aos estudos sobre revistas, livros, volantes, enfim sobre os processos comunicacionais que fluem através dos impressos brasileiros.

História da Mídia Sonora

Coordenadora: Valci Zuculoto (UFSC) - valzuculoto@hotmail.com
Ementa: O grupo abrange trabalhos de pesquisas históricas sobre o rádio ou outros suportes que trazem a linguagem do áudio. Estuda-se a especificidade da linguagem, dos formatos, dos gêneros, da tecnologia, dos efeitos na recepção e busca-se resgatar personagens, programas, sonoridades ou a cobertura de episódios que marcaram a vida da sociedade brasileira, valorizando a diversidade regional.

História da Mídia Audiovisual e Visual

Coordenador:  Prof. Dr. Flavi Lisboa (UFSM) – flavilisboa@gmail.com 
Ementa: Resgatar, sistematizar e debater a história de temas e processos pertencentes à comunicação audiovisual (cinema, televisão, vídeo e outras mídias que combinem palavra, imagem e som) e pictórica (quadrinhos, cartuns, fotografias, cartazes e congêneres). O grupo acolhe reflexões desde o advento dessas formas de representação até os dias atuais, no cenário brasileiro e em estudos comparativos com o cenário internacional. Busca ainda focalizar os processos midiáticos e retratar personagens pioneiras e suas descobertas.

História da Mídia Alternativa

Coordenadora: Karina Janz Woitowicz (UEPG) - karinajw@hotmail.com
Ementa: A presença de veículos alternativos (impressos, sonoros, audiovisuais e on-line) na história da comunicação, compreendendo os seguintes enfoques: mídia alternativa em tempos de repressão; mídia nos movimentos de resistência; comunicação nas organizações populares; mídia e minorias representativas; demais formatos e alternativas de produção popular/comunitária/independente. As pesquisas envolvem a memória dos meios alternativos, sua participação em determinado período histórico, características da mídia alternativa e abordagens teórico-concei tuais sobre o tema.

Historiografia da Mídia
Coordenadora:
Prof. Dra. Aline Strelow (UFRGS) – 
alinestrelow@terra.com.br
Ementa: O objetivo deste GT é discutir temáticas que problematizem a produção do conhecimento contemporâneo na interseção entre mídia e história. Dois aspectos fundamentais: a escrita histórica contemporânea em sua relação com a escrita midiática e a produção de história, memória e esquecimento a partir dos meios de comunicação. Investiga-se também a produção do acontecimento histórico/memorável na relação mídia e história; temporalidade e meios de comunicação; hermenêutica histórica e mídia; memória e meios de comunicação, narrativa da história e narrativa da mídia, a história como produto midiático; escrita midiática como escrita da história; o passado como objeto dos meios de comunicação.

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