AS
PALAVRAS
“A criatividade é algo assim como a capacidade de olhar a mesma coisa que os
demais, mas fazê-lo vendo algo diferente ou vendo com outros olhos ou olhando
com olhos maiores.” (Oscar Malfitano Cayuela e Emiliano Ricardo
Cayuela)
TEM COISA
AÍ!
Primeiro, foi o Estadão que deu uma enxugada.
Depois, o Valor Econômico. Terça-feira
que vem será a Folha de S. Paulo. E tem a Abril, que reestruturou suas unidades
de negócio, botou sete diretores na rua e embora não confirme deixas rolar
rumores de que extinguirá diversos títulos e fará demissões.
Se você quiser entender um pouco melhor o que está
acontecendo com a mídia impressa, de uma lida no artigo Jornalismo Patrocinado,
assinado por Álvaro Pereira Júnior e publicado na Folha de S. Paulo de ontem.
Bruno Possidonio, aluno da sétima fase do Curso de Comunicação da
Unisul, acaba de criar a Div64, empresa de desenvolvimento de sistemas,
dedicada à produção de websites, front-ends e hospedagem. Qualquer problema
nessa área, fale com ele. Eu assino embaixo. O endereço é div64.com; ou bruno@div64.con, fone (48) 9113.8222.
SEMANA
RUIM
Uma chuva de mensagens publicitárias encheu a
paciência do consumidor esta semana. Entre elas:
. Comercial de Kero Coco, Deus me livre.
. Anúncio da Seara, um horror.
. Anúncio Fiat, uma agressão ao bom gosto.
. Anúncio Corporaterun, uma baita confusão.
Anunciante
que maltrata o consumidor com publicidade
ruim devia pagar multa.
VAI
ENTENDER
Saúde de mal a pior. Violência que não para de
crescer. Inflação em alta. E o povo continua dizendo que Dilma faz um bom
governo.
COISA
RIDÍCULA
Aquela caminhadinha que os apresentadores do Bom Dia
Brasil dão enquanto falam com o telespectador, é o fim da picada. Coisa de
amador.
E O PAÍS
QUE SE DANE
O Congresso nacional aprovou a instalação de quatrro
tribunais regionais, o que poderá onerar o país em R$ 8 bilhões. Aprovou também
a criação de novos municípios, onerando em mais um bilhão. Gente, realmente,
preocupada com o Brasil.
CONAR
PUNE A VIVO
Plágio ou coincidência? Vez ou outra pintam peças
parecidas de dois clientes eagências diferentes na
publicidade. O fato pode ser encarado com certa naturalidade quando a ideia é
parecida, já que todo trabalho parte de uma referência. Entretanto, a situação
fica mais tensa quando as semelhanças são muito fortes e evidentes e o segmento
de atuação das marcas é o mesmo.
O Conar (Conselho Nacional de
Autorregulamentação Publicitária) acatou a denúncia da TIM contra a operadora
Vivo, com relação a uma campanha publicitária veiculada este ano. Por maioria
dos votos, a empresa foi punida com a sustação de uma de suas peças, voltada
para planos empresariais.
Entretanto, de acordo com o comunicado da Vivo,
encaminhado para a Redação do Adnews, o veto não foi causado com o argumento de
plágio. "A suspensão da campanha, na verdade, foi justificada pelo Conar
pela possibilidade de “permitir confusão” junto aos consumidores, em virtude de
semelhança de campanhas usadas em período de tempo muito próximo e de empresas
que disputam o mesmo mercado".
De fato, as duas peças usam um recurso visual parecido. O
processo foi arquivado em primeira instância, mas a TIM recorreu e na
última reunião do conselho, o Conar recomendou sustação da propaganda. A Vivo
também informou que o caso ainda não está finalizado pelo Conar e que
estuda recorrer da decisão.( Redação Adnews, com informações da Exame.com.
Atenção,
jornalistas: a língua portuguesa está chorando de tanto apanhar de vocês.
CIRCULANDO NA INTERNET
1. Será a BURRICE
uma CIÊNCIA?
Então VEJAMOS:
- Se atravessares a fronteira da Coreia do Norte
ilegalmente, és condenado a 12 anos de trabalhos forçados.
- Se atravessares a fronteira do Irã ilegalmente, és detido sem limite de prazo. - Se atravessares a fronteira do Afeganistão ilegalmente, és alvejado. - Se atravessares a fronteira da Arábia Saudita ilegalmente, serás preso. - Se atravessares a fronteira Chinesa ilegalmente, nunca mais ninguém ouvirá falar de ti. - Se atravessares a fronteira Venezuelana, serás considerado um espião a serviço dos EUA e o teu destino está traçado. - Se atravessares a fronteira CUBANA ilegalmente, serás colocado no paredão e fuzilado
- Se atravessares a fronteira AMERICANA ilegalmente
serás preso e deportado para seu país.
MAS SE ATRAVESSARES POR ALGUMA FRONTEIRA DO BRASIL, ILEGALMENTE, RECEBERÁS:
- Um abrigo...
- Um trabalho... - Carta de motorista... - Cartão Cidadão (INSS) de Saúde... - Segurança Social... - Crédito Familiar... - Cartões de Crédito... - Renda de casa subsidiada CDHU ou empréstimo bancário para a sua compra... - Escolaridade gratuita... - Serviço Nacional de Saúde gratuito... - Chance de um emprego no governo federal...
- Um representante no Parlamento...
- Podes votar, e mesmo concorrer a um cargo público... - Ou mesmo fundares o teu próprio partido político!
E por último, mas não menos importante:
- Podes manifestar-te nas ruas e até queimar a nossa
bandeira!
Mas... se eu quiser impedir, serei
considerado politicamente incorreto!
Sem dúvida que parece irreal, mas é a mais pura das verdades!
2. A
decadência do gosto
Aluízio
Batista de Amorim
Num desses finais de semana ensolarado que já ensaia o verão fui à Lagoa da Conceição em busca de um bom café, aproveitando o trajeto para escutar um CD reunindo Herbie Mann, João Gilberto e Tom Jobin. Bossa nova da boa, da pura, mas que se consegue comprar somente na Europa, EUA e Japão. Já estacionado defronte ao café, divisei duas moças numa das mesas do lado de fora que, possivelmente, tinham idade de no máximo 30 anos. Então arrisquei. Abri a porta, aumentei o volume e deixei rolar "Samba de uma Nota Só", na voz de seu autor, o próprio Tom, em inglês, tendo ao fundo uma banda afinadíssima, que permitia o destaque para os fraseados soprados pelo competentíssimo flautista Herbie Mann. Na verdade, queria ver se esse tipo de música era capaz de sensibilizar duas mulheres jovens que jogavam conversa fora na mesa de um café, e que cujas idades sugeriam que, à época do auge da bossa nova, talvez nem fossem nascidas. Para surpresa deste escriba, as duas abriram um sorriso indicando que anuíam ao som que saía do meu carro. Além disso, com um meneio de cabeça, marcavam o incofundível sincopado da bossa. A reação de ambas corroborou aquilo que pensava naquele momento. O que é arte cativa todas as idades e todas as gerações. Mas se não me dou com freqüência a viagens internacionais e reluto em comprar pela internet, não tenho acesso ao que de melhor se produziu de música popular no Brasil. Sim, é isto mesmo. Aliás, nem os discos do nosso saudoso Luiz Henrique Rosa são encontrados por aqui, mas são oferecidos nas melhores lojas e sites de música dos EUA e Japão. Refiro-me à produção musical brasileira dos anos 60. Mas a tecnologia permite que os milagres da remasterização resgatem as preciosidades daquela revolução musical, comprimindo-as num CD capaz de rodar no player do meu carro. Estou, evidentemente, falando da bossa nova e refutando desde já a acusação de nostálgico. Até porque a bossa continua sendo gravada mundo à fora. Menos no Brasil, é claro. Artistas como a canadense Diana Krall, ou o norte-americano John Pizzarelli, por exemplo, incluem bossa nova nos seus últimos discos. Experimente entrar num desses sites de música norte-americanos e você verá como há regravações recentes daquilo que foi produzido especialmente nos anos de 1960 a 1964. COÁGULO DE EMOÇÃO - No terreno da arte, seja ela musical, pictórica ou literária, não há nostalgia. A obra de arte verdadeira arte é insuperável, ao contrário da ciência que, obrigatoriamente, tem de se superar para o conhecimento avançar. É a ciência moderna que colocou na mente humana a noção de progresso. Mas a obra de arte não precisa progredir, se reinventar. Ela é "poiési" (do grego), ou seja, ato de criação da mente humana, diferentemente das coisas que nos cercam, do cosmo e seus mistérios, daquilo que se dá ao meu sentido sem a minha interferência. Arrisco um conceito: "a arte é um coágulo de emoção". Transita na esfera da pura irracionalidade, ou seja, da emoção, repousando no plano da estética. Esta circunscreve-se à parte da filosofia que se ocupa do belo. O deslumbramento humano com a beleza resulta, primordialmente, do fato de que o belo está inextrincavelmente vinculado à liberdade. O belo é corolário da liberdade. E vice-versa. Um ambiente politicamente repressivo (estética na política) impede a liberdade e, por isso mesmo, paralisa a criação artística ou, no mínimo, dificulta a sua prática. DECADÊNCIA DO GOSTO - Um olhar sobre a história recente do Brasil, permite que se elabore uma crítica da cultura a partir da constatação de que se verifica a dominância de um ambiente cultural marcado pela "decadência do gosto". E gosto se discute, sim, a partir do conceito de arte que alinhei acima. Tomo a música popular brasileira para construir estas reflexões, já que este pequeno ensaio poderia partir de uma crítica da arte literária, por exemplo. A década de 60 foi talvez o interregno mais generoso na produção cultural da história do Brasil. Pode se comparar ao movimento que inaugurou a denominada "arte moderna", e que culminou com a célebre "Semana de 22". A bossa nova sacudiu o ambiente cultural do País. Até o surgimento desse extraordinário movimento musical, o que se ouvia eram aqueles bolerões lamuriantes que evocavam tragédias amorosas, no estilo de O Ébrio, na voz cavernosa de Vicente Celestino. A bossa nova conseguiu soprar o mofo da produção musical brasileira e não apenas modernizou a nossa música. Promoveu uma verdadeira revolução. Trocou os versos forjados no bas fond, que carregavam uma visão de mundo equivocada e atrasada, por uma poesia mais leve, mais solta mais liberta das teias de um passado barroco, escravocrata e colonial. Isto sem falar na batida diferente e na riqueza e dissonância da harmonia, que permitiam, pela primeira vez, o improviso e a originalidade dos fraseados musicais ligeiros e surpreendentes, como o sibilar da flauta do saudoso Herbie Mann, um músico norte-americano, recentemente falecido, e que se apaixonou pela bossa nova. O FINO DA BOSSA - A bossa nova teve um papel que ultrapassa o âmbito musical para atingir a esfera política. Pela primeira vez, os EUA passaram a comprar a nossa música não pelo exotismo carnavalesco de Carmen Miranda ou de vocalistas com sombreros e camisas floreadas, como observa o jornalista e escritor Ruy Castro (Chega de Saudade A história e as histórias da bossa nova e A onda que se ergueu no mar Novos mergulhos na bossa nova). A bossa foi capaz de esclarecer melhor o fato de que a capital do Brasil não é Buenos Aires e de que por aqui sabemos mais do que tocar tambor e sambar. Ao mesmo tempo em que a bossa se impunha e avançava para os EUA e o resto do mundo, dominando o cenário da música popular internacional, tínhamos também o "cinema novo", o teatro de vanguarda, enfim, uma efervescência cultural extraordinária. Com o golpe civil/militar de 1964, e com imposição da censura à imprensa e às artes em geral, o Brasil começou a fazer o caminho de volta para o passado. É mais ou menos nessa época que se inicia o processo de "decadência do gosto". Saem Tom Jobim e Vinícios de Moraes, entram Dom e Ravel. Enquanto opositores do regime eram torturados nos calabouços da ditadura, entre eles artistas, repetia-se, à exaustão, no rádio e na TV o refrão: "Você também é responsável", através do esganiçado dueto de Dom e Ravel. Nos anos 60, a televisão dedicava um espaço generoso no horário nobre para o programa "O Fino da Bossa", onde se apresentavam gente como Tom Jobin, Vinícios de Moraes, os Cariocas, Tamba Trio, Roberto Menescal, Carlos Lira e também músicos de jazz. Naquela época, duplas sertanejas estavam confinadas em horários que não poderiam ultrapassar às 6 horas da manhã. Hoje nos melhores horários, a TV exibe, sem qualquer pudor, duplas sertanejas, pagodes e o sapateado frenético de mulheres seminuas, onde o grotesco toma o lugar do erótico. UM INSTANTE, MAESTRO Naquela época, o rádio, que era mais influente, mantinha muitos programas denominados "parada de sucessos", com as dez músicas mais vendidas. Disputavam os primeiros lugares, de igual para igual, Tom Jobin, Jorge Ben, Tamba Trio, Frank Sinatra, The Beatles, Roling Stones, Ray Charles, entre outros. Sim, eram esses os artistas que despontavam nos programas musicais radiofônicos (leia-se populares) do Brasil nessa época dourada. Ouvia-se no rádio os famosos standards americanos, o melhor do rock e, claro, bossa nova. A televisão ainda não havia alcançado as dimensões de hoje e só era captada nos grandes centros. Mas mesmo os programas de auditório, no estilo de Flávio Cavalcanti Um Instante, Maestro - que testava os calouros, eram bem mais interessantes que os domingões, gugus e ratinhos. Vivia-se o império dos jurados de televisão. Mas, assim mesmo, eles tinham um viés educativo, pois discutiam as qualidades das músicas, a interpretação dos calouros e, de qualquer forma, contribuíam para apurar o gosto. Os excessos ficavam por conta de programas como a Buzina do Chacrinha, mas sem a apelação barata que domina os programas de auditório de hoje, marcados por um mau gosto que supera os bacalhaus que eram atirados à platéia pelo Velho Guerreiro. Tirante a televisão a cabo, que exibe bons programas, a TV aberta, que faz a cabeça de milhões de telespectadores, transformou-se num reduto do mau gosto. O que se produz hoje na TV aberta corresponde ao que passa pela cabeça dos "marqueteiros". Sim, são eles, que apoiados por pesquisas dimensionam o nível da preferência público, enquanto as gravadoras não usam mais o "jabaculê" para fazer tocar no rádio aquilo que lhes interessa comercialmente. Agora as gravadoras adotaram os infames "planos de implantação de um novo produto no mercado", que nada mais é do que a compra do espaço das rádios para rodar, à exaustão, certas músicas que desejam vender. Pelo menos, é mais ético. Em troca, ao invés de ouvirmos coisas com a suavidade de O Barquinho, Garota de Impanema, Desafinado e tantas outras maravilhas da bossa brasileira, temos o pagode, o emblema do kitsch da música brasileira atual, além da profusão das duplas sertanejas e música importada da pior espécie.. Em seu ensaio A dimensão estética, o filósofo Herbert Marcuse nota que através da longa história da arte e apesar das mudanças no gosto, há um padrão que permanece constante. E é este padrão que nos permite distinguir a literatura superior e da trivial, a ópera da opereta, a comédia da farsa, mas, sobretudo, entre aquilo que é bom e mau dentro desses gêneros.
E é também este padrão que nos permite inferir que
gosto se discute, sim. Sem falar no aspecto político do gosto, pois o
discernimento sobre o que é belo denota o caráter de quem postula
permanentemente a liberdade.
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