(Texto de Frances Jones, distribuído pela Agência
FAPESP) – O Arquivo Público do Estado de São Paulo
lançou oficialmente na segunda-feira (01/04) uma parte importante do seu acervo
digitalizado na internet, no site“Memória Política e Resistência”. O material inclui mais de 274 mil fichas
e 12,8 mil prontuários produzidos pelo Departamento Estadual de Ordem Política
e Social de São Paulo (Deops), pelo Departamento de Comunicação Social e
pelo Dops de Santos ao longo de um período que abrangeu duas ditaduras
brasileiras.
O projeto
teve apoio da FAPESP, que auxiliou a compra de equipamentos para a
digitalização, do Ministério da Justiça (projetos "Marcas da
Memória") e da Casa Civil da Presidência da República (projeto
"Memórias Reveladas").
O Deops-SP,
denominado Delegacia de Ordem Política e Social em sua origem e,
posteriormente, como última denominação, Departamento Estadual de Ordem
Política e Social, foi criado em 30 de dezembro de 1924, por meio da Lei nº
2.034/24, que visava reorganizar a polícia do Estado.
"O órgão
tinha como objetivo prevenir e reprimir delitos considerados de ordem política
e social contra a segurança do Estado. Para isso, desenvolveu um grande aparato
para monitoramento das atividades de pessoas e grupos considerados
potencialmente perigosos à ordem vigente. Um dos principais instrumentos
utilizados por essa vigilância foi a documentação: o acervo Deops-SP foi
constituído, ao longo dos anos, pela documentação produzida por esse órgão e
também de documentos apreendidos pelos órgãos de repressão. Sendo assim,
podemos entendê-la como um espelho da forma de funcionamento das estruturas
repressivas no Estado de São Paulo", destacam os organizadores do
site.
O acervo do
Deops é composto por quatro conjuntos principais: Ordem Social, Ordem Política,
Dossiês e Prontuários. Também conta com publicações como os Livros de Portaria do Departamento
Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo e Livros de
Inquéritos.
"O
esforço de digitalização e publicação dos documentos do Deops, assim como nosso
trabalho de gestão documental, garante o acesso da população às informações que
lhe dizem respeito”, disse o coordenador do Arquivo Público do Estado, Carlos
Bacellar.
Lauro Ávila
Pereira, diretor do Departamento de Preservação e Difusão do Acervo, lembrou
outro aspecto da publicação online desses documentos. “Esta
iniciativa pode ajudar a identificação daqueles agentes públicos que, durante a
época da ditadura, cometeram violações dos Direitos Humanos. Temos que lembrar
que o Brasil é um dos poucos países da América do Sul onde esse tipo de crime
jamais foi punido”, disse. Pereira ressaltou também a importância didática do
acervo na internet, que pode ser utilizado pelos professores em sala de aula
com mais facilidade.
O
governador Geraldo Alckmin participou da cerimônia de lançamento. "As
pessoas podem ter acesso de casa, não tem nenhuma senha, é tudo público. É
muito importante no sentido de transparência e de informação para as famílias
das vítimas do período da ditadura", disse.
Projetos
Temáticos
Entre 1924
e 1983, o Deops vigiou pessoas, instituições e movimentos políticos e
sociais, funcionando como um dos principais braços da repressão do Estado
brasileiro, em especial durante o primeiro governo Vargas (1930-1945) e do
regime militar de 1964 a 1985.
O site é a
segunda etapa de um projeto maior iniciado pelo Proin - Projeto Integrado
Arquivo do Estado/Universidade de São Paulo (USP) em 1999. O material
sobre o órgão foi liberado para consulta pública apenas em 1994, quase dez anos
após o fim da ditadura. Os documentos, no entanto, eram de difícil
acesso. "Não havia ainda uma base de dados que facilitasse a busca de
processos por cidadãos fichados e/ou presos por crime político", disse a
pesquisadora Maria Luiza Tucci Carneiro, professora do Departamento de História
da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da
USP, pioneira no estudo do material.
Depois de
desenvolver entre 1995 e 1996 com outros seis pesquisadores um projeto
financiado pelo Instituto Goethe sobre a presença de nazistas e refugiados
judeus no Brasil depois da 2ª Guerra Mundial, Tucci Carneiro obteve apoio da
FAPESP por meio da modalidade Projetos Temáticos para a criação de um arquivo virtual dos
documentos do Deops – contribuindo com um inventário para o site que foi
lançado agora.
O trabalho
desenvolvido ao longo de cerca de oito anos pode ser conferido no site do
Proin, que ainda hoje
publica os resultados de suas pesquisas. Sob a orientação de Tucci Carneiro,
uma equipe de 30 pesquisadores digitou a partir de 1999 as mais de 185 mil
fichas da delegacia. “Na época não tínhamos equipamentos nem uma base de dados
capazes de efetuar uma busca avançada junto às fichas policiais”, disse a
coordenadora do projeto.
Desde o ano
2000, as fichas nominais dos prontuários podem ser consultadas pela internet,
com a identificação do nome do "prontuariado" e o número do processo.
Além disso,
foram digitalizadas e colocadas no site as primeiras páginas dos jornais,
panfletos e livros confiscados durante os autos de busca nas residências
dos suspeitos ou das associações. Sob a coordenação do professor Boris
Kossoy, da Escola de Comunicação e Artes da USP, o Proin desenvolveu ainda um
inventário de fotografias confiscadas dos álbuns de família ou produzidas pelo
Laboratório de Fotografia do Gabinete de Investigação/Deops, que eram anexadas
aos prontuários.
“Através do
projeto de digitalização do Fundo Deops entre 1999-2010, conhecemos não
apenas o documento/artefato, mas também conseguimos recuperar a
lógica da polícia naquela época”, disse.
Além de
Tucci Carneiro e Kossoy, participaram do projeto do Proin as professoras Elizabeth Cancelli (FFLCH-USP),
Priscila Perazzo (Universidade Santo André), Regina Pedroso (Universidade
Mackenzie), os professores Carlos Alberto Boucault, Pádua Fernandes e Álvaro
Andreucci (Uninove). Outro projeto temático com apoio da FAPESP foi
desenvolvido por Maria Aparecida Aquino, hoje da Universidade Presbiteriana
Mackenzie, ue mapeou a série Dossiês/Deops.
Nos
prontuários, tem-se acesso a ficha policial, relatórios de investigação,
ordens de prisão, relação de impressos apreendidos (livros, jornais,
panfletos), tudo o que ajudasse a “provar” que a pessoa vigiada era
criminosa, incluindo fotos de álbuns de família e as produzidas pela
própria polícia. “Os prontuários têm documentação valiosíssima”, disse Tucci Carneiro.
Se na
primeira etapa as fichas foram digitadas e apenas parte do material
digitalizado, agora o prontuário poderá ser consultado online na
íntegra, facilitando o trabalho de pesquisadores.
O material
já rendeu muitas dissertações de mestrado e teses de doutorado, além de livros,
como A Imprensa Confiscada
pelo Deops, 1924-1983, escrito por Tucci Carneiro em coautoria com Boris
Kossoy (Ateliê Editorial; Imprensa Oficial e Arquivo do Estado, 2003), que foi
premiado com o Jabuti em 2004, na categoria Ciências Humanas. Dois novos
inventários estão prestes a ser lançados, sob a organização de Tucci
Carneiro:“Panfletos sediciosos” e "É proibido ler: livros e as bibliotecas
proibidas".
Agora, o
material está sendo disponibilizado na íntegra, mas por partes. Calcula-se que
o conteúdo que já está no ar forma 10% do que virá a ser disponibilizado.
FAPESP LANÇA CHAMADA COM CONSÓRCIO CANADENSE
A FAPESP e
The Consortium of Alberta, Laval, Dalhousie and Ottawa Universities (CALDO), no
Canadá, lançam chamada pública de propostas para o apoio a projetos de pesquisa
que envolvam o intercâmbio de pesquisadores, de acordo com o Acordo de
Cooperação assinado pelas instituições.
Podem
participar da chamada pesquisadores afiliados a universidades participantes do
consórcio CALDO, no Canadá, e, pelo lado da FAPESP, pesquisadores responsáveis
por Auxílios à Pesquisa vigentes apoiados pela FAPESP nas modalidades Auxílio à
Pesquisa – Regular, Auxílio à Pesquisa – Projeto Temático ou nos programas
Apoio a Jovens Pesquisadores em Centros Emergentes (JP) e Centros de Pesquisa,
Inovação e Difusão (CEPIDs).
A chamada
está aberta a todas as áreas do conhecimento. As propostas serão recebidas até
o dia 31 de maio de 2013.
As
atividades previstas nos projetos de pesquisa selecionados deverão ser
iniciadas enquanto o pesquisador brasileiro tiver vigente o auxílio FAPESP
relacionado. A duração máxima de cada projeto é de 24 meses.
A FAPESP
destinará o equivalente a até 12.500 dólares canadenses para cada proposta
paulista selecionada e o consórcio CALDO destinará o mesmo valor para cada
proposta canadense parceira, com o objetivo de cobrir despesas de mobilidade e
outros gastos relacionados à pesquisa.
VAGAS
PARA DOUTORADO E PÓS-DOUTORADO
O Projeto Temático “Genômica Funcional em Plasmodium”, conduzido no Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo
(IB-USP), tem vagas para doutorado e pós-doutorado.
Apoiado pela
FAPESP, o projeto é coordenado pela professora Célia Regina da Silva Garcia, do
Departamento de Fisiologia do IB-USP. O Temático visa desvendar mecanismos
moleculares envolvidos em diversos processos celulares da biologia de parasitas
de malária e sua relação com o hospedeiro para obtenção de suporte para o
desenvolvimento de novos antimaláricos.
“O projeto
tem como objetivo entender como o parasita utiliza receptores do tipo GPCR para
sinalização celular e como fatores de transcrição e a via ubiquitina-proteossoma
são modulados. Para tanto, utilizamos técnicas de microscopia confocal,
biologia molecular e bioquímica. Nossas pesquisas também incluem screening de moléculas como potenciais novos
antimaláricos”, disse Garcia.
Segundo
pesquisadores, a elucidação dos mecanismos de controle do ciclo celular do Plasmodium, agente etiológico
da malária, é de fundamental importância para o desenvolvimento de novas
estratégias para o combate à doença.
“A malária
afeta 250 milhões de pessoas anualmente e mais de 1 milhão de mortes são
associadas à infecção por Plasmodium
falciparum. O aumento da incidência da infecção e a resistência a
medicamentos torna uma questão de urgência o desenvolvimento de novas drogas
antimaláricas”, disse Garcia.
As vias de
sinalização celular na relação patógeno-hospedeiro são pouco conhecidas.
Utilizando uma abordagem de genômica funcional, o grupo do IB-USP identificou
receptores do tipo GPCR no genoma do parasita.
Os
interessados em se candidatar ao processo de seleção de bolsistas devem ter
experiência em biologia molecular e/ou bioquímica. Currículos atualizados devem
ser enviados paracgarcia@usp.br.
Outras
vagas de Bolsas, em diversas áreas do conhecimento, estão disponíveis no site
FAPESP-Oportunidades, em www.fapesp.br/oportunidades.
ICRC
2013 – INTERNATIONAL COSMIC RAY CONFEENCE
A 33ª edição da International
Cosmic Ray Conference (ICRC), um dos principais encontros da Física no mundo,
será realizada de 2 a 9 de julho de 2013 no Centro de Convenções SulAmérica, no
Rio de Janeiro. Será a primeira vez que o evento ocorrerá na América do Sul.
A primeira
edição do ICRC ocorreu logo após o fim da Segunda Guerra Mundial e, desde
então, o evento tem ocorrido a cada dois anos. Os dois últimos encontros foram
em Pequim (China), em 2011, e Lodz (Polônia), em 2009.
O ICRC se
dedica a tópicos tradicionalmente ligados à física dos raios cósmicos e à
astrofísica de altas energias e de partículas. Também atrai cientistas que
trabalham com temas ligados a raios gama e neutrinos. No Brasil, pela primeira
vez haverá a participação da comunidade que estuda a matéria escura.
Estão
planejadas mais de 300 palestras científicas – em sessões plenárias e paralelas
–, bem como diversas palestras para o grande público.
A edição
brasileira do ICRC está sendo organizada pelo Centro Brasileiro de Pesquisas
Físicas, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e pela Sociedade
Brasileira de Física.
Na
conferência serão apresentados os prêmios da União Internacional de Física Pura
e Aplicada para a pesquisa em física de raios cósmicos e astrofísica de
partículas.
Em 2012
foram comemorados os 100 anos da descoberta da origem dos raios cósmicos. Os
experimentos que levaram à conclusão sobre a origem extraterrestre dessa
radiação renderam ao físico austríaco Victor Hess (1883-1964) o Nobel de Física
de 1936. Detalhes: cgarcia@usp.br.
SOLUÇÕES PARA IMOBILIÁRIAS NA FENACON
A
Fenacom 2013 - Feira e Congresso de Soluções de Automação Comercial abre as
portas dia 9 em São Paulo, mas o ambiente já transpira tecnologia. A
perspectiva de trocar experiências e realizar bons negócios tem mobilizado mais
de 45 companhias de várias cidades e Estados brasileiros que se preparam para
apresentar produtos, serviços e modernas tendências em automação comercial a um
público formado por representantes dos canais de venda corporativos e de
varejo.
Uma dessas
empresas é a DinizSoft. Criada em 1998 por Paulo Sérgio Diniz, após traumática
falência de outro negócio do empreendedor, a empresa iniciou suas operações
como desenvolvedora de software em um pequeno quarto de sua casa em Dracena, no
interior de São Paulo. Quinze anos depois, a palavra de ordem é sucesso. Com
mais de 300 contratos na região de Presidente Prudente e cerca de dois mil
usuários em território nacional, a DinizSoft levará para a FENACOM
soluções para gestão empresarial, sistema de frente de caixa com SAT já
homologado, nota fiscal eletrônica com SPED, contribuições e fiscal integrados.
Parte do lucro da empresa é revertido em inclusão digital e apoio à Proeduc,
ONG dracenense para inclusão social na educação.
Já a MGR
E-Technologies, fundada em 1989 por ex-funcionários da Volkswagen que traziam
na bagagem um profundo conhecimento das principais necessidades das montadoras,
desenvolve soluções para viabilizar o EDI (Intercâmbio Eletrônico de Dados) na
cadeia de suprimentos automotivos. Os produtos são totalmente focados em
fornecedores de montadoras e representantes de autopeças. A empresa paulista oferece
também desenvolvimento de sistemas, treinamentos e suporte aos clientes com
profissionais membros das comissões de formatos e tecnologia da Anfavea e do
Sindipeças.
Companhias de
outros Estados também estarão na Fenacom. A Gálago – Sistema de Automação
Comercial é de Brasília e desenvolve módulos PAF-ECF + TEF + Sintegra + Boleto
+ NF-Eletrônica + SPED, ideais para o controle de negócios de pequenas e médias
empresas. Com 15 anos de atividade, a Gálago possui clientes em todo o País e
está em busca de representantes em São Paulo.
Soluções para o
setor imobiliário estarão representadas pela Basis Sistemas, que automatiza
operações de locação, compra e venda e administração de condomínios fazendo
interface com portais na internet. A empresa apresentará produtos como o
Immobile, que gerencia locação – recebendo do inquilino, pagando o proprietário
e emitindo nota fiscal eletrônica –, e o Sindcon, desenvolvido para o
financeiro da administração de condomínios. A Basis Sistemas possui cerca de
700 clientes, pulverizados em São Paulo, interior do Estado e norte do País.
DIAGNÓSTICOS
DE TRANSTORNOS MENTAIS
(Texto de Elton Alisson, distribuído pela Agência FAPESP –
Pesquisadores ligados ao Instituto Nacional de Saúde Mental (NIHM) dos
Estados Unidos estão desenvolvendo um novo sistema de diagnóstico de
transtornos mentais, como a depressão, a esquizofrenia e o transtorno bipolar.
A mais recente versão
do sistema foi apresentada por Bruce Cuthbert, diretor da Divisão de
Desenvolvimento de Pesquisa Translacional e Tratamento de Adultos da
instituição, durante a São Paulo School of Advanced
Science for Prevention of Mental Disorders (Y Mind).
Promovida pela
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em parceria com a Universidade de
São Paulo (USP), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a
Universidade Columbia, nos Estados Unidos, e o King’s College, da Inglaterra, o
evento, realizado no âmbito do Programa Escola São Paulo de Ciência Avançada
(ESPCA), da FAPESP, ocorreu nos dias 25 a 29 de março no campus da Unifesp, em
São Paulo.
Foram selecionados
102 estudantes de pós-graduação para participar da Escola, dentre os 270
inscritos, dos quais 25 eram provenientes do Estado de São Paulo, 27 de outros
estados do Brasil e 50 do exterior, advindos de 25 países.
O diagnóstico dos
transtornos mentais é realizado atualmente com base na observação clínica de um
conjunto de sinais e sintomas apresentados pelos pacientes em um determinado
período.
Segundo Cuthbert,
apesar de útil e estar disseminado amplamente pelos serviços médico, legal e
social, o sistema está defasado por ter sido desenvolvido em uma época em que o
conhecimento em genética, neurociências e ciências do comportamento humano era limitado.
“É preciso integrar
genética, neurobiologia, ambiente, comportamento e outros componentes
fundamentais para desenvolver medidas confiáveis e válidas de transtornos
mentais que possam ser utilizadas em estudos básicos e clínicos para esclarecer
suas causas”, disse.
O NIHM estabeleceu em
seu plano estratégico de 2008 a meta de desenvolver, para fins de pesquisa,
novas maneiras de classificar as bases do transtorno mental na dimensão do
comportamento observável e em medidas neurobiológicas.
Desde então,
pesquisadores da instituição têm se dedicado a identificar e incorporar
recentes descobertas de componentes genéticos, neurobiológicos e
comportamentais que podem ser extensivos a diversos tipos de transtornos
mentais em seus estudos, com o intuito de aprimorar o diagnóstico e o
tratamento dos pacientes.
“Um distúrbio mental
tem muitos mecanismos e cada mecanismo abrange muitos tipos de transtornos”,
afirmou Cuthbert. “É necessário mudar de uma visão tradicional da fenomenologia
clínica vigente hoje – calcada nos aspectos de cognição, emoção, mente e
cérebro – para uma abordagem do comportamento baseada na análise de circuitos
cerebrais importantes.”
Análise global
De acordo com
Cuthbert, atualmente não são exploradas abordagens baseadas nos circuitos cerebrais
para o desenvolvimento de diagnóstico e tratamento relevantes, que possam
indicar a classificação e mensurar um transtorno mental.
A fim de preencher
essa lacuna, o novo método, denominado NIHM Research Domain Criteria Project
(RDoc), incluirá a análise dos circuitos cerebrais dos pacientes como uma das
unidades de estudo para diagnosticar e medir seus níveis de transtorno mental.
“A análise dos
circuitos cerebrais dos pacientes com transtorno mental pode fornecer caminhos
para a fisiopatologia [estudo dos mecanismos e causas que levam ao
aparecimento de uma doença]. As doenças mentais são estudadas agora
especificamente como distúrbios de circuitos cerebrais”, disse Cuthbert.
Além dos circuitos
cerebrais, outras unidades de análises candidatas a integrar o novo modelo de
classificação de transtornos mentais desenvolvidos pelo NIHM são genes,
moléculas, células, fisiologia, comportamento e relatos pessoais, os quais
incluem sintomas.
Cuthbert explica que
estudos têm demonstrado que certas variações genéticas podem aumentar o risco
de desenvolver um transtorno mental. Já influências ambientais e experiências,
como o estresse traumático, podem interagir com variações genéticas específicas
durante períodos sensíveis do desenvolvimento humano.
“A complexa interação
entre genética, ambiente, experiências e desenvolvimento pode agravar risco
para transtornos mentais, alterando a estrutura e função de vias neurais
relevantes para algumas formas de comportamento adaptativo”, disse.
O desafio, no
entanto, é demonstrar como as interações entre genes, ambiente, experiência e
trajetória de desenvolvimento pessoal contribuem para a formação e a função dos
circuitos neurais. Ainda se sabe pouco, por exemplo, sobre como a informação é
armazenada nos circuitos neurais.
“Melhorar a nossa
compreensão das causas dos transtornos mentais fornecerá a base necessária para
aumentar a precisão do diagnóstico e intervenção clínica”, afirmou Cuthbert.
Foco nos jovens
Na avaliação de Jair
de Jesus Mari, professor do Departamento de Psiquiatria da Unifesp e um dos
coordenadores da Y Mind, o novo sistema de diagnóstico de transtornos mentais
em desenvolvimento pelo NIHM deverá contribuir para o dignóstico precoce das
doenças mentais que surgem especialmente na adolescência, quando o cerébro
humano está se reorganizando.
Por conta disso, de
acordo com Jesus Mari, as ações de prevenção ao transtorno mental no Brasil – a
exemplo do que vem sendo feito em outros países – devem ser focadas nos jovens.
“Estudos realizados
no Brasil e no exterior apontam que, se pudermos intervir mais precocemente
nesse grupo populacional nessa fase crítica do desenvolvimento, em que os
transtornos mentais surgem, será possível diminuir a incidência de transtornos
mentais graves, atrasar o seu início ou, pelo menos, reduzir os prejuízos
durante a sua progressão. Por isso, queremos desenvolver um modelo de saúde
mental que priorize mais a questão da adolescência”, disse Jesus Mari.
Os pesquisadores
brasileiros pretendem replicar no Brasil uma experiência realizada em países
como a Austrália, que implementou centros de prevenção a transtornos mentais em
jovens – denominados Headspace Centres –, de modo a
diagnosticar adolescentes que apresentam ou estão expostos a fatores de risco
que potencializam o desenvolvimento de adicções, estados depressivos e
transtornos mentais graves, como esquizofrenia e transtorno afetivo bipolar.
Outro projeto que
pode ser implantado no Brasil, segundo Jesus Mari, é o desenvolvimento de um
currículo sobre o que é saúde mental para jovens, como ocorre no Canadá.
O plano dos
pesquisadores é a criação de um centro de convivência que ofereça atividades
socioeducativas, como oficinas de leitura, teatro, música e esportes, e
concentre diversas ações de prevenção em saúde mental. “A ideia é que nesse
espaço realizemos uma ação articulada com a escola, com agentes de saúde e com
as famílias desses jovens”, disse Jesus Mari.
Algumas das ações
possíveis são a disseminação de comportamentos sexuais saudáveis, o estímulo a
atividades físicas e esportivas e socioculturais e a conscientização sobre os
riscos do consumo de álcool, drogas e o tabagismo na adolescência.
Por meio da
articulação com outros setores, como o de educação e o judiciário, os
especialistas pretendem identificar mais precocemente jovens com maior
probabilidade de desenvolver transtornos mentais e que tenham dificuldade de
adaptação social.
Entre eles, estão
estudantes que praticam bullying nas escolas, que são
candidatos a apresentar comportamento agressivo e ter problemas com a justiça,
além de jovens alvos de violência física ou psicológica no ambiente escolar ou
que começaram a usar drogas pesadas.
“Precisamos ter um
sistema de saúde mais aberto que permita a esses jovens se comunicar com os
profissionais de saúde e estabelecer um diálogo franco. Isso pode contribuir
para a identificação precoce e possível redução da morbidade associada aos
transtornos mentais que se iniciam na infância e adolescência”, disse Jesus
Mari.
PREPARAÇÃO BÁSICA
DA JUVENTUDE
(Texto de Carlos Bernardo
González Pecotche (Raumsol) - A mente
infantil é suscetível a inclinar-se na direção de qualquer pensamento que a
sugestione. Como não sabe nem tem consciência alguma da vida, aceita com
facilidade tudo o que lhe é inculcado; daí a enorme responsabilidade dos que
têm a seu cargo a tarefa de conduzi-la. E não se deve esquecer que os meninos e
os jovens de hoje são os homens de amanhã, de modo que não será difícil saber
como haverão de ser eles, se é levada em conta a preparação que receberam
quando sua reflexão era incipiente.
Durante
esse período, a mente é o campo virgem e fértil em que germina e se desenvolve
rapidamente qualquer ideia ou pensamento. Se estes tendem para o bem, a vida se
tornará útil e benigna; se tendem para o mal, a vida se tornará sombria e
estéril. Nada, portanto, pode ser mais propício, quando se trata de educar as
mentes dos mais novos, do que ilustrá-las com toda a clareza e amplidão acerca
dos problemas e pontos com os quais a consciência haverá depois de tomar um
contato mais imediato.
|
A
juventude requer ser orientada, para que não se malogrem
os
esforços e a inteligência dos que deverão preparar as gerações futuras
|
É
especialmente na idade juvenil que toda classe de pensamentos acorre à mente, e
enquanto uns incitam a realizar uma coisa, outros incitam a realizar outra.
Acumulam-se, assim, projetos que, num ímpeto de rivalidade, lutam para absorver
integralmente a atenção da ainda não cultivada inteligência. Esses fatos se
repetem com sugestiva frequência nos adolescentes, trazendo como consequência a
desorientação, já que, em tais circunstâncias, poucos são os que dominam sua
inquietação e se dirigem com firmeza ao desenvolvimento metódico de um estudo
ou à realização ordenada de um projeto.
Por
outro lado, o jovem tem de ir acondicionando seu ser a todos os vaivéns
da vida; e é aí que ele necessita saber que todos os seus passos devem ser
inspirados pelo desejo profundo de corresponder ao que espera de si mesmo, proporcionando
à sua existência todo o bem que ela exige de sua razão e de sua consciência, e
também pelo anseio de cumprir os deveres que tenha em relação a todos os seus
semelhantes, podendo beneficiar, dentro da medida de sua capacidade, sobretudo
os que lhe são mais achegados.
A
juventude requer ser orientada; só assim não se haverão de malograr os esforços
e a inteligência dos que amanhã, por sua vez, deverão preparar as gerações que
lhes sucederão.
O
fomento do estudo em todas as suas formas, das atividades sadias, do culto ao
saber, à humanidade, à família, e, muito particularmente, do culto ao respeito
que o indivíduo deve a si mesmo, ao que é seu, e ao respeito que deve aos
demais e à propriedade alheia, é o fundamental para que tal orientação cumpra
seu grande objetivo, que é o de formar na juventude a consciência cabal de sua
responsabilidade perante a vida, seus semelhantes e o mundo.
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