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quarta-feira, 3 de abril de 2013

ACERVO DO DEOPS NA INTERNET


 


(Texto de Frances Jones, distribuído pela Agência FAPESP) O Arquivo Público do Estado de São Paulo lançou oficialmente na segunda-feira (01/04) uma parte importante do seu acervo digitalizado na internet, no site“Memória Política e Resistência”. O material inclui mais de 274 mil fichas e 12,8 mil prontuários produzidos pelo Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo (Deops), pelo Departamento de Comunicação Social e pelo Dops de Santos ao longo de um período que abrangeu duas ditaduras brasileiras.

O projeto teve apoio da FAPESP, que auxiliou a compra de equipamentos para a digitalização, do Ministério da Justiça (projetos "Marcas da Memória") e da Casa Civil da Presidência da República (projeto "Memórias Reveladas"). 

O Deops-SP, denominado Delegacia de Ordem Política e Social em sua origem e, posteriormente, como última denominação, Departamento Estadual de Ordem Política e Social, foi criado em 30 de dezembro de 1924, por meio da Lei nº 2.034/24, que visava reorganizar a polícia do Estado. 

"O órgão tinha como objetivo prevenir e reprimir delitos considerados de ordem política e social contra a segurança do Estado. Para isso, desenvolveu um grande aparato para monitoramento das atividades de pessoas e grupos considerados potencialmente perigosos à ordem vigente. Um dos principais instrumentos utilizados por essa vigilância foi a documentação: o acervo Deops-SP foi constituído, ao longo dos anos, pela documentação produzida por esse órgão e também de documentos apreendidos pelos órgãos de repressão. Sendo assim, podemos entendê-la como um espelho da forma de funcionamento das estruturas repressivas no Estado de São Paulo", destacam os organizadores do site. 

O acervo do Deops é composto por quatro conjuntos principais: Ordem Social, Ordem Política, Dossiês e Prontuários. Também conta com publicações como os Livros de Portaria do Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo e Livros de Inquéritos.  

"O esforço de digitalização e publicação dos documentos do Deops, assim como nosso trabalho de gestão documental, garante o acesso da população às informações que lhe dizem respeito”, disse o coordenador do Arquivo Público do Estado, Carlos Bacellar.

Lauro Ávila Pereira, diretor do Departamento de Preservação e Difusão do Acervo, lembrou outro aspecto da publicação online desses documentos. “Esta iniciativa pode ajudar a identificação daqueles agentes públicos que, durante a época da ditadura, cometeram violações dos Direitos Humanos. Temos que lembrar que o Brasil é um dos poucos países da América do Sul onde esse tipo de crime jamais foi punido”, disse. Pereira ressaltou também a importância didática do acervo na internet, que pode ser utilizado pelos professores em sala de aula com mais facilidade.  

O governador Geraldo Alckmin participou da cerimônia de lançamento. "As pessoas podem ter acesso de casa, não tem nenhuma senha, é tudo público. É muito importante no sentido de transparência e de informação para as famílias das vítimas do período da ditadura", disse. 

Projetos Temáticos

Entre 1924 e 1983, o Deops vigiou pessoas, instituições e movimentos políticos e sociais, funcionando como um dos principais braços da repressão do Estado brasileiro, em especial durante o primeiro governo Vargas (1930-1945) e do regime militar de 1964 a 1985.

O site é a segunda etapa de um projeto maior iniciado pelo Proin - Projeto Integrado Arquivo do Estado/Universidade de São Paulo (USP) em 1999. O material sobre o órgão foi liberado para consulta pública apenas em 1994, quase dez anos após o fim da ditadura. Os documentos, no entanto, eram de difícil acesso. "Não havia ainda uma base de dados que facilitasse a busca de processos por cidadãos fichados e/ou presos por crime político", disse a pesquisadora Maria Luiza Tucci Carneiro, professora do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, pioneira no estudo do material.

Depois de desenvolver entre 1995 e 1996 com outros seis pesquisadores um projeto financiado pelo Instituto Goethe sobre a presença de nazistas e refugiados judeus no Brasil depois da 2ª Guerra Mundial, Tucci Carneiro obteve apoio da FAPESP por meio da modalidade Projetos Temáticos para a criação de um arquivo virtual dos documentos do Deops – contribuindo com um inventário para o site que foi lançado agora.

O trabalho desenvolvido ao longo de cerca de oito anos pode ser conferido no site do Proin, que ainda hoje publica os resultados de suas pesquisas. Sob a orientação de Tucci Carneiro, uma equipe de 30 pesquisadores digitou a partir de 1999 as mais de 185 mil fichas da delegacia. “Na época não tínhamos equipamentos nem uma base de dados capazes de efetuar uma busca avançada junto às fichas policiais”, disse a coordenadora do projeto.

Desde o ano 2000, as fichas nominais dos prontuários podem ser consultadas pela internet, com a identificação do nome do "prontuariado" e o número do processo.

Além disso, foram digitalizadas e colocadas no site as primeiras páginas dos jornais, panfletos e livros confiscados durante os autos de busca nas residências dos suspeitos ou das associações. Sob a coordenação do professor Boris Kossoy, da Escola de Comunicação e Artes da USP, o Proin desenvolveu ainda um inventário de fotografias confiscadas dos álbuns de família ou produzidas pelo Laboratório de Fotografia do Gabinete de Investigação/Deops, que eram anexadas aos prontuários.

“Através do projeto de digitalização do Fundo Deops entre 1999-2010, conhecemos não apenas o documento/artefato, mas também conseguimos recuperar a lógica da polícia naquela época”, disse.

Além de Tucci Carneiro e Kossoy, participaram do projeto do Proin as professoras Elizabeth Cancelli (FFLCH-USP), Priscila Perazzo (Universidade Santo André), Regina Pedroso (Universidade Mackenzie), os professores Carlos Alberto Boucault, Pádua Fernandes e Álvaro Andreucci (Uninove).  Outro projeto temático com apoio da FAPESP foi desenvolvido por Maria Aparecida Aquino, hoje da Universidade Presbiteriana Mackenzie, ue mapeou a série Dossiês/Deops.

Nos prontuários, tem-se acesso a ficha policial, relatórios de investigação, ordens de prisão, relação de impressos apreendidos (livros, jornais, panfletos), tudo o que ajudasse a “provar” que a pessoa vigiada era criminosa, incluindo fotos de álbuns de família e as produzidas pela própria polícia. “Os prontuários têm documentação valiosíssima”, disse Tucci Carneiro.

Se na primeira etapa as fichas foram digitadas e apenas parte do material digitalizado, agora o prontuário poderá ser consultado online na íntegra, facilitando o trabalho de pesquisadores.

O material já rendeu muitas dissertações de mestrado e teses de doutorado, além de livros, como A Imprensa Confiscada pelo Deops, 1924-1983, escrito por Tucci Carneiro em coautoria com Boris Kossoy (Ateliê Editorial; Imprensa Oficial e Arquivo do Estado, 2003), que foi premiado com o Jabuti em 2004, na categoria Ciências Humanas. Dois novos inventários estão prestes a ser lançados, sob a organização de Tucci Carneiro:“Panfletos sediciosos” e "É proibido ler: livros e as bibliotecas proibidas".

Agora, o material está sendo disponibilizado na íntegra, mas por partes. Calcula-se que o conteúdo que já está no ar forma 10% do que virá a ser disponibilizado.


FAPESP LANÇA CHAMADA COM CONSÓRCIO CANADENSE

A FAPESP e The Consortium of Alberta, Laval, Dalhousie and Ottawa Universities (CALDO), no Canadá, lançam chamada pública de propostas para o apoio a projetos de pesquisa que envolvam o intercâmbio de pesquisadores, de acordo com o Acordo de Cooperação assinado pelas instituições.

Podem participar da chamada pesquisadores afiliados a universidades participantes do consórcio CALDO, no Canadá, e, pelo lado da FAPESP, pesquisadores responsáveis por Auxílios à Pesquisa vigentes apoiados pela FAPESP nas modalidades Auxílio à Pesquisa – Regular, Auxílio à Pesquisa – Projeto Temático ou nos programas Apoio a Jovens Pesquisadores em Centros Emergentes (JP) e Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs).

A chamada está aberta a todas as áreas do conhecimento. As propostas serão recebidas até o dia 31 de maio de 2013.

As atividades previstas nos projetos de pesquisa selecionados deverão ser iniciadas enquanto o pesquisador brasileiro tiver vigente o auxílio FAPESP relacionado. A duração máxima de cada projeto é de 24 meses.

A FAPESP destinará o equivalente a até 12.500 dólares canadenses para cada proposta paulista selecionada e o consórcio CALDO destinará o mesmo valor para cada proposta canadense parceira, com o objetivo de cobrir despesas de mobilidade e outros gastos relacionados à pesquisa.

A chamada de propostas está disponível em: www.fapesp.br/7577 
 

VAGAS PARA DOUTORADO E PÓS-DOUTORADO


O Projeto Temático “Genômica Funcional em Plasmodium”, conduzido no Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP), tem vagas para doutorado e pós-doutorado.


Apoiado pela FAPESP, o projeto é coordenado pela professora Célia Regina da Silva Garcia, do Departamento de Fisiologia do IB-USP. O Temático visa desvendar mecanismos moleculares envolvidos em diversos processos celulares da biologia de parasitas de malária e sua relação com o hospedeiro para obtenção de suporte para o desenvolvimento de novos antimaláricos.

“O projeto tem como objetivo entender como o parasita utiliza receptores do tipo GPCR para sinalização celular e como fatores de transcrição e a via ubiquitina-proteossoma são modulados. Para tanto, utilizamos técnicas de microscopia confocal, biologia molecular e bioquímica. Nossas pesquisas também incluem screening de moléculas como potenciais novos antimaláricos”, disse Garcia.

Segundo pesquisadores, a elucidação dos mecanismos de controle do ciclo celular do Plasmodium, agente etiológico da malária, é de fundamental importância para o desenvolvimento de novas estratégias para o combate à doença.

“A malária afeta 250 milhões de pessoas anualmente e mais de 1 milhão de mortes são associadas à infecção por Plasmodium falciparum. O aumento da incidência da infecção e a resistência a medicamentos torna uma questão de urgência o desenvolvimento de novas drogas antimaláricas”, disse Garcia.

As vias de sinalização celular na relação patógeno-hospedeiro são pouco conhecidas. Utilizando uma abordagem de genômica funcional, o grupo do IB-USP identificou receptores do tipo GPCR no genoma do parasita.

Os interessados em se candidatar ao processo de seleção de bolsistas devem ter experiência em biologia molecular e/ou bioquímica. Currículos atualizados devem ser enviados paracgarcia@usp.br.

Outras vagas de Bolsas, em diversas áreas do conhecimento, estão disponíveis no site FAPESP-Oportunidades, em www.fapesp.br/oportunidades. 
 

ICRC 2013 – INTERNATIONAL COSMIC RAY CONFEENCE


 A 33ª edição da International Cosmic Ray Conference (ICRC), um dos principais encontros da Física no mundo, será realizada de 2 a 9 de julho de 2013 no Centro de Convenções SulAmérica, no Rio de Janeiro. Será a primeira vez que o evento ocorrerá na América do Sul.


A primeira edição do ICRC ocorreu logo após o fim da Segunda Guerra Mundial e, desde então, o evento tem ocorrido a cada dois anos. Os dois últimos encontros foram em Pequim (China), em 2011, e Lodz (Polônia), em 2009.

O ICRC se dedica a tópicos tradicionalmente ligados à física dos raios cósmicos e à astrofísica de altas energias e de partículas. Também atrai cientistas que trabalham com temas ligados a raios gama e neutrinos. No Brasil, pela primeira vez haverá a participação da comunidade que estuda a matéria escura.

Estão planejadas mais de 300 palestras científicas – em sessões plenárias e paralelas –, bem como diversas palestras para o grande público.

A edição brasileira do ICRC está sendo organizada pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e pela Sociedade Brasileira de Física.

Na conferência serão apresentados os prêmios da União Internacional de Física Pura e Aplicada para a pesquisa em física de raios cósmicos e astrofísica de partículas.

Em 2012 foram comemorados os 100 anos da descoberta da origem dos raios cósmicos. Os experimentos que levaram à conclusão sobre a origem extraterrestre dessa radiação renderam ao físico austríaco Victor Hess (1883-1964) o Nobel de Física de 1936. Detalhes: cgarcia@usp.br. 
 

SOLUÇÕES PARA IMOBILIÁRIAS NA FENACON

A Fenacom 2013 - Feira e Congresso de Soluções de Automação Comercial abre as portas dia 9 em São Paulo, mas o ambiente já transpira tecnologia. A perspectiva de trocar experiências e realizar bons negócios tem mobilizado mais de 45 companhias de várias cidades e Estados brasileiros que se preparam para apresentar produtos, serviços e modernas tendências em automação comercial a um público formado por representantes dos canais de venda corporativos e de varejo. 

Uma dessas empresas é a DinizSoft. Criada em 1998 por Paulo Sérgio Diniz, após traumática falência de outro negócio do empreendedor, a empresa iniciou suas operações como desenvolvedora de software em um pequeno quarto de sua casa em Dracena, no interior de São Paulo. Quinze anos depois, a palavra de ordem é sucesso. Com mais de 300 contratos na região de Presidente Prudente e cerca de dois mil usuários em território nacional, a DinizSoft levará para a FENACOM  soluções para gestão empresarial, sistema de frente de caixa com SAT já homologado, nota fiscal eletrônica com SPED, contribuições e fiscal integrados. Parte do lucro da empresa é revertido em inclusão digital e apoio à Proeduc, ONG dracenense para inclusão social na educação.  

Já a MGR E-Technologies, fundada em 1989 por ex-funcionários da Volkswagen que traziam na bagagem um profundo conhecimento das principais necessidades das montadoras, desenvolve soluções para viabilizar o EDI (Intercâmbio Eletrônico de Dados) na cadeia de suprimentos automotivos. Os produtos são totalmente focados em fornecedores de montadoras e representantes de autopeças. A empresa paulista oferece também desenvolvimento de sistemas, treinamentos e suporte aos clientes com profissionais membros das comissões de formatos e tecnologia da Anfavea e do Sindipeças.  

Companhias de outros Estados também estarão na Fenacom.  A Gálago – Sistema de Automação Comercial é de Brasília e desenvolve módulos PAF-ECF + TEF + Sintegra + Boleto + NF-Eletrônica + SPED, ideais para o controle de negócios de pequenas e médias empresas. Com 15 anos de atividade, a Gálago possui clientes em todo o País e está em busca de representantes em São Paulo.  

Soluções para o setor imobiliário estarão representadas pela Basis Sistemas, que automatiza operações de locação, compra e venda e administração de condomínios fazendo interface com portais na internet. A empresa apresentará produtos como o Immobile, que gerencia locação – recebendo do inquilino, pagando o proprietário e emitindo nota fiscal eletrônica –, e o Sindcon, desenvolvido para o financeiro da administração de condomínios. A Basis Sistemas possui cerca de 700 clientes, pulverizados em São Paulo, interior do Estado e norte do País.  

DIAGNÓSTICOS DE TRANSTORNOS MENTAIS

(Texto de Elton Alisson, distribuído pela Agência FAPESP Pesquisadores ligados ao Instituto Nacional de Saúde Mental (NIHM) dos Estados Unidos estão desenvolvendo um novo sistema de diagnóstico de transtornos mentais, como a depressão, a esquizofrenia e o transtorno bipolar.

A mais recente versão do sistema foi apresentada por Bruce Cuthbert, diretor da Divisão de Desenvolvimento de Pesquisa Translacional e Tratamento de Adultos da instituição, durante a São Paulo School of Advanced Science for Prevention of Mental Disorders (Y Mind).

Promovida pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Universidade Columbia, nos Estados Unidos, e o King’s College, da Inglaterra, o evento, realizado no âmbito do Programa Escola São Paulo de Ciência Avançada (ESPCA), da FAPESP, ocorreu nos dias 25 a 29 de março no campus da Unifesp, em São Paulo.

Foram selecionados 102 estudantes de pós-graduação para participar da Escola, dentre os 270 inscritos, dos quais 25 eram provenientes do Estado de São Paulo, 27 de outros estados do Brasil e 50 do exterior, advindos de 25 países.

O diagnóstico dos transtornos mentais é realizado atualmente com base na observação clínica de um conjunto de sinais e sintomas apresentados pelos pacientes em um determinado período.

Segundo Cuthbert, apesar de útil e estar disseminado amplamente pelos serviços médico, legal e social, o sistema está defasado por ter sido desenvolvido em uma época em que o conhecimento em genética, neurociências e ciências do comportamento humano era limitado.

“É preciso integrar genética, neurobiologia, ambiente, comportamento e outros componentes fundamentais para desenvolver medidas confiáveis e válidas de transtornos mentais que possam ser utilizadas em estudos básicos e clínicos para esclarecer suas causas”, disse.

O NIHM estabeleceu em seu plano estratégico de 2008 a meta de desenvolver, para fins de pesquisa, novas maneiras de classificar as bases do transtorno mental na dimensão do comportamento observável e em medidas neurobiológicas.

Desde então, pesquisadores da instituição têm se dedicado a identificar e incorporar recentes descobertas de componentes genéticos, neurobiológicos e comportamentais que podem ser extensivos a diversos tipos de transtornos mentais em seus estudos, com o intuito de aprimorar o diagnóstico e o tratamento dos pacientes.

“Um distúrbio mental tem muitos mecanismos e cada mecanismo abrange muitos tipos de transtornos”, afirmou Cuthbert. “É necessário mudar de uma visão tradicional da fenomenologia clínica vigente hoje – calcada nos aspectos de cognição, emoção, mente e cérebro – para uma abordagem do comportamento baseada na análise de circuitos cerebrais importantes.”

Análise global

De acordo com Cuthbert, atualmente não são exploradas abordagens baseadas nos circuitos cerebrais para o desenvolvimento de diagnóstico e tratamento relevantes, que possam indicar a classificação e mensurar um transtorno mental.

A fim de preencher essa lacuna, o novo método, denominado NIHM Research Domain Criteria Project (RDoc), incluirá a análise dos circuitos cerebrais dos pacientes como uma das unidades de estudo para diagnosticar e medir seus níveis de transtorno mental.

“A análise dos circuitos cerebrais dos pacientes com transtorno mental pode fornecer caminhos para a fisiopatologia [estudo dos mecanismos e causas que levam ao aparecimento de uma doença]. As doenças mentais são estudadas agora especificamente como distúrbios de circuitos cerebrais”, disse Cuthbert.

Além dos circuitos cerebrais, outras unidades de análises candidatas a integrar o novo modelo de classificação de transtornos mentais desenvolvidos pelo NIHM são genes, moléculas, células, fisiologia, comportamento e relatos pessoais, os quais incluem sintomas.

Cuthbert explica que estudos têm demonstrado que certas variações genéticas podem aumentar o risco de desenvolver um transtorno mental. Já influências ambientais e experiências, como o estresse traumático, podem interagir com variações genéticas específicas durante períodos sensíveis do desenvolvimento humano.

“A complexa interação entre genética, ambiente, experiências e desenvolvimento pode agravar risco para transtornos mentais, alterando a estrutura e função de vias neurais relevantes para algumas formas de comportamento adaptativo”, disse.

O desafio, no entanto, é demonstrar como as interações entre genes, ambiente, experiência e trajetória de desenvolvimento pessoal contribuem para a formação e a função dos circuitos neurais. Ainda se sabe pouco, por exemplo, sobre como a informação é armazenada nos circuitos neurais.

“Melhorar a nossa compreensão das causas dos transtornos mentais fornecerá a base necessária para aumentar a precisão do diagnóstico e intervenção clínica”, afirmou Cuthbert.

Foco nos jovens

Na avaliação de Jair de Jesus Mari, professor do Departamento de Psiquiatria da Unifesp e um dos coordenadores da Y Mind, o novo sistema de diagnóstico de transtornos mentais em desenvolvimento pelo NIHM deverá contribuir para o dignóstico precoce das doenças mentais que surgem especialmente na adolescência, quando o cerébro humano está se reorganizando.

Por conta disso, de acordo com Jesus Mari, as ações de prevenção ao transtorno mental no Brasil – a exemplo do que vem sendo feito em outros países – devem ser focadas nos jovens.

“Estudos realizados no Brasil e no exterior apontam que, se pudermos intervir mais precocemente nesse grupo populacional nessa fase crítica do desenvolvimento, em que os transtornos mentais surgem, será possível diminuir a incidência de transtornos mentais graves, atrasar o seu início ou, pelo menos, reduzir os prejuízos durante a sua progressão. Por isso, queremos desenvolver um modelo de saúde mental que priorize mais a questão da adolescência”, disse Jesus Mari.

Os pesquisadores brasileiros pretendem replicar no Brasil uma experiência realizada em países como a Austrália, que implementou centros de prevenção a transtornos mentais em jovens – denominados Headspace Centres –, de modo a diagnosticar adolescentes que apresentam ou estão expostos a fatores de risco que potencializam o desenvolvimento de adicções, estados depressivos e transtornos mentais graves, como esquizofrenia e transtorno afetivo bipolar.

Outro projeto que pode ser implantado no Brasil, segundo Jesus Mari, é o desenvolvimento de um currículo sobre o que é saúde mental para jovens, como ocorre no Canadá.

O plano dos pesquisadores é a criação de um centro de convivência que ofereça atividades socioeducativas, como oficinas de leitura, teatro, música e esportes, e concentre diversas ações de prevenção em saúde mental. “A ideia é que nesse espaço realizemos uma ação articulada com a escola, com agentes de saúde e com as famílias desses jovens”, disse Jesus Mari.

Algumas das ações possíveis são a disseminação de comportamentos sexuais saudáveis, o estímulo a atividades físicas e esportivas e socioculturais e a conscientização sobre os riscos do consumo de álcool, drogas e o tabagismo na adolescência.

Por meio da articulação com outros setores, como o de educação e o judiciário, os especialistas pretendem identificar mais precocemente jovens com maior probabilidade de desenvolver transtornos mentais e que tenham dificuldade de adaptação social.

Entre eles, estão estudantes que praticam bullying nas escolas, que são candidatos a apresentar comportamento agressivo e ter problemas com a justiça, além de jovens alvos de violência física ou psicológica no ambiente escolar ou que começaram a usar drogas pesadas.

“Precisamos ter um sistema de saúde mais aberto que permita a esses jovens se comunicar com os profissionais de saúde e estabelecer um diálogo franco. Isso pode contribuir para a identificação precoce e possível redução da morbidade associada aos transtornos mentais que se iniciam na infância e adolescência”, disse Jesus Mari. 
 

PREPARAÇÃO BÁSICA DA JUVENTUDE


 

(Texto de  Carlos Bernardo González Pecotche (Raumsol) - A mente infantil é suscetível a inclinar-se na direção de qualquer pensamento que a sugestione. Como não sabe nem tem consciência alguma da vida, aceita com facilidade tudo o que lhe é inculcado; daí a enorme responsabilidade dos que têm a seu cargo a tarefa de conduzi-la. E não se deve esquecer que os meninos e os jovens de hoje são os homens de amanhã, de modo que não será difícil saber como haverão de ser eles, se é levada em conta a preparação que receberam quando  sua reflexão era incipiente. 

Durante esse período, a mente é o campo virgem e fértil em que germina e se desenvolve rapidamente qualquer ideia ou pensamento. Se estes tendem para o bem, a vida se tornará útil e benigna; se tendem para o mal, a vida se tornará sombria e estéril. Nada, portanto, pode ser mais propício, quando se trata de educar as mentes dos mais novos, do que ilustrá-las com toda a clareza e amplidão acerca dos problemas e pontos com os quais a consciência haverá depois de tomar um contato mais imediato.

 

A juventude requer ser orientada, para que não se malogrem
os esforços e a inteligência dos que deverão preparar as gerações futuras

 

É especialmente na idade juvenil que toda classe de pensamentos acorre à mente, e enquanto uns incitam a realizar uma coisa, outros incitam a realizar outra. Acumulam-se, assim, projetos que, num ímpeto de rivalidade, lutam para absorver integralmente a atenção da ainda não cultivada inteligência. Esses fatos se repetem com sugestiva frequência nos adolescentes, trazendo como consequência a desorientação, já que, em tais circunstâncias, poucos são os que dominam sua inquietação e se dirigem com firmeza ao desenvolvimento metódico de um estudo ou à realização ordenada de um projeto.

 Por outro lado, o jovem tem de ir acondicionando seu ser a todos os  vaivéns da vida; e é aí que ele necessita saber que todos os seus passos devem ser inspirados pelo desejo profundo de corresponder ao que espera de si mesmo, proporcionando à sua existência todo o bem que ela exige de sua razão e de sua consciência, e também pelo anseio de cumprir os deveres que tenha em relação a todos os seus semelhantes, podendo beneficiar, dentro da medida de sua capacidade, sobretudo os que lhe são mais achegados.

 A juventude requer ser orientada; só assim não se haverão de malograr os esforços e a inteligência dos que amanhã, por sua vez, deverão preparar as gerações que lhes sucederão.

 O fomento do estudo em todas as suas formas, das atividades sadias, do culto ao saber, à humanidade, à família, e, muito particularmente, do culto ao respeito que o indivíduo deve a si mesmo, ao que é seu, e ao respeito que deve aos demais e à propriedade alheia, é o fundamental para que tal orientação cumpra seu grande objetivo, que é o de formar na juventude a consciência cabal de sua responsabilidade perante a vida, seus semelhantes e o mundo.

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