(Eduardo Rey, no RioBlog) - Quem
passa hoje pelos quarteirões de galpões abandonados no bairro do Ipiranga nem
imagina que ali foram escritos alguns dos mais interessantes capítulos da
história da indústria automobilística do Brasil.
As instalações do Ipiranga poderiam ser protegidas
pelo patrimônio histórico tal sua importância para a história da indústria
automobilística nacional. Muitas das imagens deste post foram obtidas no ótimo
site São Paulo Antiga, Vale a pena conferir! (http://www.saopauloantiga.com.br/vemag-uma-fabrica-que-agoniza-no-tempo/)
Durante mais de uma década, ali ficava a fábrica da
VEMAG - Veículos e Máquinas Agrícolas S.A, uma das pioneiras na produção de
automóveis em nosso país, uma empresa nacional que foi fundada em 1945 como
Distribuidora de Automóveis Studbaker Ltda, e iniciou suas operações montando
caminhões e tratores americanos. (Saiba
mais no http://pt.wikipedia.org/wiki/Vemag)
Em 1956, com o incentivo governamental para a
fabricação de automóveis no país, obteve licença para produzir no Brasil os
modelos da DKW, uma das empresas do grupo alemão Auto Union, que era formado
por 4 montadoras: DKW, Horsch, Wanderer e a emblemática Audi. Entre elas estava
a Audi
Os automóveis da DKW eram robustos e se adaptaram
muito bem às péssimas condições de nossas ruas e estradas. Talvez tenha sido
esta confiabilidade dos primeiros DKW que ajudou a formar a ótima imagem que os
carros alemães tem no Brasil, e que foi consolidada com a chegada da
Volkswagen.
Outra curiosidade sobre os modelos DKW era que
funcionavam com motores "dois tempos", uma tecnologia que hoje está
abandonada para automóveis, mas ainda é usada para motoserras, modelismo e
aviões de pequeno porte, que precisam de motores mais leves com ótima relação
peso x potência. (O
motor de 2 Tempos do DKW você encontra no http://pt.wikipedia.org/wiki/Motor_a_dois_tempos)
Entre os motivos que levaram ao seu desuso está o
fato de que poluem 30% mais do que um motor atual de 4 tempos e tem uma pior
eficiência térmica. Outra desvantagem é que precisam receber óleo diretamente
no tanque de combustível na proporção média de 1 para 40. A DKW contornou esta
última questão com o desenvolvimento de um sistema próprio de lubrificação
automática, chamado Lubrimat, que equipou seus carros no Brasil a
partir de 1964.
Um dos grandes feitos da Vemag foi ter batido o
recorde brasileiro de velocidade, com o protótipo Carcará, que alcançou na BR-2
Rio Santos (atual Avenida das Américas, na Barra da Tijuca, onde hoje está um
Supermercado Carrefour) a marca de 212,903 km/h.
Com um design futurista e aerodinâmico projetado por
Anísio Campos e um motor de apenas 1.000 cc, permanece até hoje como o recorde
absoluto para automóveis 1.0.
Foi a primeira medição oficial de velocidade em reta
feita no Brasil (*http://www.obvio.ind.br/O%20Carcara%20estabeleceu%20em%201965%20um%20recorde%20brasileiro%20ate%20hoje%20absoluto%20!.htm)
Além da experiência com o Carcará, a Vemag teve uma
das mais importantes equipes de pilotos da década de 60.
Em seu auge, a Vemag tinha mais de 4.000
funcionários trabalhando na fábrica do Ipiranga (mais exatamente na Vila
Carioca), e vestir "o macacão azul" de seus operários era o sonho de
9 entre 10 metalúrgicos (isto é até citado na biografia do Presidente Lula). A Vemag
foi para a época um orgulho da indústria nacional, comparável ao que é hoje a
Embraer. Durante os 11 anos em que operou, foram produzidos cerca de 115.000
automóveis.
Em 1967, a Volkswagen do Brasil anunciou a compra da
Vemag, uma manobra até certo ponto esperada, pois a detentora da marca DKW, a
Auto Union, havia sido vendida em 1964 para a Volks alemã, transformando-se em
AUDI.
Apesar das declarações de que a produção dos
automóveis DKW seria mantida no Brasil, menos de 3 meses depois a fábrica da
Vemag no Ipiranga interrompeu a produção de seus automóveis, e suas instalações
passaram a abrigar a linha de produção da Kombi, mantendo grande parte dos
operários, e transferindo para sua planta de São Bernardo do Campo parte de seu
corpo administrativo.
Os proprietários de DKWs e seus admiradores
reclamaram muito do presidente da empresa após a venda da Vemag para a Volks, e
muitos nunca o perdoaram pela "traição", mas na versão de Lélio de
Toledo Piza, a venda de sua empresa foi a salvação de milhares de empregos, e
uma "jogada de mestre" para que os acionistas da VEMAG não perdessem
todo o seu patrimônio.
Após a venda da Vemag para a Volkswagen em 1967 seu
ex-presidente Lélio de Toledo Piza (1913-2008) foi nomeado para a presidência
do Banespa. Em 1968, Lélio fez uma viagem à Florianópolis para visitar uma
agência na capital catarinense. O funcionário destacado para buscá-lo no
Aeroporto tinha adquirido uma Vemaguet 1967 0 Km na cor azul Tramandaí. Ao
chegar na Vemaguet, Lélio ficou muito constrangido e deu um sorriso
desconcertado. Já dentro da Vemaguet, Lélio tomou timidamente a iniciativa de
começar uma conversa:
- Bonita Vemaguet
Ao que respondeu o funcionário:
- Pois é, seu Lélio, eu acreditei na Vemag e comprei
esta Vemaguet 0 Km recentemente, pouco tempo depois vocês venderam a Vemag para
a Volks e prometeram que a fabricação do DKW continuaria. Agora, estou com um
carro semi-novo desvalorizado que ninguém quer.
Lélio, vendo o inconformismo do proprietário pediu
que ele encostasse o carro e contou uma versão até então desconhecida da
história:
- Vou lhe contar o que houve, meu filho. Em 1964
fomos à Alemanha conversar com o presidente da Volkswagen alemã Heinz Nordholf,
pois a Volks havia comprado o Grupo Auto Union, que foi quem nos deu a licença
para produzir o DKW no Brasil por 10 anos. Chegando lá ele nos avisou que a
produção do DKW seria encerrada na Alemanha e que a Volkswagen não renovaria a
concessão para a Vemag, concessão esta que se encerrou no ano passado (1967).
Ele nos ofereceu a concessão dos carros Audi, mas a Vemag estava muito
endividada e os carros DKW já não vendiam tanto no Brasil, não tínhamos capital
de giro para adequar o maquinário da fábrica para a fabricação dos Audi,
portanto, a Vemag estava inviabilizada comercialmente. Daí num domingo de 1966
eu estava no Jóquei Clube de São Paulo onde também se encontrava o presidente
da Volkswagen do Brasil. Circulando entre os convidados se encontrava um
colunista social importante de São Paulo que veio me cumprimentar e me
perguntou se eu tinha alguma novidade sobre o desfecho das negociações da Vemag
com a Volkswagen. Eu respondi que as negociações com a Fiat estavam concluídas
e que todo o parque industrial da Vemag a partir de 1967 passaria a produzir
carros da FIAT sob o comando da montadora italiana. Na mesma hora a tal
colunista foi contar ao presidente da Volks que ficou branco, pois eles tem
muito medo que a FIAT se instale no Brasil e prejudique a hegemonia deles no
mercado brasileiro. Na segunda-feira ele me ligou e chamou para uma conversa em
que fez uma proposta irrecusável pela Vemag, pois com o montante pagaríamos
todas as dívidas e ainda sairíamos com algum dinheiro para os acionistas da
companhia. Se não tivesse feito isto, eles teriam feito uma proposta ridícula
pela Vemag. Durante as negociações eles prometeram que por um período manteriam
o DKW em linha no Brasil, bem como suas peças de reposição, mas infelizmente
não honraram a palavra empenhada.
Na Argentina a Volks adquiriu a subsidiária local
que montava o DKW para produzir peças de reposição, mas no Brasil entregaram a
terceiros a fabricação de peças do DKW, e devido à péssima qualidade, os DKWs
desapareceram rapidamente das ruas brasileiras.
Apesar dos esforços da
Volks para impedir, a FIAT instalou-se em Betim, Minas Gerais na década de 70,
e em 1977 lançou seu primeiro carro no Brasil, o Fiat 147, um sério concorrente
do Fusca.
FÍSICA EXPERIMENTAL DE NEUTRINOS NO BRASIL
(Texto de Fábio de Castro,
distribuído pela Agência
FAPESP) – Em março,
o experimento internacional Double Chooz publicou na Physical Review
Letters seus primeiros resultados, que incluíram uma importante descoberta
relacionada à chamada oscilação de neutrinos. A descoberta foi considerada como
um passo importante em direção à compreensão de fenômenos que poderão ajudar a
explicar a origem da assimetria entre matéria e antimatéria no Universo.
De acordo com os cientistas
brasileiros que contribuíram com o artigo, a participação brasileira no Double
Chooz permitirá que o país desenvolva, no Brasil, a Física Experimental de
Neutrinos, considerada uma das mais importantes áreas de pesquisa da
atualidade.
Com o sucesso obtido nas
primeiras medições, o Double Chooz, que começou a obter dados em 2011,
continuará a aprimorar as pesquisas. Um novo artigo acaba de ser submetido à Physical
Review Letters, também com participação da equipe brasileira, que envolve
cientistas do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas. Da UFABC e da Unicamp.
Um dos coautores do artigo que
descreve os primeiros resultados do Double Chooz, Ernesto Kemp, professor do
Departamento de Raios Cósmicos e Cronologia da Unicamp, explica que o
experimento procura medir oscilações de neutrinos com precisão sem precedentes,
ao observar antineutrinos produzidos em um reator nuclear.
“O experimento obteve uma
indicação de desaparecimento de antineutrinos do elétron durante sua propagação
entre o reator nuclear de Chooz e um detector situado a 1 quilômetro de
distância. Esse resultado nos permitiu estabelecer uma primeira medida do
chamado ângulo de mistura theta13”, disse Kemp à Agência FAPESP.
A participação brasileira teve
apoio da FAPESP com o projeto “Medidas de neutrinos em usinas nucleares”, coordenado por Pietro Chimenti,
da UFABC. João dos Anjos coordenou a equipe do CBPF.
Chimenti e Anjos também são
coautores do artigo, que teve participação de cientistas da França, Alemanha,
Estados Unidos, Reino Unido, Japão e Rússia. Kemp é um dos pesquisadores
principais do Projeto Temático “Estudo dos raios cósmicos de
mais altas energias com o Observatório Pierre Auger”, coordenado por Carola Chinellato.
A medida do ângulo de mistura
theta13, segundo Kemp, é crucial para futuros experimentos destinados a medir a
diferença entre oscilações de neutrinos e antineutrinos e a verificação de
fenômenos que poderiam vir a explicar a origem da assimetria entre matéria e
antimatéria no Universo.
“A grande conquista já foiprovar
que o ângulo theta13 tem valor diferente de zero. Havia muita especulação sobre
a medida desse ângulo e, caso o valor fosse zero – indicando a ausência da
mistura de neutrinos –, isso teria inúmeras implicações na física,
especialmente em cosmologia e astrofísica de partículas. As próximas etapas da
missão consistem em refinar cada vez mais esse valor, aumentando a precisão da
medição do ângulo”.
A contribuição brasileira
consistiu no desenvolvimento e construção de uma eletrônica capaz de medir a
energia dos múons cósmicos que cruzam o detector – os múons são partículas da
família dos léptons, como os elétrons e os taus.
“Isto possibilitará identificar e
rotular múons altamente energéticos e candidatos a produzir nêutrons por
espalação, uma das fontes mais importantes de ruído para eventos de neutrinos”,
afirmou Kemp.
A eliminação desse ruído
permitirá reduzir os erros sistemáticos na medida de theta13. A eletrônica foi
projetada no CBPF e os módulos para o detector mais distante estão sendo
construídos em cooperação com indústrias brasileiras e serão adicionados ao
detector central em 2012 por ocasião de uma parada para manutenção.
A Física de Neutrinos teve grandes avanços na última década e a comprovação experimental de que neutrinos podem oscilar entre seus diferentes estados físicos e a implicação de que possuem massa constituem um dos resultados mais importantes da física de partículas na atualidade, consolidando uma forte evidência da existência de uma física além do chamado modelo padrão.
A Física de Neutrinos teve grandes avanços na última década e a comprovação experimental de que neutrinos podem oscilar entre seus diferentes estados físicos e a implicação de que possuem massa constituem um dos resultados mais importantes da física de partículas na atualidade, consolidando uma forte evidência da existência de uma física além do chamado modelo padrão.
“O experimento já havia sido
realizado anteriormente na mesma usina nuclear de Chooz, no fim da década de
1990, em busca desse fenômeno que chamamos de oscilação de neutrinos. Mas se
descobriu que o instrumento não tinha sensibilidade suficiente para fazer uma
medida do valor. Foi possível estabelecer o valor máximo do ângulo caso
existisse oscilação. O que fizemos em 2011 serviu para provar que esse valor é
diferente de zero. Estamos nos aproximando de uma medida mais precisa”.
O ângulo de mistura é fundamental
para a compreensão do fenômeno de oscilação de neutrinos. Segundo Kemp, as
interações de partículas elementares que produzem os neutrinos podem ocorrer em
três “sabores” diferentes, que são determinados pelos léptons relacionados a
cada neutrino: elétrons, múons ou taus.
“Em determinada interação, podem
ser produzidos neutrinos com esses três sabores. Mas quando o neutrino está se
propagando, quem governa esse transporte de um ponto a outro do espaço não é o
sabor e sim a massa. A massa é feita de uma cominação de proporções diferentes
dos três sabores. Essa proporção, por sua vez, é determinada pelo ângulo de
mistura”.
Quando um antineutrino é
produzido no reator nuclear e se transporta por uma determinada distância, os
diferentes estados de massa são propagados em velocidades diferentes.
Os antineutrinos de mesma
energia, mas com estados de massa menores, propagam-se mais rápido e
vice-versa. “Durante a propagação, um fenômeno de interferência quântica entre
as massas diferentes faz com que se aumente ou diminua a chance de detectar um
neutrino de determinado sabor depois que ele percorre uma distância específica”.
O experimento tem dois detectores
localizados em distâncias escolhidas previamente e mede o fluxo de neutrinos
onde a interferência apresenta um mínimo e um máximo, possibilitando a medida
da intensidade deste efeito – ou seja, a proporção de mistura entre as
diferentes massas.
“Por isso, construímos detectores em distâncias diferentes. Um deles é construído bem próximo ao reator. Ali, sabemos que podemos medir um fluxo de neutrinos previamente conhecido por meio de cálculos teóricos. Como a distância é pequena, a interferência não muda o sabor do neutrino. Construímos outro detector a uma distância maior, onde sabemos que a interferência causará mudança de sabor, isto é, oscilação”, disse Kemp.
“Por isso, construímos detectores em distâncias diferentes. Um deles é construído bem próximo ao reator. Ali, sabemos que podemos medir um fluxo de neutrinos previamente conhecido por meio de cálculos teóricos. Como a distância é pequena, a interferência não muda o sabor do neutrino. Construímos outro detector a uma distância maior, onde sabemos que a interferência causará mudança de sabor, isto é, oscilação”, disse Kemp.
Ao construir dois instrumentos
idênticos em distâncias diferentes, os cientistas superam o problema do chamado
“erro sistemático”. “Construímos dois instrumentos idênticos, um para medir um
fluxo esperado e outro para mostrar a supressão no fluxo de antineutrinos, a
fim de observar a oscilação. Jamais vamos construir um instrumento perfeito,
pois há limitações tecnológicas. Mas, com os dois instrumentos similares,
podemos cancelar os efeitos sistemáticos que distorceriam os resultados”.
O próximo passo das pesquisas no Double Chooz consistirá em aprimorar a precisão da medida do ângulo de mistura para estabelecer o valor definido.
O próximo passo das pesquisas no Double Chooz consistirá em aprimorar a precisão da medida do ângulo de mistura para estabelecer o valor definido.
De acordo com Kemp, a principal
consequência da descoberta de que o ângulo é diferente de zero está associada
ao que os cientistas chamam de “fase de CP”. De acordo com Kemp, “C” é uma
transformação de carga das partículas e “P” é uma transformação de paridade.
“Uma transformação de CP inverte
o comportamento espacial das partículas, como em um espelho. ‘C’ troca a carga
elétrica das partículas envolvidas na interação. A fase de CP determina a
assimetria nas interações fundamentais que levam à criação de matéria e
antimatéria”.
A medida do ângulo de mistura theta13 é crucial para futuros experimentos que verifiquem a existência de violação de CP no setor leptônico. “A compreensão desse fenômeno nos abrirá as portas para explicar por que, quando se tem interações fundamentais gerando léptons, ocorre uma assimetria que leva o surgimento de matéria a superar o de antimatéria”.
A medida do ângulo de mistura theta13 é crucial para futuros experimentos que verifiquem a existência de violação de CP no setor leptônico. “A compreensão desse fenômeno nos abrirá as portas para explicar por que, quando se tem interações fundamentais gerando léptons, ocorre uma assimetria que leva o surgimento de matéria a superar o de antimatéria”.
O artigo Indication of Reactor ν̅ e
Disappearance in the Double Chooz Experiment, de Ernesto Kemp e outros,
pode ser lido no http://prl.aps.org/abstract/PRL/v108/i13/e131801.
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