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terça-feira, 14 de agosto de 2012

HISTÓRIAS DE UMA PIONEIRA DA INDÚSTRIA


(Eduardo Rey, no RioBlog) - Quem passa hoje pelos quarteirões de galpões abandonados no bairro do Ipiranga nem imagina que ali foram escritos alguns dos mais interessantes capítulos da história da indústria automobilística do Brasil.

As instalações do Ipiranga poderiam ser protegidas pelo patrimônio histórico tal sua importância para a história da indústria automobilística nacional. Muitas das imagens deste post foram obtidas no ótimo site São Paulo Antiga, Vale a pena conferir! (http://www.saopauloantiga.com.br/vemag-uma-fabrica-que-agoniza-no-tempo/)

Durante mais de uma década, ali ficava a fábrica da VEMAG - Veículos e Máquinas Agrícolas S.A, uma das pioneiras na produção de automóveis em nosso país, uma empresa nacional que foi fundada em 1945 como Distribuidora de Automóveis Studbaker Ltda, e iniciou suas operações montando caminhões e tratores americanos. (Saiba mais no http://pt.wikipedia.org/wiki/Vemag)

Em 1956, com o incentivo governamental para a fabricação de automóveis no país, obteve licença para produzir no Brasil os modelos da DKW, uma das empresas do grupo alemão Auto Union, que era formado por 4 montadoras: DKW, Horsch, Wanderer e a emblemática Audi. Entre elas estava a Audi

Os automóveis da DKW eram robustos e se adaptaram muito bem às péssimas condições de nossas ruas e estradas. Talvez tenha sido esta confiabilidade dos primeiros DKW que ajudou a formar a ótima imagem que os carros alemães tem no Brasil, e que foi consolidada com a chegada da Volkswagen.

Outra curiosidade sobre os modelos DKW era que funcionavam com motores "dois tempos", uma tecnologia que hoje está abandonada para automóveis, mas ainda é usada para motoserras, modelismo e aviões de pequeno porte, que precisam de motores mais leves com ótima relação peso x potência. (O motor de 2 Tempos do DKW você encontra no http://pt.wikipedia.org/wiki/Motor_a_dois_tempos)

Entre os motivos que levaram ao seu desuso está o fato de que poluem 30% mais do que um motor atual de 4 tempos e tem uma pior eficiência térmica. Outra desvantagem é que precisam receber óleo diretamente no tanque de combustível na proporção média de 1 para 40. A DKW contornou esta última questão com o desenvolvimento de um sistema próprio de lubrificação automática, chamado Lubrimat, que equipou seus carros no Brasil a partir de 1964.

Um dos grandes feitos da Vemag foi ter batido o recorde brasileiro de velocidade, com o protótipo Carcará, que alcançou na BR-2 Rio Santos (atual Avenida das Américas, na Barra da Tijuca, onde hoje está um Supermercado Carrefour) a marca de 212,903 km/h.

Com um design futurista e aerodinâmico projetado por Anísio Campos e um motor de apenas 1.000 cc, permanece até hoje como o recorde absoluto para automóveis 1.0.
Além da experiência com o Carcará, a Vemag teve uma das mais importantes equipes de pilotos da década de 60.

Em seu auge, a Vemag tinha mais de 4.000 funcionários trabalhando na fábrica do Ipiranga (mais exatamente na Vila Carioca), e vestir "o macacão azul" de seus operários era o sonho de 9 entre 10 metalúrgicos (isto é até citado na biografia do Presidente Lula). A Vemag foi para a época um orgulho da indústria nacional, comparável ao que é hoje a Embraer. Durante os 11 anos em que operou, foram produzidos cerca de 115.000 automóveis.

Em 1967, a Volkswagen do Brasil anunciou a compra da Vemag, uma manobra até certo ponto esperada, pois a detentora da marca DKW, a Auto Union, havia sido vendida em 1964 para a Volks alemã, transformando-se em AUDI.
Apesar das declarações de que a produção dos automóveis DKW seria mantida no Brasil, menos de 3 meses depois a fábrica da Vemag no Ipiranga interrompeu a produção de seus automóveis, e suas instalações passaram a abrigar a linha de produção da Kombi, mantendo grande parte dos operários, e transferindo para sua planta de São Bernardo do Campo parte de seu corpo administrativo.

Os proprietários de DKWs e seus admiradores reclamaram muito do presidente da empresa após a venda da Vemag para a Volks, e muitos nunca o perdoaram pela "traição", mas na versão de Lélio de Toledo Piza, a venda de sua empresa foi a salvação de milhares de empregos, e uma "jogada de mestre" para que os acionistas da VEMAG não perdessem todo o seu patrimônio.

Após a venda da Vemag para a Volkswagen em 1967 seu ex-presidente Lélio de Toledo Piza (1913-2008) foi nomeado para a presidência do Banespa. Em 1968, Lélio fez uma viagem à Florianópolis para visitar uma agência na capital catarinense. O funcionário destacado para buscá-lo no Aeroporto tinha adquirido uma Vemaguet 1967 0 Km na cor azul Tramandaí. Ao chegar na Vemaguet, Lélio ficou muito constrangido e deu um sorriso desconcertado. Já dentro da Vemaguet, Lélio tomou timidamente a iniciativa de começar uma conversa:

- Bonita Vemaguet

Ao que respondeu o funcionário:

- Pois é, seu Lélio, eu acreditei na Vemag e comprei esta Vemaguet 0 Km recentemente, pouco tempo depois vocês venderam a Vemag para a Volks e prometeram que a fabricação do DKW continuaria. Agora, estou com um carro semi-novo desvalorizado que ninguém quer.

Lélio, vendo o inconformismo do proprietário pediu que ele encostasse o carro e contou uma versão até então desconhecida da história:

- Vou lhe contar o que houve, meu filho. Em 1964 fomos à Alemanha conversar com o presidente da Volkswagen alemã Heinz Nordholf, pois a Volks havia comprado o Grupo Auto Union, que foi quem nos deu a licença para produzir o DKW no Brasil por 10 anos. Chegando lá ele nos avisou que a produção do DKW seria encerrada na Alemanha e que a Volkswagen não renovaria a concessão para a Vemag, concessão esta que se encerrou no ano passado (1967). Ele nos ofereceu a concessão dos carros Audi, mas a Vemag estava muito endividada e os carros DKW já não vendiam tanto no Brasil, não tínhamos capital de giro para adequar o maquinário da fábrica para a fabricação dos Audi, portanto, a Vemag estava inviabilizada comercialmente. Daí num domingo de 1966 eu estava no Jóquei Clube de São Paulo onde também se encontrava o presidente da Volkswagen do Brasil. Circulando entre os convidados se encontrava um colunista social importante de São Paulo que veio me cumprimentar e me perguntou se eu tinha alguma novidade sobre o desfecho das negociações da Vemag com a Volkswagen. Eu respondi que as negociações com a Fiat estavam concluídas e que todo o parque industrial da Vemag a partir de 1967 passaria a produzir carros da FIAT sob o comando da montadora italiana. Na mesma hora a tal colunista foi contar ao presidente da Volks que ficou branco, pois eles tem muito medo que a FIAT se instale no Brasil e prejudique a hegemonia deles no mercado brasileiro. Na segunda-feira ele me ligou e chamou para uma conversa em que fez uma proposta irrecusável pela Vemag, pois com o montante pagaríamos todas as dívidas e ainda sairíamos com algum dinheiro para os acionistas da companhia. Se não tivesse feito isto, eles teriam feito uma proposta ridícula pela Vemag. Durante as negociações eles prometeram que por um período manteriam o DKW em linha no Brasil, bem como suas peças de reposição, mas infelizmente não honraram a palavra empenhada.

Na Argentina a Volks adquiriu a subsidiária local que montava o DKW para produzir peças de reposição, mas no Brasil entregaram a terceiros a fabricação de peças do DKW, e devido à péssima qualidade, os DKWs desapareceram rapidamente das ruas brasileiras.

Apesar dos esforços da Volks para impedir, a FIAT instalou-se em Betim, Minas Gerais na década de 70, e em 1977 lançou seu primeiro carro no Brasil, o Fiat 147, um sério concorrente do Fusca.
FÍSICA EXPERIMENTAL DE NEUTRINOS NO BRASIL
(Texto de Fábio de Castro, distribuído pela Agência FAPESP)Em março, o experimento internacional Double Chooz publicou na Physical Review Letters seus primeiros resultados, que incluíram uma importante descoberta relacionada à chamada oscilação de neutrinos. A descoberta foi considerada como um passo importante em direção à compreensão de fenômenos que poderão ajudar a explicar a origem da assimetria entre matéria e antimatéria no Universo.
De acordo com os cientistas brasileiros que contribuíram com o artigo, a participação brasileira no Double Chooz permitirá que o país desenvolva, no Brasil, a Física Experimental de Neutrinos, considerada uma das mais importantes áreas de pesquisa da atualidade.
Com o sucesso obtido nas primeiras medições, o Double Chooz, que começou a obter dados em 2011, continuará a aprimorar as pesquisas. Um novo artigo acaba de ser submetido à Physical Review Letters, também com participação da equipe brasileira, que envolve cientistas do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas. Da  UFABC e da Unicamp.
Um dos coautores do artigo que descreve os primeiros resultados do Double Chooz, Ernesto Kemp, professor do Departamento de Raios Cósmicos e Cronologia da Unicamp, explica que o experimento procura medir oscilações de neutrinos com precisão sem precedentes, ao observar antineutrinos produzidos em um reator nuclear.
“O experimento obteve uma indicação de desaparecimento de antineutrinos do elétron durante sua propagação entre o reator nuclear de Chooz e um detector situado a 1 quilômetro de distância. Esse resultado nos permitiu estabelecer uma primeira medida do chamado ângulo de mistura theta13”, disse Kemp à Agência FAPESP.
A participação brasileira teve apoio da FAPESP com o projeto  “Medidas de neutrinos em usinas nucleares”, coordenado por Pietro Chimenti, da UFABC. João dos Anjos coordenou a equipe do CBPF.
Chimenti e Anjos também são coautores do artigo, que teve participação de cientistas da França, Alemanha, Estados Unidos, Reino Unido, Japão e Rússia. Kemp é um dos pesquisadores principais do Projeto Temático “Estudo dos raios cósmicos de mais altas energias com o Observatório Pierre Auger”, coordenado por Carola Chinellato.
A medida do ângulo de mistura theta13, segundo Kemp, é crucial para futuros experimentos destinados a medir a diferença entre oscilações de neutrinos e antineutrinos e a verificação de fenômenos que poderiam vir a explicar a origem da assimetria entre matéria e antimatéria no Universo.
“A grande conquista já foiprovar que o ângulo theta13 tem valor diferente de zero. Havia muita especulação sobre a medida desse ângulo e, caso o valor fosse zero – indicando a ausência da mistura de neutrinos –, isso teria inúmeras implicações na física, especialmente em cosmologia e astrofísica de partículas. As próximas etapas da missão consistem em refinar cada vez mais esse valor, aumentando a precisão da medição do ângulo”.
A contribuição brasileira consistiu no desenvolvimento e construção de uma eletrônica capaz de medir a energia dos múons cósmicos que cruzam o detector – os múons são partículas da família dos léptons, como os elétrons e os taus.
“Isto possibilitará identificar e rotular múons altamente energéticos e candidatos a produzir nêutrons por espalação, uma das fontes mais importantes de ruído para eventos de neutrinos”, afirmou Kemp.
A eliminação desse ruído permitirá reduzir os erros sistemáticos na medida de theta13. A eletrônica foi projetada no CBPF e os módulos para o detector mais distante estão sendo construídos em cooperação com indústrias brasileiras e serão adicionados ao detector central em 2012 por ocasião de uma parada para manutenção.

A Física de Neutrinos teve grandes avanços na última década e a comprovação experimental de que neutrinos podem oscilar entre seus diferentes estados físicos e a implicação de que possuem massa constituem um dos resultados mais importantes da física de partículas na atualidade, consolidando uma forte evidência da existência de uma física além do chamado modelo padrão.
“O experimento já havia sido realizado anteriormente na mesma usina nuclear de Chooz, no fim da década de 1990, em busca desse fenômeno que chamamos de oscilação de neutrinos. Mas se descobriu que o instrumento não tinha sensibilidade suficiente para fazer uma medida do valor. Foi possível estabelecer o valor máximo do ângulo caso existisse oscilação. O que fizemos em 2011 serviu para provar que esse valor é diferente de zero. Estamos nos aproximando de uma medida mais precisa”.
O ângulo de mistura é fundamental para a compreensão do fenômeno de oscilação de neutrinos. Segundo Kemp, as interações de partículas elementares que produzem os neutrinos podem ocorrer em três “sabores” diferentes, que são determinados pelos léptons relacionados a cada neutrino: elétrons, múons ou taus.
“Em determinada interação, podem ser produzidos neutrinos com esses três sabores. Mas quando o neutrino está se propagando, quem governa esse transporte de um ponto a outro do espaço não é o sabor e sim a massa. A massa é feita de uma cominação de proporções diferentes dos três sabores. Essa proporção, por sua vez, é determinada pelo ângulo de mistura”.
Quando um antineutrino é produzido no reator nuclear e se transporta por uma determinada distância, os diferentes estados de massa são propagados em velocidades diferentes.
Os antineutrinos de mesma energia, mas com estados de massa menores, propagam-se mais rápido e vice-versa. “Durante a propagação, um fenômeno de interferência quântica entre as massas diferentes faz com que se aumente ou diminua a chance de detectar um neutrino de determinado sabor depois que ele percorre uma distância específica”.
O experimento tem dois detectores localizados em distâncias escolhidas previamente e mede o fluxo de neutrinos onde a interferência apresenta um mínimo e um máximo, possibilitando a medida da intensidade deste efeito – ou seja, a proporção de mistura entre as diferentes massas.

“Por isso, construímos detectores em distâncias diferentes. Um deles é construído bem próximo ao reator. Ali, sabemos que podemos medir um fluxo de neutrinos previamente conhecido por meio de cálculos teóricos. Como a distância é pequena, a interferência não muda o sabor do neutrino. Construímos outro detector a uma distância maior, onde sabemos que a interferência causará mudança de sabor, isto é, oscilação”, disse Kemp.
Ao construir dois instrumentos idênticos em distâncias diferentes, os cientistas superam o problema do chamado “erro sistemático”. “Construímos dois instrumentos idênticos, um para medir um fluxo esperado e outro para mostrar a supressão no fluxo de antineutrinos, a fim de observar a oscilação. Jamais vamos construir um instrumento perfeito, pois há limitações tecnológicas. Mas, com os dois instrumentos similares, podemos cancelar os efeitos sistemáticos que distorceriam os resultados”.

O próximo passo das pesquisas no Double Chooz consistirá em aprimorar a precisão da medida do ângulo de mistura para estabelecer o valor definido.
De acordo com Kemp, a principal consequência da descoberta de que o ângulo é diferente de zero está associada ao que os cientistas chamam de “fase de CP”. De acordo com Kemp, “C” é uma transformação de carga das partículas e “P” é uma transformação de paridade.
“Uma transformação de CP inverte o comportamento espacial das partículas, como em um espelho. ‘C’ troca a carga elétrica das partículas envolvidas na interação. A fase de CP determina a assimetria nas interações fundamentais que levam à criação de matéria e antimatéria”.

A medida do ângulo de mistura theta13 é crucial para futuros experimentos que verifiquem a existência de violação de CP no setor leptônico. “A compreensão desse fenômeno nos abrirá as portas para explicar por que, quando se tem interações fundamentais gerando léptons, ocorre uma assimetria que leva o surgimento de matéria a superar o de antimatéria”.
O artigo Indication of Reactor ν̅ e Disappearance in the Double Chooz Experiment, de Ernesto Kemp e outros, pode ser lido no http://prl.aps.org/abstract/PRL/v108/i13/e131801.

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