O tráfego gerado nos dispositivos
móveis e a audiência capturada por tablets e smartphones é observada com
atenção por grandes empresas, mas ainda falta um modelo de negócio que traga
retorno aos investimentos. Marcas como Unilever e Coca-Cola afirmam que a
receita gerada com as campanhas para o meio é insipiente. “Como líderes no
segmento de bebidas, sabemos que é preciso liderarmos também em mobile, mas
precisamos encontrar modelo sustentável”, afirmou Cintia Nishio, gerente de
conexões com o consumidor da Coca-Cola durante debate no “Mobile Day”. O
evento, promovido pela MMA Latam (Mobile Marketing Association para a América
Latina) nesta quinta-feira (9), em São Paulo, é o primeiro da entidade
realizado no país e reuniu agências e clientes na capital paulista para debater
as tendências do mercado mobile.
Na Unilever, o sentimento é o mesmo e
o momento é de testar soluções. “Há ações que geram mídia, mas têm pouco
retorno efetivo. Na Unilever temos duas realidades: a de teste e a de 'always
on', de estarmos 365 dias com nossos clientes”, disse Rodrigo Moretz, gerente
de serviços de marketing digital para a América Latina da Unilever.
O número de celulares no Brasil soma
256 milhões, apontam dados da Anatel fechados em junho. Entre as principais
demandas das empresas, está a mensuração confiável do real impacto de campanhas
rodadas em tablets e smartphones. Marcas como Coca-Cola se queixam da falta de
mensuração da entrega efetiva de campanhas nos dispositivos móveis. “Um mercado
que não é bem medido, onde falta transparência, não cresce”, alertou Fábia
Juliasz, diretora executiva de novos negócios e relações societárias do Ibope.
Alex Banks, vice-presidente do
Comscore para a América Latina, destacou os desafios para medição em aparelhos
móveis, como a existência de muitos devices que precisam ser integrados nas
iniciativas de apuração. “Temos que medir o mercado para entendê-lo. Quando
houver real compreensão sobre o ROI (retorno sobre investimentos) e a
efetividade das campanhas, isso ajudará marcas a definir investimentos”,
pontuou.
O consumo de TV em conjunto ao uso da
internet pelo tablet ou smartphone é uma das fortes tendências hoje no Brasil.
Dados do Ibope mostram que 41% das pessoas que assistem televisão, ao mesmo
tempo acessam redes sociais e navegam na internet. Os números, já conhecidos,
são fortemente sentidos na ESPN, que lançará no Brasil neste semestre a plataforma
“Watch ESPN” (Assista ESPN), que soma 70 milhões de assinantes só nos Estados
Unidos. A plataforma permite ao assinante ter acesso ao conteúdo do canal onde
quiser, assistir a conteúdos adicionais — como jogos extras não transmitidos
pela ESPN — e eventos exclusivos, como os X-Games, além do serviço sob demanda.
De acordo com Luis Olivalves, diretor
da área de novos negócios no canal, o mobile ainda “está engatinhando” no
Brasil, mas é notório o fenômeno da segunda tela. “Nos EUA, o mobile é metade
de nosso tráfego digital e representa 15 milhões de views em vídeos. No Brasil,
como ainda é pequeno esse mercado, a nossa briga é para que o segmento
aumente”, disse. Uma das estratégias, segundo ele, é comercializar uma única
cota de patrocínio para digital e mobile para os anunciantes. (Propmark)
BLUMENAU
GANHA CIRCULAR BUS
Circular
Bus
passou a administrar o uso da mídia nas mais de 120 linhas de ônibus e nos 6
terminais urbanos da cidade de Blumenau. Com isso, o mercado anunciante ganhou
novas opções para a divulgação. A
empresa comercializa os espaços externos e internos dos ônibus (busdoor e apoio
para as mãos). Nos terminais serão comercializados totens, flodoor,
merchandising e os murais de classificados. Além disso, a CircularBus também
vai instalar TV em alguns veículos e nos terminais. Hoje 125mil pessoas usam
diariamente o sistema de transporte coletivo de Blumenau.
OS CATÓLICOS E O
Anteprojeto do Novo Código Penal
(Segunda parte da entrevista com
especialista em bioética, concedida pelo Pe. Helio Luciano a
Thácio Lincon
Siqueira, da ZENIT.org)
– ZENIT:
"O direito não é filho do céu. É um produto cultural e histórico da
evolução humana", frase de Tobias Barreto, que se encontra no cabeçalho da
apresentação do Anteprojeto assinado pelo Relator Geral. Essa frase, não mostra
a raiz do problema do direito na nossa época contemporânea, que elimina a
existência de um direito natural? E que autoriza, de certa forma, as sociedades
a inventarem as suas normas de conduta?
PE.HELIO - De fato, infelizmente, uma parte dos juristas brasileiros interpreta a
justiça de um modo puramente positivo. Segundo estes, o que define o certo e o
errado é apenas aquilo que está escrito na lei, mas esta não corresponderia a
nenhuma natureza humana, ou seja, não expressaria, em forma de lei, o modo como
o homem é de fato. É lógico que a expressão da natureza humana pode dar-se de
distintos modos ao longo da história – e isso também deve ser contemplado pelo
ordenamento jurídico – mas não será a cultura quem configurará o modo de ser do
homem. Consequentemente, as leis devem expressar este modo de ser – o
matrimônio, a defesa da vida, a busca do bem comum, são elementos que
transcendem a cultura, pois pertencem ao homem em si mesmo.
Mas antes de falar desta crise do direito natural é necessário falar da
crise da “verdade”. Parece que, em alguns ambientes, a “verdade” deixou de existir
– expressões típicas como “você tem a sua verdade e eu tenho a minha”,
demonstram tal crise. É certo que podemos ver a realidade desde distintas
perspectivas, mas um dos princípios mais básicos da racionalidade humana é o
princípio da não contradição – uma coisa não pode “ser” e “não ser” ao mesmo
tempo. Um exemplo mais simples: se chegarmos a um consenso absoluto – 100% dos
votos – de que uma vaca é um cavalo, não converteremos a vaca em cavalo. As
coisas existem na realidade e podemos alcançar o conhecimento delas ou não, mas
jamais podemos alcançar duas verdades contraditórias sobre a mesma realidade: a
vaca não pode ser vaca e cavalo ao mesmo tempo. Isso nos leva àquilo que o Papa
chamou de “ditadura do relativismo” – não se pode impor nada a não ser a
absoluta necessidade de ser relativista. Todos os que disserem conhecer uma
“verdade” são considerados totalitaristas ou fundamentalistas.
Parte da nossa cultura jurídica sofre também deste mal: segundo esta
cultura, seria necessário fazer um ordenamento jurídico que não possua
“verdades”, mas apenas normas. Seria a norma que converteria a realidade em
“verdade”. A “marcha da maconha”, ainda induzindo às drogas e incentivando o
tráfico, é “liberdade de expressão” – segundo o Anteprojeto do Código Penal até
mesmo o consumo pessoal de qualquer droga é lícito – enquanto defender a vida
de um feto é um desrespeito à liberdade individual.
Desta crise da “verdade” nasce a crise do direito natural. Se não existe
“verdade” não pode existir um verdadeiro modo de ser do homem. Sendo assim,
todas as liberdades devem ser respeitadas, ainda que destruam a sociedade. A
“liberdade” tomou o lugar da “verdade” – e não uma liberdade que busca o bem,
mas uma simples liberdade de escolha. Esquecemos que o que deve guiar a sociedade
é a busca do bem comum e não a busca dos bens individuais – e assim deixamos de
ser uma sociedade fraterna e nos convertemos, como diria Hobbes, em lobos para
os outros lobos.
ZENIT: No Anteprojeto, no art. 128, inciso IV
fala-se da descriminalização do aborto quando a mulher, até a décima semana,
quiser abortar, seguindo o parecer de um psicólogo. É lícito, moralmente
falando, que uma mulher decida pela vida do seu filho? A lei tem o poder de
definir isso? Não será injusto deixar para a mãe a decisão, principalmente na
hora da fraqueza?
PE.HELIO - É necessário, primeiro, distinguir o texto escrito da intenção dada ao
artigo – deixemos de lado se a confusão textual foi colocada de modo proposital
ou não. O texto mencionado diz que o aborto, até a décima segunda semana de
gestação (aproximadamente três meses), não poderia ser punido “quando o médico
ou psicólogo constatar que a mulher não apresenta condições psicológicas de
arcar com a maternidade”. Segundo o texto, o aborto não seria mais punido, pois
se alguém decide abortar, é lógico que se sente – psicologicamente – incapaz de
arcar com a maternidade. A Espanha, em 1983, aprovou o aborto com um texto
bastante similar a este. As clínicas de aborto tinham psicólogos contratados
somente para assinar os prontuários, sem nem mesmo conversar com as mães.
Por outro lado, o Anteprojeto apresenta na justificação do mesmo artigo
e inciso – tal justificação não faz parte do texto oficial – que esta
despenalização abordada no texto refere-se apenas a “estados psicológicos
mórbidos, como a adicção por entorpecentes”. Parece-me que a comissão de
juristas é suficientemente competente para redatar – se assim o quisesse – o
texto do inciso de forma clara, contemplando somente esta intenção explicitada
na justificação. Além disso, mesmo que o texto fosse claro para contemplar
somente estes casos citados, não se poderia, nem deveria tomar tal decisão sem
uma ampla consulta à sociedade, sendo esse um tema tão sensível aos
brasileiros.
UM AMBIENTE PROPÍCIO PARA ESTUDOS INOVADORES
(Texto de Elton Alisson,
distribuído pela Agência
FAPESP) – Na
Universidade da Califórnia em São Francisco (UCSF), nos Estados Unidos, às
sextas-feiras, um grupo rotativo de 50 professores de diferentes departamentos
da instituição se reúne durante o almoço para debater pesquisas em andamento em
diferentes áreas.
Periodicamente, duplas de
professores da UCSF também realizam minicursos intensivos, com duração de duas
semanas e voltados para grupos de até 12 estudantes, nos quais abordam lacunas
do conhecimento em suas respectivas áreas de pesquisa.
As duas iniciativas, além da
própria maneira como os edifícios e os programas de pesquisa desenvolvidos no
novo campus da instituição foram planejados e construídos, integram um conjunto
de medidas colocadas em ação pela UCSF nos últimos anos de modo a promover uma
colisão aleatória de pessoas e ideias em suas dependências – e, com isso, criar
um ambiente propício para o surgimento de pesquisas inovadoras.
O relato foi feito por Bruce
Alberts, professor emérito do Departamento de Bioquímica e Biofísica da UCSF e
conselheiro do presidente Barack Obama para assuntos de ciência e tecnologia,
durante conferência no dia 3 de agosto no auditório da FAPESP com o tema
“Scientific excellence: ways and means of difussion”.
Na avaliação de Alberts, que
também é editor-chefe da revista Science, é preciso que as universidades
e instituições de pesquisa se estruturem e organizem programas de pesquisa de
modo a estimular a realização de estudos inovadores e ciência de excelência.
Uma das formas para fazer isso –
que Alberts indicou com base em mais de 30 anos lidando com universidades e instituições
de pesquisa e com política científica e tecnológica – é apoiar um conjunto de
laboratórios de tamanho modesto, com no máximo 12 pesquisadores que sejam
liderados por um pesquisador independente “excelente e inovador”.
Segundo Alberts, esses laboratórios
devem ser agrupados e imersos em uma cultura de cooperação, nos quais
tecnologias e equipamentos sejam compartilhados livremente, a exemplo do que
ocorre hoje na UCSF.
“Nossos sistemas de recompensa a
pesquisa devem mudar para incentivar fortemente a originalidade e a tomada de
riscos e aceitar as falhas, que fazem parte do processo”, disse Alberts a uma
plateia composta por pesquisadores e estudantes que lotou o auditório da
FAPESP.
No fim do evento, o público
formou fila para pedir dedicatória em exemplares do livro Molecular biology
of cell, escrito pelo bioquímico em 1983 e muito utilizado por estudantes e
pesquisadores da área em todo o mundo.
Alberts contou que, no início do
governo do presidente Bill Clinton, em 1993, quando presidia a Academia
Nacional de Ciências dos Estados Unidos (NAS, na sigla em inglês), houve um
projeto de lei que defendia que para receber financiamento público toda
proposta de pesquisa deveria demonstrar as aplicações práticas de seus
resultados. “Essa medida foi vista como uma ameaça para a pesquisa básica”,
relembrou Alberts.
Como resposta à medida, a NAS
produziu uma série de folhetos e um site, destinado a políticos, tomadores de decisão e ao
público em geral, em que apresentaram estudos de caso de como uma pesquisa
básica resultou em descobertas imprevisíveis.
Um dos estudos de caso elaborados
pelos cientistas foi do Sistema de Geolocalização por Satélites (GPS, na sigla
em inglês), cujas pesquisas iniciais em física contribuíram para o
desenvolvimento da tecnologia.
“É a pesquisa básica, que muitas
vezes não tem aplicação prática no início, que leva a caminhos imprevisíveis
para as mais importantes descobertas já realizadas na ciência”, avaliou.
Na opinião de Alberts, há um
número excessivo de pesquisas sobre determinados temas que não levam a estudos
inovadores, enquanto há outras áreas de pesquisa experimentais ainda
inexploradas que podem resultar em aplicações novas e surpreendentes.
Uma das formas apontadas para
sair desse estado de inércia irracional – que segundo Alberts afeta todos os
grandes sistemas, incluindo as universidades e institutos de pesquisa – é por
meio de incentivos, entendidos como recursos financeiros para a realização de
pesquisas em áreas na fronteira do conhecimento.
“Um desafio urgente para as
universidades e agências de financiamento à pesquisa é desenvolver mecanismos
especiais para selecionar os melhores jovens pesquisadores e proporcionar a
eles os recursos de que necessitam para iniciar novas linhas de pesquisa, sem a
exigência de resultados preliminares”, afirmou.
Alberts mencionou o exemplo dos
Institutos Nacionais de Saúde (NIH, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, com
a criação do New Innovator Award. Esse auxílio é voltado para
pesquisadores com doutorado concluído há menos de dez anos, que podem propor
uma abordagem altamente inovadora a um problema científico de alto impacto, sem
a necessidade de apresentar resultados preliminares.
“Precisamos incentivar os
cientistas a saltarem de áreas de pesquisa já excessivamente exploradas para
outras, que ainda apresentam muitas lacunas e podem resultar em estudos
inovadores”, disse Alberts.
Entretanto, segundo ele, como há
um enorme número de experimentos que, em princípio, poderiam ser realizados em
áreas de pesquisa ainda inexploradas e os recursos financeiros e humanos para
isso são sempre escassos, é preciso desenvolver estratégias para decidir sobre
qual problema científico atacar.
“Meu conselho aos jovens
cientistas é que trabalhem problemas que são importantes para serem resolvidos
e que ainda não foram intensivamente explorados. Mas problemas que também
tenham outros cientistas qualificados tentando solucioná-los, com os quais possam
interagir”, indicou.
De acordo com Alberts, algumas
estratégias que têm funcionado bem na realização de pesquisas em diferentes
áreas são identificar um problema científico importante e ainda não solucionado
e inventar ou procurar novos métodos ou abordagens de resolução.
Já uma das estratégias que não
têm obtido êxito é aperfeiçoar um determinado método ou abordagem e,
posteriormente, procurar um problema científico para utilizá-lo. “Estratégia é
tudo em pesquisa”, disse Alberts.
Editor-chefe da Science
desde 2007, Alberts contou que uma das ações implementadas pela revista
publicada pela American Association for the Advancement of Science (AAAS) para
ajudar a estimular a inovação na pesquisa – de modo a ajudar a comunidade
científica a avançar em questões críticas, como a disponibilidade e o
gerenciamento de dados – é publicar, além de artigos científicos, notícias e
comentários técnicos sobre pesquisas realizadas em diferentes partes do mundo.
“Temos sessões na Science dedicadas a
notícias da semana, resumos de eventos científicos, editoriais, cartas e
resenhas de livros, que representam uma forma de tentar contemplar o que está
acontecendo em diversas áreas da ciência. Os cientistas precisam saber o que
está ocorrendo fora de suas áreas de estudo para se tornarem mais inovadores em
seus campos de pesquisa”, afirmou Alberts.
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