Responsável por projetar
estádios de futebol no mundo inteiro, inclusive no Brasil, o arquiteto alemão
Volkwin Marg afirma que eles são espaços de encenação ideológica, erguidos para
simbolizar um time ou uma nação.
"Estádios de futebol são
espaços altamente políticos", acredita o arquiteto alemão Volkwin Marg,
que projetou várias arenas pelo mundo, inclusive para a Copa do Mundo de 2014
no Brasil. Seu escritório, localizado em Hamburgo, assina os projetos do
Estádio Nacional de Brasília, da Arena da Amazônia, em Manaus, e do Mineirão,
em Belo Horizonte.
Nascido em 1936, Marg é também
responsável pela modernização do Estádio Olímpico de Berlim e por dois palcos
da Eurocopa de 2012: o Estádio Nacional em Varsóvia, na Polônia, e o Estádio
Olímpico de Kiev, na Ucrânia. Segundo o arquiteto, estádios são espaços de
encenação das massas, erguidos com a função de transmitir uma determinada
imagem de uma nação.
Deutsche Welle:Estádios de futebol são lugares grandes,
barulhentos e cheios: o que atrai as pessoas para lá?
Volkwin Marg: O homem não é apenas um indivíduo que deseja
permanentemente se defender e se distanciar dos outros, mas também é um ser
social que, sob determinadas circunstâncias, tem vontade de se misturar. Essa
ambivalência do ser humano leva sempre a uma pulsão reprimida por se inserir na
sociedade e, de preferência, se dissolver nela. O desejo de fazer parte de uma
multidão sempre pressupõe o movimentos numa mesma direção. Visto como uma união
da massa em forma mais ou menos anelar, o estádio concentra todos os interesses
dessa massa num único acontecimento no centro, enquanto isola do que está fora
dele. É a expressão física da necessidade de pertencer à massa – amplificada
acusticamente pela arquibancada totalmente coberta, que também funciona como um
refletor sonoro. De modo que a autoencenação acústica da massa é muito mais
intensa do antes: o gemido em conjunto, os protestos e os cantos rituais.
O senhor costuma frequentar
estádios esportivos?
Cresci na época do nazismo,
com os jograis rítmicos e as marchas. Frequentei a escola na Alemanha Oriental,
com as manifestações de rua – também em passo de marcha – e vivência das palmas
ritmadas. Tornei-me uma pessoa muito cética, devido a essas lembranças da
massa. A impressão que tenho dela é negativa, e por isso fico completamente
perplexo quando vejo que também a alegria pode levar a uma comunhão em massa –
por exemplo, nas palmas em ritmo. Não sou um frequentador de estádios
apaixonado, mas acabo indo sempre, por causa dos meus netos. Quando é o caso,
eles me explicam repetidamente o que é uma linha de impedimento. Fico sempre
comovido com o entusiasmo ingênuo deles, em meio à massa.
Quais são as funções de um
estádio hoje?
Um estádio é o maior local de
aglomeração. Ao mesmo tempo, é onde ocorrem os mais fantásticos eventos
contemporâneoss. Além disso, é sempre uma mensagem, ou do time, ou, muito mais
frequentemente, do lugar onde se encontram. Ele é altamente político, portanto.
E quanto aos espectadores?
Um estádio para 30 mil a 80
mil espectadores sempre significa conduzir multidões: o caminho para o estádio,
a entrada nele, a distribuição dos assentos, o intervalo, a saída do estádio.
E, ao mesmo tempo, essa condução significa uma coreografia das massas, no que
concerne aos espectadores. Além disso, existe a coreografia do evento em si,
que não se limita apenas à partida de futebol. Como as multidões não apenas são
coreografadas, mas também se encenam a si próprias, e de forma bastante
espontânea – basta pensar no canto de torcida ou na ola –, o estádio precisa oferecer
a oportunidade de autoencenação, na acústica, na ótica e com as técnicas de
iluminação.
Como os estádios foram se
adaptando às novas exigências ao longo dos anos e séculos?
No início, estádios como os
dos Jogos Olímpicos da Antiguidade eram lugares em torno dos quais o público se
aglomerava para observar como as cidades-Estados concorriam entre si em
competições paramilitares. Como a disputa sempre era codecidida pelos deuses,
tratava-se também de jogos de culto. O estágio seguinte foi o Império Romano,
quando o estádio se transformou numa gigantesca estrutura de pedra, que servia
não apenas para abrigar competições paramilitares, mas também gigantescos
espetáculos. Naquela época havia grandes anfiteatros, onde ocorriam eventos de
massa com caças de animais, lutas de gladiadores e até batalhas navais – pois
alguns estádios podiam ser inundados. Além disso, construíram-se espaços
gigantescos para corridas de cavalos, como o Circo Máximo, para mais de 250 mil
pessoas. Esses eventos às vezes duravam mais de uma semana e tinham o objetivo
de manter calmos os cidadãos, controlar o povo simples.
Como os jogos e os estádios se
transformaram na época moderna?
Quando as potências
colonizadoras e os Estados nacionais se encontravam em concorrência internacional
pelo globo, no final do século 19, surgiu a ideia dos Jogos Olímpicos como
disputas nacionalistas, ou seja: houve um novo renascimento da construção de
estádios. No século 20, a ideia olímpica se tornou altamente politizada na
Itália fascista, na Alemanha nazista e em outros países. Após a Segunda Guerra
Mundial, os jogos olímpicos aconteceram uma segunda vez na Alemanha: em 1972 em
Munique. Desta vez, porém, encenados a partir de uma visão da sociedade
totalmente diferente.
Como o Estádio Olímpico da
Berlim nazista de 1936 e o da Munique democrática de 1972 se diferenciam?
As Olimpíadas de 1936 haviam
pleiteadas pela República de Weimar, ainda em 1929, e deveriam transcorrer em
Berlim, justamente a cidade onde, em 1916, tiveram que ser canceladas devido à
Primeira Guerra Mundial. A intenção era apenas reformar o estádio olímpico já
construído. Quando os nazistas assumiram o poder em 1933, viram aí uma chance
de autoencenação. Foi criado então o Reichssportfeld (Campo Esportivo do
Reich), uma monumental composição urbana: no centro estava o estádio que dava
para o assim chamado Maifeld, um espaço de reunião para 250 mil pessoas. Mas
para Hitler, até isso era pequeno demais.
As arquibancadas do Maifeld
eram chamadas "Westwall", como as fortificações defensivas da
Primeira Guerra Mundial. No meio delas havia o edifício Langemarckhalle,
supostamente construído sobre a terra ensanguentada transportada de Langemarck,
na Bélgica, onde 50 mil soldados alemães supostamente morreram como heróis,
Primeira Guerra. No topo da torre olímpica da Langemarckhalle havia um sino com
a inscrição: "Conclamo a juventude do mundo". Nesse ambiente
necrófilo, na verdade, o sino conclamava a juventude para a morte heróica. Todo
esse complexo monumental-patético estava encenado para paradas em formação
fechada e para uma sociedade conforme, em passo de marcha.
O total oposto disso foi a
encenação de Munique em 1972, um projeto do escritório de arquitetura Behnisch
& Partner. Numa paisagem com colinas e um lago, foram erguidos pavilhões de
tetos translúcidos, cobrindo estádios e piscinas. Os caminhos que levavam até
eles e a coreografia das massas eram desenhados livremente, como num jardim
inglês. De modo que se poderia dizer que, neste caso, a coreografia era em
tempo de valsa. Era uma outra visão para os jogos da juventude mundial, numa
sociedade democrática e livre.
O senhor projetou alguns
estádios esportivos, na África do Sul, Brasil, Polônia e Ucrânia. Que
influência exerce a conjuntura política no processo? Ou no fim das contas o
fator mais importante é o orçamento?
Ambos. Quando, porém, falamos
de autoencenação, seja de uma cidade ou de uma nação, as circunstâncias
políticas são decisivas, inclusive para o financiamento. No caso de estádios
nacionais, o orçamento é calculado, via de regra, segundo os lucros
psicológicos. Mas a questão política prevalece, porque, junto com o estádio,
deve ser criado um símbolo. Basta pensar nas últimas Olimpíadas da China, na
qual foi erguido um ninho de pássaro como símbolo para o futuro do país.
Qual é o simbolismo por trás
dos estádios de Varsóvia e Kiev, palco dos jogos da Eurocopa?
O estádio nacional em Varsóvia
tem um tremendo significado para os poloneses. O estádio anterior foi erguido a
partir dos escombros produzidos pelos bombardeios alemães durante a repressão
ao levante de Varsóvia, na Segunda Guerra Mundial. Era, por isso, um monumento
para recordar a destruição, um imponente estádio elevado. Além disso, ele se
localizava no ponto onde o exército russo fez uma parada em sua marcha para
Varsóvia, a fim de esperar a repressão do levante e em seguida marchar sobre o
Rio Vístula e ocupar a cidade.
Exatamente no lugar do estádio
antigo deveria ser construído o novo, sob a condição de não tocar no primeiro
edifício. Nosso escritório de arquitetura ganhou a concorrência ao sobrepor o
novo estádio ao antigo, como uma coroa. Nós desenvolvemos o entorno da arena de
tal maneira que lembrasse uma cesta trançada nas cores nacionais da Polônia,
branco e vermelho. Agora, o estádio fica iluminado à noite, por assim dizer
como uma joia do outro lado do Rio Vístula. É uma coroa da cidade, construída
sobre a base da história.
Já o estádio em Kiev tem uma
história secular, e desde o início se situou no centro histórico da cidade.
Desde a era czarista, foi reconstruído e renomeado várias vezes. Em sua forma
mais recente, abrigava 100 mil torcedores, só que em bancos, não em assentos
individuais. Ele foi construído para as exigências do futebol comercial. Mas a
ideia era preservar sua substância, como monumento arquitetônico da história
ucraniana. (Klaudia
Prevezanos, com revisão de Augusto
Valente, no DW)
FÓSSEIS E VESTÍGIOS
PRÉ-HISTÓRICOS
Está em
cartaz até o dia 30 de setembro, no Museu da Ciência Mário Tolentino, em São
Carlos, a exposição PaleoBrasil: na trilha dos dinossauros. O evento é
organizado pela prefeitura local e pelo Departamento de Ecologia e Biologia
Evolutiva da UFSCar. A curadoria é do professor Marcelo Adorna Fernandes. Reúne
fósseis de organismos vegetais e animais que viveram há milhões de anos em solo
brasileiRO, além de meteoritos coletados
no Brasil.
Alguns
objetos, como pegadas de dinossauros impressas em rocha, foram encontrados na
região de São Carlos. A coleção também conta com fósseis de répteis aquáticos
da região de Rio Claro.
Entre os
destaques estão o esqueleto completo de um dinossauro predador do interior do
Mato Grasso, o abelissauro, com oito metros de comprimento e três metros de
altura, e também o Anhanguera, um pterossauro do Ceará com 5 metros de
envergadura. Detalhes: (16) 3307-6903 ou museudaciencia@saocarlos.sp.gov.br.
3º ENCOINTRO DA CADEIA
PRODUTIVA DA OLIVICULTURA
Termina dia 15 o prazo para inscrição de trabalhos a
serem apresentados no 3º Encontro da Cadeia Produtiva da Olivicultura, que
ocorrerá entre os dias 11 e 13 de setembro em Campinas.
O evento é
organizado pelo projeto de olivicultura Oliva SP, que reúne pesquisadores de
instituições da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), como o
Instituto Agronômico de Campinas (IAC), o Instituto de Tecnologia de Alimentos
(Ital) e o Instituto de Economia Agrícola (IEA), além de técnicos da
Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati).
O 3º
Encontro da Cadeia Produtiva da Olivicultura acontece em paralelo com a 4ª
ExpoAzeite, a maior feira de azeites do Brasil. Detalhes: www.apta.sp.gov.br/olivasp
ou pelos e-mails ebertoncini@apta.sp.gov.br e angelica@iac.sp.gov.br.
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