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terça-feira, 10 de julho de 2012

O METRÔ E AS MORTES POR POLUIÇÃO


 (Texto de Karina Toledo, distribuído pela Agência FAPESP) – Caso o Metrô de São Paulo deixasse de funcionar durante um ano inteiro, a concentração de poluentes na capital aumentaria 75% e as mortes causadas por problemas cardiorrespiratórios cresceriam entre 9% e 14%. Isso representaria um custo de US$ 18 bilhões ao município.

A estimativa foi feita por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em artigo publicado este mês no Journal of Environmental Management.
Para fazer o cálculo, os cientistas compararam o nível de poluição no ar de São Paulo em dias normais e em dias de greve de metroviários. Depois verificaram as mortes adicionais nos dias de paralisação e calcularam a perda de produtividade que isso representa no contexto estatístico da população.

“Escolhemos dois eventos de greve que duraram 24 horas, um no ano de 2003 e outro em 2006. Avaliamos então a concentração de poluentes nos dias antes, durante e depois da greve”, contou Simone Georges El Khouri Miraglia, coordenadora do estudo e membro do Instituto Nacional de Análise Integrada do Risco Ambiental (Inaira) – um dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) financiados pela FAPESP e pelo CNPq no Estado de São Paulo.

As duas situações de greve foram analisadas separadamente e comparadas com um “dia controle”. “Escolhemos uma data no mesmo mês, no mesmo ano, no mesmo dia da semana e com características meteorológicas para dispersão de poluentes similares”, explicou Miraglia.

Em 2003, a concentração de poluentes no dia controle foi de 41 microgramas por metro cúbico (µ/m3). No dia da greve o número saltou para 101,49 µ/m3. Foi encontrado o equivalente a oito mortes adicionais associadas à poluição durante a paralisação, o que representa aumento de 14% e um custo de US$ 50 milhões.

“Para avaliar o impacto econômico dessas mortes adicionais, nos baseamos em uma revisão de estudos feita pela Agência Ambiental Americana, que estabeleceu o Valor de Vida Estatística. É um valor médio que leva em conta, entre outros fatores, os rendimentos que essa pessoa teria se estivesse viva”, disse Miraglia.
No ano de 2006, o impacto encontrado foi menor. A concentração de poluição saltou de 43.99 µ/m3 no dia controle para 78.02 µ/m3 durante a greve. As mortes adicionais foram seis, o que corresponde a um aumento de quase 9% e a uma perda de produtividade de US$ 36 milhões.

“Nossa hipótese para explicar o menor impacto em 2006 foi a renovação da frota de veículos na capital. Os carros novos são menos poluentes e, por esse motivo, o nível de poluição na base do cálculo diminuiu”, disse Miraglia.

Com base nesses resultados, os pesquisadores fizeram uma estimativa do custo para a saúde caso o metrô ficasse um ano inteiro sem funcionar. “Pegamos os dados e multiplicamos por 365 dias. O resultado foi de US$ 18 bilhões. Não acho que estamos longe do valor real. Fomos até conservadores”, opinou a pesquisadora.

Economia e mais saúde

Segundo dados do Inaira, 90% da poluição atmosférica em São Paulo é gerada por carros, motos e caminhões. O transporte individual é responsável por 45% dos deslocamentos na cidade, enquanto o transporte público corresponde a 55%.
“Nossa taxa de motorização é muito alta e, diariamente, são licenciados 1.200 novos carros na capital. O cenário é insustentável. Além de imobilidade, está causando muitos outros custos sociais”, apontou Miraglia.

Entre os meios de transporte de massa, os ônibus são responsáveis por levar 71% dos passageiros, o metrô fica com 24% e o trem, com 5%. De acordo com os pesquisadores, enquanto três pistas de carro em uma avenida como a marginal do rio Tietê têm capacidade de transportar 5,45 mil passageiros por hora, uma pista de ônibus leva até 6,7 mil pessoas e um trilho de metrô, 60 mil.

“É urgente que se amplie a malha metroviária. A desculpa pela demora tem sido os altos custos de implantação e operação. Mas, quando se insere a variável socioambiental nas avaliações de custo-benefício, as vantagens para a saúde superam muito os gastos”, disse Miraglia.

Para o coordenador do Inaira e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Paulo Saldiva, todas as medidas para diminuir a poluição dão lucro. “Investimentos em transporte resultam em menos gastos no setor de saúde”, avaliou.

A pesquisa coordenada por Miraglia deu origem à tese de mestrado defendida por Cacilda Bastos Pereira da Silva no Senac/São Paulo.

O artigo Evaluation of the air quality benefits of the subway system in São Paulo, Brazil, de Cacilda Bastos Pereira da Silva e outros, pode ser lido em www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0301479712000606.

DIÁRIO DO CLIMA

Uma viagem por catorze países durante seis meses em busca de explicações e soluções para o problema do aquecimento global. No livro Diário do Clima, a repórter Sônia Bridi e o repórter cinematográfico Paulo Zero, seu marido, compartilham o que encontraram: na Austrália, o cultivo de frutas de clima seco substitui o trigo e a pecuária por conta das secas, alterando a cultura, o hábito e a rotina de antigos fazendeiros. Na Groenlândia, um terrível estrondo precede o desprendimento de um bloco de gelo do tamanho de uma casa. Na Itália, um projeto de engenharia visa impedir a inundação de Veneza, que já obriga os moradores a desocupar o primeiro andar de alguns prédios. O livro será lançado em São Paulo nesta segunda-feira (25/06), com sessão de autógrafos a partir das 19h na Livraria da Vila - Unidade Higienópolis.

Pessoalmente envolvidos no tema, para que seus futuros netos “vivam em tempos de paz e prosperidade”, e tendo feito a cobertura de diversas conferências desde a Rio 92, Sônia e Paulo fizeram uma preparação física pesada a fim de realizar a série Terra, que tempo é esse?, exibida em 2010 no Fantástico — que exigiu escaladas em picos altíssimos e o enfrentamento de atmosferas inóspitas nos cinco continentes.

Os bastidores dessa experiência, mostrando o processo de realização da série, informações detalhadas sobre a situação em vários países — entre os quais Peru, Bolívia, Islândia, Tanzânia e Butão — e entrevistas com autoridades mundiais no assunto estão reunidos em Diário do clima. Com linguagem envolvente — a ponto de o leitor sentir-se participante das aventuras —, o assunto se torna uma leitura prazerosa, em uma abordagem realista que alerta para as consequências do processo de aquecimento global sem deixar de trazer uma ponta de esperança em possíveis mudanças. A publicação inclui caderno de fotos com 48 páginas e está disponível em duas versões: brochura (com orelha assinada pela jornalista Miriam Leitão), e luxo (com capa encadernada e DVD com cenas in&ea cute;ditas da série).

A autora

Sônia Bridi nasceu em Caçador (SC). É formada em jornalismo pela UFSC. Desde 1991 é repórter da Rede Globo. Foi correspondente internacional da emissora em Londres, Nova York, Paris e Pequim, quando, juntamente com Paulo Zero, foi responsável pela implantação da emissora no Oriente. Hoje é repórter especial do Fantástico. É também autora do livro Laowai: histórias. (Plural)

OS TERMOS DA DISCUSSÃO ECOLÓGICA ATUAL

(Texto de  Leonardo Boff )- A Rio+20 provocou vasta discussão sobre questões ecológicas. Nem todos entendem os termos técnicos da temática. Publicamos aqui um artigo do mais conhecido ecologista do Estado do Rio, Arthur Soffiati, de Campos de Goytacazes,RJ, fundador do Centro Norte Fluminense para a Conservação da Natureza e publicada no dia 14 de maio de 2012 na Folha da Manhã daquela cidade. Eis a palavras principais: Ecodesenvolvimento, desenvolvimento sustentável, economia verde, pegada ecológica, antropoceno.

Há cerca de 11 mil anos, a temperatura da Terra começou a se elevar naturalmente, produzindo o derretimento progressivo da última grande glaciação. Grande parte da água, passando do estado sólido para o líquido, elevou o nível dos mares, separou terras dos continentes, formou ilhas, incentivou a formação de florestas e de outros ambientes. Os cientistas deram a esta fase nova o nome de Holoceno.

Nesses últimos 11 mil anos, restou dos Hominídeos apenas o “Homo sapiens”, que se tornou soberano em todo o planeta. Com um cérebro bem desenvolvido, ele foi desafiado pelas novas condições climáticas e domesticou plantas e animais, inventando a agropecuária, criou tecnologia para polir a pedra, inventou a roda, a tecelagem e a metalurgia. Logo a seguir, criou cidades, impérios, represas, drenagem e irrigação. Várias civilizações ultrapassaram os limites dos ecossistemas em que se ergueram, gerando crises ambientais que contribuíram para o seu fim.

Entra, então, o conceito de pegada ecológica. Ele se refere ao grau de impacto ecológico por um indivíduo, um empreendimento, uma economia, uma sociedade. A pegada ecológica das civilizações anteriores à civilização ocidental sempre teve um caráter regional, sendo reversíveis ou não. O ocidente foi a civilização que calçou as botas mais pesadas conhecidas até o momento. O peso começou com o capitalismo, que transformou o mundo.

A partir do século XV, a civilização ocidental (leia-se europeia) passou a imprimir marcas profundas com a expansão marítima. Impôs sua cultura a outras áreas do planeta. O mundo foi ocidentalizado e passou também a pisar fundo no ambiente.
Veio, então, outra grande transformação com a revolução industrial, cuja origem localiza-se na Inglaterra do século XVIII. Ela se expandiu pelo mundo, dividindo-o em países industrializados e países exportadores de matéria prima. A partir dela, começa a se criar uma outra realidade planetária, com emissões de gases causadores do aquecimento global, devastação de florestas, empobrecimento da biodiversidade, uso indevido do solo, urbanização maciça, alterações profundas nos ciclos de nitrogênio e fósforo, contaminação da água doce, adelgaçamento da camada de ozônio e extração excessiva de recursos naturais não-renováve is, que, por sua vez, produz quantidades inauditas de lixo.

Os cientistas estão demonstrando que, dentro do Holoceno (holos=inteiro+koinos=novo), a ação humana coletiva no capitalismo e no socialismo provocou uma crise ambiental sem precedentes na história da Terra porque gerada por uma só espécie. Eles estão denominando o período pós-revolução industrial do século XVIII de Antropoceno, ou seja, uma fase geológica construída pela ação coletiva do ser humano (antropos=homem+koinos=novo).

Em função dessa grande crise ou dessa nova época é que a Organização das Nações Unidas vem promovendo grandes conferências internacionais, como as Conferências de Estocolmo (1972), Rio-92 e, proximamente, a Rio+20. O objetivo é resolver os problemas do Antropoceno, seja conciliando desenvolvimento econômico e proteção do ambiente, seja buscando outras formas de desenvolvimento. A Rio-92 adotou a fórmula do desenvolvimento sustentável, que ganhou diversos sentidos, inclusive antagônicos ao original.

A Conferência Rio+20 pretende colocar em pé de igualdade as dimensões ambiental, social e econômica. A palavra mágica, agora, é economia verde, cujo conteúdo não apresenta clareza. Supõe-se que, no mínimo, signifique a substituição progressiva de fontes de energia carbono-intensivas por fontes renováveis de energia, bem como a substituição de recursos não renováveis por renováveis.

A Rio_20 mostrou que os países industrializados não querem abdicar da sua posição; os países emergentes querem alcançar os industrializados; e os países pobres querem ser emergentes. Enquanto não houver entendimento acerca dos limites do planeta, inútil pensar em justiça social e desenvolvimento econômico. Por conseguinte, o ambiente é mais importante que o social e o econômico, já que sem ele não se pode encontrar solução para os outros dois. Por outro lado, o conceito de ecodesenvolvimento parece ser o mais correto enquanto tática e estratégia. (Fonte: Plural)

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