Quase metade (49%) das vagas abertas em processos
seletivos de universidades, centros universitários e faculdades não é ocupada
no Brasil. O número de cadeiras ociosas ainda cresce no decorrer da graduação,
já que dos alunos que ingressam nos cursos apenas 53% obtêm o diploma. No
Paraná, os números são semelhantes: a cada 100 oportunidades oferecidas a novos
estudantes no ensino superior, 53 são aproveitadas. E, dos universitários que
ingressam nos cursos, somente 29 concluem a formação.
Os dados estão no Censo da Educação Superior de
2010, que traz os números mais recentes sobre o tema. A rede particular é onde
a ociosidade aparece com mais intensidade, embora as públicas também registrem
o problema.
Procura
Prestígio social dos cursos influencia na formação
das turmas
Segundo a coordenadora do curso de Pedagogia das
Faculdades Integradas do Brasil (UniBrasil), Paulla Helena Silva de Carvalho, o
não preenchimento de todas as vagas em cursos de licenciaturas, seja em
instituições públicas ou privadas, tem muito a ver com a imagem feita do
profissional de educação básica. “É difícil encontrar hoje um professor de
Química ou Física, porque quem se forma nessas áreas quer ser é químico ou
físico, e não dar aulas”, diz.
Critérios subjetivos de valorização de alguns cursos
e algumas instituições seriam, inclusive, mais relevantes na escolha feita
pelos estudantes do que rankings ou índices de medição de qualidade. É o que
diz Luana Kava, responsável por programas de orientação profissional no Colégio
Decisivo. “Os alunos raramente falam sobre os índices do MEC”, afirma. Essa
seria a razão pela qual as universidades federais nunca perdem seu prestígio,
ainda que alguns dos cursos mais bem avaliados nem sempre sejam ofertados por
elas. O professor de Psicologia Décio Zanoni Júnior, da Faculdade Dom Bosco,
confirma a importância relativa desses índices, mas diz que há uma tendência de
que eles ganhem relevância no processo de escolha.
Evasão
Nas públicas, desistência é principal fator de
preocupação
Com índices de concorrência muito maiores, as
instituições públicas naturalmente ficam mais próximas de preencher a
totalidade de vagas oferecidas nos processos seletivos e nas chamadas
complementares. Os números da evasão, por outro lado, preocupam. Para cada 100
vagas oferecidas no Brasil, são feitas 92 matrículas, mas apenas 40 alunos
chegam à formatura.
Segundo Cláudio Puríssimo, coordenador do curso de
Agronomia da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), que está entre os
mais bem avaliados do país, o total de vagas só não é preenchido na primeira
chamada em função da cultura de se prestar vestibular em várias instituições.
“Estudantes de outros estados ou cidades fazem a prova e depois optam por não
vir”, diz. Já as causas da desistência no decorrer desse e de outros cursos são
múltiplas.
As vagas oferecidas pelo Programa de Ocupação de
Vagas Remanescentes (Provar) da UFPR dão algumas pistas sobre os motivos do
abandono. Cursos que exigem permanência em tempo integral do estudante na
universidade, reduzindo as possibilidades de trabalho remunerado, estão entre
os que mais abrem vagas remanescentes.
O curso integral de Química, por exemplo, ofereceu
11 vagas para serem repostas no início de 2012, e o de Agronomia, 18. Em toda a
universidade foram oferecidas 299 vagas para transferências de outras
instituições. A média gira em torno de 4 vagas por curso.
Sisu
Na Universidade Tecnológica Federal do Paraná
(UTFPR), onde é usado o Sistema de Seleção Unificada (Sisu) do MEC, algumas
vagas permaneceram abertas devido ao não comparecimento de alunos chamados. O
Sisu é um sistema on-line que seleciona alunos de todo o país com base na nota do
Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Os candidatos não precisam se deslocar
até a cidade onde a instituição está localizada para prestar o vestibular.
As instituições de ensino superior privadas abriram
no Paraná cerca de 160 mil vagas e, ainda que 170 mil candidatos tenham
participado de vestibulares, pouco mais de 68 mil alunos se matricularam.
Segundo o consultor educacional Renato Casagrande, essa discrepância é
explicada, em parte, pela falta de critério técnico na abertura de vagas.
“Raramente se faz uma pesquisa de mercado rigorosa.
As universidades lançam um curso e se ele não vinga elas fecham e lançam outro.
É uma decisão muito intuitiva”, avalia.
O consultor conta que um cálculo simples costuma ser
usado pelo setor na tentativa de prever a demanda e definir o número de vagas a
serem abertas.
A concorrência no vestibular da Universidade Federal
do Paraná (UFPR) seria a principal referência. Do número de candidatos é
subtraída a quantidade de vagas oferecidas pela instituição e o resultado é
dividido pela quantidade de instituições privadas que oferecem o mesmo curso na
cidade.
Esse procedimento só pode ser executado pelas
universidades, já que faculdades e centros universitários têm menos autonomia e
dependem de autorização do MEC para abrir cursos ou ampliar vagas. Mesmo assim,
segundo Casagrande, é comum esses estabelecimentos pedirem ao MEC mais vagas do
que realmente pretendem abrir, pois assim não precisam fazer uma nova
solicitação no caso de a procura pelo curso ser grande.
Mensalidade cara
Essas questões administrativas ajudam a inflar as
diferenças apontadas pelo censo, mas a evasão motivada pela dificuldade de
pagar as mensalidades resulta em números ainda maiores.
O curso de Engenharia Mecânica, por exemplo, um dos
mais caros nas universidades particulares de Curitiba (com mensalidades que
variam entre R$ 1.279 e R$ 1.876), forma no país, em média, apenas 7% dos
alunos que se matriculam no primeiro período das particulares.
Para Casagrande, o Programa de Financiamento
Estudantil (Fies) e o Programa Universidade Para Todos (Prouni), que concede
bolsas em instituições de ensino superior particulares, são boas iniciativas,
mas oferecem vagas numa proporção muito abaixo das necessidades do Brasil. “Se
você compara com as linhas de crédito para habitação e automóveis, pode-se
notar como esses programas são tímidos”, diz.
Graduação não tem desistência há quase 4 anos
De acordo com o coordenador do curso de Agronomia na
UEPG, Cláudio Puríssimo, há quase quatro anos o curso não tem desistências, e a
fila de candidatos só cresce. O resultado positivo teria origem na reputação
construída desde o início da adoção de sistemas de avaliação pelo MEC.
O curso passou quatro vezes pelo antigo Provão e
obteve conceito A em todas as edições, feito alcançado por apenas outras três
graduações no país. Desde que o Enade foi implantado, somente em 2004 o curso
não obteve a nota máxima, conquistada em todas as edições posteriores. Hoje, é
a única graduação de Agronomia do país com duas notas 5 seguidas. A demanda
levou a universidade a aumentar recentemente o número de vagas anuais de
Agronomia, de 45 para 60.
(Gazeta do Povo)
ALERGIA
AFETA TRABALHADORES DE LABORATÓRIOS
(Texto de Karina Toledo, distribuído pela Agência FAPESP) – Mais
de 16% dos pesquisadores e funcionários que atuam em biotérios e laboratórios
desenvolvem alergias às proteínas eliminadas na urina, na saliva ou nos pelos
dos animais. Embora a exposição constante a esses alérgenos coloque os
trabalhadores em risco de desenvolver doenças como asma, apenas 19,4% usam
máscara de proteção de forma rotineira.
Os dados são de uma pesquisa feita na Faculdade de
Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (FMRP/USP), coordenada
pelo professor Elcio dos Santos Oliveira Vianna e financiada pela FAPESP.
A equipe investigou 455 trabalhadores, entre
funcionários, estagiários e estudantes de graduação e pós-graduação, que lidam
diretamente com cinco espécies de animais: ratos, camundongos, cobaias, coelhos
e hamsters.
“Para aumentar a abrangência do estudo foram
incluídos voluntários que atuam nos laboratórios e biotérios da USP de Ribeirão
Preto e também da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)”, disse Vianna.
Outros 387 trabalhadores dessas duas instituições
foram recrutados para compor o grupo controle. “Nesse caso, escolhemos funções
com baixa exposição a substâncias alergênicas, como as da área administrativa,
motoristas e técnicos de informática”, explicou Vianna.
Os cientistas submeteram voluntários dos dois grupos
a testes cutâneos para ver quantos reagiam aos alérgenos mais comuns, como
proteínas de ácaros, fungos, grama, cachorro, gato e barata. Em seguida, outro
teste cutâneo foi feito com alérgenos dos cinco animais de laboratório.
No teste de alergia geral, o índice de
sensibilização foi semelhante nos dois grupos. Já no teste específico para
animais de laboratório, o grupo exposto apresentou índice de 16,4% de
sensibilização, enquanto o grupo controle apresentou índice de 3%.
“Esses 16,4% já se tornaram alérgicos a animais de
laboratório e, quanto mais tempo continuarem se expondo a esse ambiente sem
proteção adequada, mais forte essa reação vai se tornar. O primeiro passo é a
rinite, mas o quadro pode eventualmente piorar para asma”, disse Vianna.
As alergias respiratórias são as mais comuns nessas
situações, pois as proteínas eliminadas pelos animais ficam suspensas no ar e
são aspiradas pelos trabalhadores.
“Por isso o uso de máscaras é tão importante nesses
casos, mas apenas 19,4% dos voluntários declararam fazer uso desse equipamento
de proteção individual todas as vezes que manuseavam animais”, disse Vianna.
Já o uso de luvas foi bem mais frequente: 78%
disseram usar rotineiramente. Embora os equipamentos de proteção individual
estivessem disponíveis em quase todos os laboratórios avaliados no estudo,
apenas 20% dos voluntários disseram ter recebido orientação sobre a importância
de usá-los.
Prevenção
“Um dos objetivos do nosso estudo é avaliar a
necessidade de programas de prevenção nas universidades. No futuro, pretendemos
propor algumas metodologias e testar se são eficazes”, disse Vianna.
Na Alemanha, segundo o pesquisador, foi possível
reduzir o índice de sensibilização a menos de 1% graças a programas de proteção
individual e também ambiental.
Dados de uma pesquisa anterior coordenada por
Vianna, publicada no periódico Occupational & Enviromental Medicine,
apontaram que 4% dos jovens entre 23 e 25 anos de idade no Brasil têm quadro de
asma relacionada ao trabalho.
“A prevalência de asma na população como um todo é
de 10%. Vimos que 4% dos jovens adultos têm um quadro de asma que ou começou ou
foi agravado no ambiente de trabalho. E 2,7% desenvolveram asma apenas por
causa do trabalho”, disse Vianna.
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