Pesquisar este blog

domingo, 2 de dezembro de 2012

DOMINGO É DIA DE AUDITORIA


AUDITORIA DA COMUNICAÇÃO

 

AS PALAVRAS

 

“O desenvolvimento de competências humanas depende essencialmente de três fatores: do interesse da pessoa por aprender, de um ambiente de trabalho que incentive a aprendizagem; e do sistema de educação corporativa disponível ao indivíduo.”(Le Boterf)

 

 

NÃO SÓ EU PENSO ASSIM

 Augusto Nunes, da  Veja, mostra a foto que comentei aqui semana passada, de Dilma cumprimentando de cara amarrada, o novo presidenter do STF, e comenta, do o título O Sorriso e o Esgar:

“A foto de Dida Sampaio é mais que o registro do momento em que Dilma Rousseff, presidente da República há quase dois anos, cumprimentou o ministro Joaquim Barbosa, que acabara de assumir a presidência do Supremo Tribunal Federal.
 
A imagem documenta a colisão frontal, consumada em estridente silêncio, entre um homem e uma mulher assaltados por sentimentos opostos e movidos por antagônicos estados de ânimo.

O chefe do Poder Judiciário está feliz, de bem com a vida. A chefe do Poder Executivo está contrafeita, nas fímbrias da amargura. Joaquim Barbosa é o anfitrião de uma festa. Dilma Rousseff é a convidada que nada tem a festejar. Está lá por não ter conseguido livrar-se do convite.

Ele se sente em casa e pensa no que fará daqui por diante. Ela pensa no que ele fez e anda fazendo. E se sente obrigada a enviar um recado fisionômico ao padrinho e aos condenados no julgamento do mensalão: se pudesse, estaria longe dali.
Só ele sorri. O sorriso contido informa que o ministro não é homem de exuberâncias e derramamentos. Mas é um sorriso. Os músculos faciais se distenderam, os dentes estão expostos, o movimento da pálpebra escavou rugas nas cercanias do olho esquerdo.

A presidente não sorri. (O companheiro ministro Ricardo Lewandowski foi premiado com sorriso e dois ósculos). Na foto, o que se vê no rosto da presidente é um esgar. A musculatura contraída multiplica os vincos na face direita, junta os lábios num bico pronunciado e assimétrico, faz o olhar passar ao largo do homem à sua frente.

O descompasso das almas é sublinhado pelas mãos que não se apertam. A dele ao menos se abre. A dela, nem isso. Dilma apenas toca Joaquim com a metade dos quatro dedos. Ele a cumprimenta como quem acabou de chegar. Ela esboça um cumprimento de quem não vê a hora de partir.

Conjugados, tais detalhes sugerem que, se Joaquim Barbosa sabe que chefia um dos três Poderes independentes e soberanos, Dilma Rousseff imagina chefiar um Poder que dá ordens aos outros. Ela já deveria ter aprendido com o julgamento do mensalão que as coisas não são assim. A maioria dos ministros é imune a esgares.
Ministros do STF que temem carrancas nem precisam vê-las para atender aos interesses do governo. Não são juízes. São companheiros. Por enquanto, são dois.”
 
TÁ NO FACEBOOK DO SARDÁ:

 

PUBLICIDADE DE ARREPIAR

 

Ao me arrepiar com o anúncio da Stihl, em que um cidadão, com soprador costal, limpando seu jardim, desperta paixão em mulheres, reforcei a tese de que a criação da grande maioria das agências de publicidade se encontra em zona de conforto e se acha intocável. Primeiro que predominam em anúncios de TV artistas e jogadores, justamente porque fica mais fácil de criar uma peça publicitária.

 

Basta mostrar uma bela artista ou um Neymar com cara de enigmático (ele faz sete anúncios simultâneos) e tá montada a peça. O telespectador olha a artista e o Neymar e nem dá bola para a mensagem. E, claro, o percentual da agência sobre o cachê do artista e do jogador não é de dispensar.

 

Gostaria de desafiar as agências, com a ajuda do meu amigo Eloy Simões, a criar anúncios bons, convidativos, atraentes sem se utilizar de artistas e jogadores. Investir no conteúdo, no produto, na marca e convencer o consumidor a comprar. Será que os times de criação conseguem bater uma boa bola sem os craques do futebol e da TV? Tenho minhas dúvidas, a menos que o empresariado comece a descobrir que está gastando muito com gente famosa.

 

Ah, em tempo: vocês já ouviram no rádio o anúncio de uma fábrica de remédios genéricos, em que Ronaldinho, sua mãe e seus filhos dizem que só usam essa marca? Será que Ronaldinho está gordo de tanto genérico que anda tomando? Mas, me expliquem uma coisa: o que tem Ronaldinho, sua mãe e os filhos com genérico? Será que um doente que vai à farmácia em busca de genérico, justamente para gastar menos, adverte o farmacêutico que quer o genérico do Ronaldinho?  Será que Ronaldinho é uma esperança de cura?

 

Concordo inteiramente.

 

O PALAVRÃO NA ALEMANHA

 

"O sujo e o úmido – Pequena linguística da linguagem vulgar", de Hans-Martin Gauger, especula sobre fixação de insultos germânicos no âmbito fecal, enquanto o sexual é regra. E argumenta: talvez os alemães tenham razão.


"Verdammte Scheisse!" e "Leck mich doch am Arsch!" são possivelmente os impropérios mais populares entre os alemães. No entanto, no resto do mundo não servem de grande coisa. Que efeito tem, para ouvidos brasileiros, "Maldita merda", ou "Vem lamber a minha bunda"?


Mesmo dentro do continente europeu, as diferenças são marcantes. Espanhóis, italianos, franceses e também ingleses costumam empregar palavrões que causam espanto nos países germanófonos por serem, em geral, de fundo sexual, enquanto os alemães se fixam mais nas imagens fecais.


Hans-Martin Gauger se especializou na linguística dos palavrões
O assunto foi pesquisado pelo filólogo Hans-Martin Gauger. O renomado romanista, membro da Academia Alemã de Língua e Poesia, estudou minuciosamente onde e como se insulta na Europa. O resultado é surpreendente: os alemães xingam diferente dos outros.


O caso Zidane


"Interessou-me o fato de a grande maioria dos europeus apelar para a esfera sexual ao expressar algo negativo, ao ofender, maldizer, insultar." Sobretudo no Sul, quase nenhuma ofensa deixa de evocar o contexto sexual.


Gauger cita um conhecido exemplo recente. Na Copa do Mundo de 2006, após uma falta, o craque da seleção francesa Zinedine Zidane castigou seu colega italiano Marco Materazzi com uma brutal cabeçada, em pleno campo. Para os alemães, o motivo da agressão pareceu desconcertante.


E, no entanto, Materazzi ofendera Zidane seriamente. À provocação do francês – "Se você gosta tanto assim da minha camisa, pode ficar com ela depois" – ele respondera: "Eu prefiro a piranha da tua irmã".


Hans-Martin Gauger analisa: "Primeiro, foi uma ofensa pesada, depois um insulto, com dupla referência sexual: Materazzi disse que queria a irmã do outro, e ainda por cima a chamou de 'piranha'". Mais tarde, o italiano se justificou: afinal, só dissera a primeira coisa que viria à cabeça de qualquer um, numa situação assim.


"Foi isso o que veio à cabeça dele, o italiano, o 'latino'; a nós, jamais ocorreria algo assim, nem como primeira, nem como segunda opção", comenta o linguista. Um alemão, nessas circunstâncias, teria dito algo como "Verpiss Dich" ou "Hau ab Du Arschloch" (aproximadamente: "Vai mijar em outro poste" e "Vai te catar, cara de cu").


Escultura homenageia "façanha" de Zinedine Zidane, diante do Centre Georges Pompidou


Especificidade alemã


Essas diferenças no jeito de insultar são também observáveis em relação ao inglês. "Num dicionário normal, to fuck é traduzido como 'foder, copular'. Esse é o significado direto, mas não o coloquial. No uso figurado, costuma-se traduzir 'Scheisse' [merda] por 'fuck it'; e, por 'fuck you' e 'get fucked', 'Du Scheisskerl' e 'Leck mich am Arsch' [Cara de merda, Vem lamber a minha bunda]."


"Quando, num verbete de dicionário, se compara os originais ingleses com os equivalentes alemães, nota-se que quase sempre uma expressão sexual no inglês corresponde a uma escatológica no alemão. Ou, como se diria em alemão, há uma correspondência de merda", brinca Gauger.


O linguista alemão fala de uma "especificidade germânica". Ou, antes, de uma especificidade dos países germanófonos, já que também fez constatações comparáveis na Áustria e na Suíça de idioma alemão.


Em contrapartida, quase todo resto da Europa é "sexualmente orientado". Isso também se aplica ao Leste, em especial à língua russa, aos idiomas eslavos, mas também ao turco. Gauger só encontrou umas poucas exceções. Entre os suecos, por exemplo, as ofensas trazem um componente fortemente religioso.
Hans-Martin Gauger reuniu essas e outras observações em seu livro Das Schmutzige und das Feuchte – Kleine Linguistik der vulgären Sprache (O sujo e o úmido – Pequena linguística da linguagem vulgar), documentando-as através de uma série de exemplos.


Escatológico versus sexual


No entanto, em entrevista à DW, o filólogo não sabe ao que atribuir o componente fortemente religioso das ofensas típicas dos suecos. As tentativas de uma justificativa histórica, por exemplo com base nos distintos caminhos confessionais, não levaram muito longe.


O estudioso também dá pouca fé às tentativas de interpretação, propostas por círculos norte-americanos, segundo as quais a fixação dos alemães no âmbito anal, em seus insultos, estaria fundamentada no caráter nacional.


Ele considera pouco científicas as teorias apresentadas, entre outros, pelo antropólogo Alan Dundes em seu livro de 1984 Life is like a chicken coop ladder: A study of German national character through folklore (A vida é como uma escada de galinheiro: Um estudo do caráter nacional alemão através do folclore).


Afinal, ressalta, a divisão entre ofensas de caráter sexual e escatológico já se manifestava em épocas em que ainda nem existia uma identidade germânica, como a conhecemos hoje.


Para os alemães que se sintam ofendidos com a acusação de fixação anal, o filólogo tem um argumento: "Na verdade, é algo que não se pode, absolutamente, criticar. Afinal, nós designamos algo negativo com atributos claramente negativos". Em outras palavras: os insultos germânicos teriam mais lógica do que os do resto do mundo.


Além do mais, é provável mesmo que dentro de algumas décadas

todas as partes. Pelo menos na linguagem dos jovens, a Alemanha vem se aproximando do resto da Europa. Muitos deles já insultam, hoje, com expressões de cunho sexual. E cada um que decida por si se este é um sinal de progresso...
Autoria: Michael Marek / Augusto Valente
Revisão: Francis França. Publicado no DW.DE.

 

Quem teve a sorte de ler Linguagem do Pensamento e Ação, de S. I. Hayakawa, lançado no Brasil em 1972 pela Pioneira, compreende bem esse texto. Sobretudo no trecho em que Hayakawa afirma que grandes problemas de ordem internacional poderiam  ser evitados se cada negociador entendesse o sentido das palavras ditas durante as negociações.

 

FICOU UM GRANDE VAZIO

 

Conversei poucas vezes com Joelmir Beting. A última foi durante a ditadura. Joelmir me ligou, preocupado

 

“Vá com calma, Elóy. Dê uma no ferro, outra na ferradura.”

 

Joelmir se referia ao meu jeito de escrever, inconformado com a ditadura e com as pessoas que se diziam de esquerda antes do golpe mas que passaram rapidinho para a banda dos militares.

 

Nunca mais nos falamos, cada um seguindo seu próprio caminho. Agora, lendo o que escrevem sobre ele, vejo o quanto perdi com esse distanciamento. Pena que se esquecem de citar o Na Prática a Teoria é Outra uma obra prima que ele escreveu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário