AUDITORIA DA COMUNICAÇÃO
AS PALAVRAS
“O desenvolvimento de competências humanas depende
essencialmente de três fatores: do interesse da pessoa por aprender, de um
ambiente de trabalho que incentive a aprendizagem; e do sistema de educação
corporativa disponível ao indivíduo.”(Le Boterf)
NÃO SÓ EU PENSO ASSIM
Augusto
Nunes, da Veja, mostra a foto que
comentei aqui semana passada, de Dilma cumprimentando de cara amarrada, o novo
presidenter do STF, e comenta, do o título O Sorriso e o Esgar:
“A foto de Dida Sampaio é mais que o registro do momento
em que Dilma Rousseff, presidente da República há quase dois anos,
cumprimentou o ministro Joaquim Barbosa, que acabara de assumir a presidência
do Supremo Tribunal Federal.
A imagem documenta a colisão frontal, consumada em
estridente silêncio, entre um homem e uma mulher assaltados por sentimentos
opostos e movidos por antagônicos estados de ânimo.
O chefe do Poder Judiciário está feliz, de bem com a vida.
A chefe do Poder Executivo está contrafeita, nas fímbrias da amargura.
Joaquim Barbosa é o anfitrião de uma festa. Dilma Rousseff é a convidada que
nada tem a festejar. Está lá por não ter conseguido livrar-se do convite.
Ele se sente em casa e pensa no que fará daqui por diante.
Ela pensa no que ele fez e anda fazendo. E se sente obrigada a enviar um
recado fisionômico ao padrinho e aos condenados no julgamento do mensalão: se
pudesse, estaria longe dali.
Só ele sorri. O sorriso contido informa que o ministro não é homem de exuberâncias e derramamentos. Mas é um sorriso. Os músculos faciais se distenderam, os dentes estão expostos, o movimento da pálpebra escavou rugas nas cercanias do olho esquerdo.
A presidente não sorri. (O companheiro ministro Ricardo
Lewandowski foi premiado com sorriso e dois ósculos). Na foto, o que se vê no
rosto da presidente é um esgar. A musculatura contraída multiplica os vincos
na face direita, junta os lábios num bico pronunciado e assimétrico, faz o
olhar passar ao largo do homem à sua frente.
O descompasso das almas é sublinhado pelas mãos que não se
apertam. A dele ao menos se abre. A dela, nem isso. Dilma apenas toca Joaquim
com a metade dos quatro dedos. Ele a cumprimenta como quem acabou de chegar.
Ela esboça um cumprimento de quem não vê a hora de partir.
Conjugados, tais detalhes sugerem que, se Joaquim Barbosa
sabe que chefia um dos três Poderes independentes e soberanos, Dilma Rousseff
imagina chefiar um Poder que dá ordens aos outros. Ela já deveria ter
aprendido com o julgamento do mensalão que as coisas não são assim. A maioria
dos ministros é imune a esgares.
Ministros do STF que temem carrancas nem precisam vê-las para atender aos interesses do governo. Não são juízes. São companheiros. Por enquanto, são dois.” |
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TÁ NO FACEBOOK DO SARDÁ:
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PUBLICIDADE DE
ARREPIAR
Ao
me arrepiar com o anúncio da Stihl, em que um cidadão, com soprador costal,
limpando seu jardim, desperta paixão em mulheres, reforcei a tese de que a
criação da grande maioria das agências de publicidade se encontra em zona de
conforto e se acha intocável. Primeiro que predominam em anúncios de TV
artistas e jogadores, justamente porque fica mais fácil de criar uma peça
publicitária.
Basta
mostrar uma bela artista ou um Neymar com cara de enigmático (ele faz sete
anúncios simultâneos) e tá montada a peça. O telespectador olha a artista e o
Neymar e nem dá bola para a mensagem. E, claro, o percentual da agência sobre o
cachê do artista e do jogador não é de dispensar.
Gostaria
de desafiar as agências, com a ajuda do meu amigo Eloy Simões, a criar anúncios
bons, convidativos, atraentes sem se utilizar de artistas e jogadores. Investir
no conteúdo, no produto, na marca e convencer o consumidor a comprar. Será que
os times de criação conseguem bater uma boa bola sem os craques do futebol e da
TV? Tenho minhas dúvidas, a menos que o empresariado comece a descobrir que
está gastando muito com gente famosa.
Ah,
em tempo: vocês já ouviram no rádio o anúncio de uma fábrica de remédios
genéricos, em que Ronaldinho, sua mãe e seus filhos dizem que só usam essa
marca? Será que Ronaldinho está gordo de tanto genérico que anda tomando? Mas,
me expliquem uma coisa: o que tem Ronaldinho, sua mãe e os filhos com genérico?
Será que um doente que vai à farmácia em busca de genérico, justamente para
gastar menos, adverte o farmacêutico que quer o genérico do Ronaldinho?
Será que Ronaldinho é uma esperança de cura?
Concordo
inteiramente.
O PALAVRÃO NA
ALEMANHA
"O sujo e o
úmido – Pequena linguística da linguagem vulgar", de Hans-Martin Gauger,
especula sobre fixação de insultos germânicos no âmbito fecal, enquanto o
sexual é regra. E argumenta: talvez os alemães tenham razão.
"Verdammte Scheisse!" e "Leck mich doch am Arsch!" são possivelmente os impropérios mais populares entre os alemães. No entanto, no resto do mundo não servem de grande coisa. Que efeito tem, para ouvidos brasileiros, "Maldita merda", ou "Vem lamber a minha bunda"?
Mesmo dentro do
continente europeu, as diferenças são marcantes. Espanhóis, italianos,
franceses e também ingleses costumam empregar palavrões que causam espanto nos
países germanófonos por serem, em geral, de fundo sexual, enquanto os alemães
se fixam mais nas imagens fecais.
Hans-Martin
Gauger se especializou na linguística dos palavrões
O assunto foi pesquisado pelo filólogo Hans-Martin Gauger. O renomado romanista, membro da Academia Alemã de Língua e Poesia, estudou minuciosamente onde e como se insulta na Europa. O resultado é surpreendente: os alemães xingam diferente dos outros.
O assunto foi pesquisado pelo filólogo Hans-Martin Gauger. O renomado romanista, membro da Academia Alemã de Língua e Poesia, estudou minuciosamente onde e como se insulta na Europa. O resultado é surpreendente: os alemães xingam diferente dos outros.
O caso Zidane
"Interessou-me
o fato de a grande maioria dos europeus apelar para a esfera sexual ao
expressar algo negativo, ao ofender, maldizer, insultar." Sobretudo no Sul,
quase nenhuma ofensa deixa de evocar o contexto sexual.
Gauger cita um
conhecido exemplo recente. Na Copa do Mundo de 2006, após uma falta, o craque
da seleção francesa Zinedine Zidane castigou seu colega italiano Marco
Materazzi com uma brutal cabeçada, em pleno campo. Para os alemães, o motivo da
agressão pareceu desconcertante.
E, no entanto,
Materazzi ofendera Zidane seriamente. À provocação do francês – "Se você
gosta tanto assim da minha camisa, pode ficar com ela depois" – ele
respondera: "Eu prefiro a piranha da tua irmã".
Hans-Martin
Gauger analisa: "Primeiro, foi uma ofensa pesada, depois um insulto, com
dupla referência sexual: Materazzi disse que queria a irmã do outro, e ainda
por cima a chamou de 'piranha'". Mais tarde, o italiano se justificou:
afinal, só dissera a primeira coisa que viria à cabeça de qualquer um, numa
situação assim.
"Foi isso o
que veio à cabeça dele, o italiano, o 'latino'; a nós, jamais ocorreria algo
assim, nem como primeira, nem como segunda opção", comenta o linguista. Um
alemão, nessas circunstâncias, teria dito algo como "Verpiss Dich" ou
"Hau ab Du Arschloch" (aproximadamente: "Vai mijar em outro
poste" e "Vai te catar, cara de cu").
Escultura
homenageia "façanha" de Zinedine Zidane, diante do Centre Georges Pompidou
Especificidade
alemã
Essas diferenças
no jeito de insultar são também observáveis em relação ao inglês. "Num
dicionário normal, to fuck é traduzido como 'foder, copular'. Esse é o
significado direto, mas não o coloquial. No uso figurado, costuma-se traduzir
'Scheisse' [merda] por 'fuck it'; e, por 'fuck you' e 'get fucked', 'Du
Scheisskerl' e 'Leck mich am Arsch' [Cara de merda, Vem lamber a minha
bunda]."
"Quando,
num verbete de dicionário, se compara os originais ingleses com os equivalentes
alemães, nota-se que quase sempre uma expressão sexual no inglês corresponde a
uma escatológica no alemão. Ou, como se diria em alemão, há uma correspondência
de merda", brinca Gauger.
O linguista
alemão fala de uma "especificidade germânica". Ou, antes, de uma
especificidade dos países germanófonos, já que também fez constatações
comparáveis na Áustria e na Suíça de idioma alemão.
Em
contrapartida, quase todo resto da Europa é "sexualmente orientado".
Isso também se aplica ao Leste, em especial à língua russa, aos idiomas
eslavos, mas também ao turco. Gauger só encontrou umas poucas exceções. Entre
os suecos, por exemplo, as ofensas trazem um componente fortemente religioso.
Hans-Martin Gauger reuniu essas e outras observações em seu livro Das Schmutzige und das Feuchte – Kleine Linguistik der vulgären Sprache (O sujo e o úmido – Pequena linguística da linguagem vulgar), documentando-as através de uma série de exemplos.
Hans-Martin Gauger reuniu essas e outras observações em seu livro Das Schmutzige und das Feuchte – Kleine Linguistik der vulgären Sprache (O sujo e o úmido – Pequena linguística da linguagem vulgar), documentando-as através de uma série de exemplos.
Escatológico
versus sexual
No entanto, em
entrevista à DW, o filólogo não sabe ao que atribuir o componente fortemente
religioso das ofensas típicas dos suecos. As tentativas de uma justificativa
histórica, por exemplo com base nos distintos caminhos confessionais, não
levaram muito longe.
O estudioso
também dá pouca fé às tentativas de interpretação, propostas por círculos
norte-americanos, segundo as quais a fixação dos alemães no âmbito anal, em
seus insultos, estaria fundamentada no caráter nacional.
Ele considera
pouco científicas as teorias apresentadas, entre outros, pelo antropólogo Alan
Dundes em seu livro de 1984 Life is like a chicken coop ladder: A study of
German national character through folklore (A vida é como uma escada de
galinheiro: Um estudo do caráter nacional alemão através do folclore).
Afinal,
ressalta, a divisão entre ofensas de caráter sexual e escatológico já se
manifestava em épocas em que ainda nem existia uma identidade germânica, como a
conhecemos hoje.
Para os alemães
que se sintam ofendidos com a acusação de fixação anal, o filólogo tem um
argumento: "Na verdade, é algo que não se pode, absolutamente, criticar.
Afinal, nós designamos algo negativo com atributos claramente negativos".
Em outras palavras: os insultos germânicos teriam mais lógica do que os do
resto do mundo.
Além do mais, é
provável mesmo que dentro de algumas décadas
todas as partes.
Pelo menos na linguagem dos jovens, a Alemanha vem se aproximando do resto da
Europa. Muitos deles já insultam, hoje, com expressões de cunho sexual. E cada
um que decida por si se este é um sinal de progresso...
Autoria: Michael Marek / Augusto Valente
Revisão: Francis França. Publicado no DW.DE.
Autoria: Michael Marek / Augusto Valente
Revisão: Francis França. Publicado no DW.DE.
Quem
teve a sorte de ler Linguagem do Pensamento e Ação, de S. I. Hayakawa, lançado
no Brasil em 1972 pela Pioneira, compreende bem esse texto. Sobretudo no trecho
em que Hayakawa afirma que grandes problemas de ordem internacional
poderiam ser evitados se cada negociador
entendesse o sentido das palavras ditas durante as negociações.
FICOU UM GRANDE
VAZIO
Conversei
poucas vezes com Joelmir Beting. A última foi durante a ditadura. Joelmir me
ligou, preocupado
“Vá com calma,
Elóy. Dê uma no ferro, outra na ferradura.”
Joelmir se
referia ao meu jeito de escrever, inconformado com a ditadura e com as pessoas
que se diziam de esquerda antes do golpe mas que passaram rapidinho para a
banda dos militares.
Nunca mais nos
falamos, cada um seguindo seu próprio caminho. Agora, lendo o que escrevem
sobre ele, vejo o quanto perdi com esse distanciamento. Pena que se esquecem de
citar o Na Prática a Teoria é Outra uma obra prima que ele escreveu.
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