Pesquisar este blog

quinta-feira, 26 de julho de 2012

POTENCIAL CONTRA TUBERCULOSE E CÂNCER


 (Texto de Karina Toledo distribuído pela Agência FAPESP)  – Em artigo recém-publicado na revista Infectious Agents and Cancer, pesquisadores brasileiros e norte-americanos demonstraram que um fármaco desenvolvido no Brasil e batizado de P-MAPA é capaz de ativar determinados receptores do sistema imunológico e favorecer o combate à tuberculose e ao câncer de bexiga.
Estudos anteriores indicaram que a molécula, criada pela rede de pesquisa Farmabrasilis a partir do fungo Aspergillus oryzae, tem ação imunomoduladora, ou seja, estimula o sistema imune a combater diversos tipos de tumores e doenças infecciosas, entre elas malária, leishmaniose visceral e algumas viroses hemorrágicas.
Agora, pela primeira vez, os possíveis mecanismos de ação da droga foram descritos. Testes in vitro com células humanas e experimentos em animais revelaram que o P-MAPA ativa receptores existentes na membrana celular conhecidos como toll-like. Além disso, em ratos, a droga modificou a expressão da proteína p-53, possivelmente relacionada à regulação dos receptores.
“Os receptores toll-like são capazes de reconhecer fragmentos de vírus e bactérias, além de fatores moleculares associados a tumores ou a doenças infecciosas”, explicou Wagner José Fávaro, professor do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e orientador do trabalho de pós-doutorado de Fábio Rodrigues Ferreira Seiva, que teve Bolsa da FAPESP.
Esses receptores podem auxiliar na redução tumoral de duas maneiras: inibindo a formação dos vasos sanguíneos que irrigam a região e recrutando células de defesa para atacar o tumor.
Segundo Fávaro, o P-MAPA – abreviação de agregado polimérico de fosfolinoleato-palmitoleato de magnésio e amônio proteico – atua especificamente sobre os subtipos 2 e 4 dos receptores toll-like. De acordo com a literatura científica, esses subtipos estariam relacionados ao câncer de bexiga.
“Ainda não se sabe com certeza se a resposta desencadeada por eles é favorável ou desfavorável. Podem atuar como reguladores negativos ou positivos da carcinogênese, mas nossos resultados indicam que a ativação dos receptores auxiliou na regressão do tumor”, disse Fávaro.
Os experimentos foram realizados em ratos. Os pesquisadores introduziram diretamente na bexiga dos animais o carcinógeno N-metil-N-nitrosoureia (composto N-nitroso) – substância também existente no cigarro. Após oito semanas de exposição, os roedores já apresentavam lesões pré-malignas e malignas na bexiga urinária.
“Esse modelo animal se aproxima muito do que acontece com humanos. fumantes e trabalhadores expostos a determinadas substâncias químicas inalam o N-nitroso e o excretam na urina. O contato do carcinógeno com o epitélio da bexiga, ao longo do tempo, acaba causando o câncer”, explicou Fávaro.
Os animais foram então tratados por outras oito semanas. O efeito do P-MAPA foi comparado com o da vacina BCG (sigla para Bacillus Calmette-Guerin), usada originalmente na prevenção da tuberculose e considerada atualmente a melhor opção para o controle do câncer de bexiga.
“O principal tratamento para o câncer do tipo não-músculo invasivo, que apresenta lesões superficiais, consiste em remover cirurgicamente o tumor e aplicar a imunoterapia com a vacina BCG diretamente na bexiga”, disse Fávaro.
Descobriu-se na década de 1970 que a BCG induz uma resposta imune massiva, estimulando a produção de células que atacam o tumor. No experimento, os ratos tratados com a vacina, verificou-se uma redução de 20% a 30% no grau tumoral, mas os animais continuavam a apresentar lesões malignas.
Já no grupo que recebeu o P-MAPA, a redução do grau tumoral foi de 90%. “Os animais deixaram de apresentar lesões malignas e pré-malignas, passando a apresentar apenas lesões inflamatórias”, disse Fávaro.
Outra vantagem do P-MAPA é a baixa ocorrência de efeitos adversos verificada em estudos com diversos tipos de animais. “A BCG é preparada com bacilos atenuados e, portanto, é contraindicada para pacientes com imunodeficiência”, disse.
Os efeitos colaterais, explicou o pesquisador, estão presentes em mais de 90% dos pacientes tratados com BCG e vão desde sintomas irritativos leves até reações alérgicas, instabilidade hemodinâmica e febre persistente. Nesses casos, o tratamento precisa ser suspenso.
“Nos testes com animais, o P-MAPA mostrou resultados mais eficazes e com menores efeitos colaterais. Isso indica que pode se tornar um grande aliado no tratamento”, destacou Fávaro.
Tuberculose
A eficácia do P-MAPA no combate à tuberculose foi investigada graças a uma parceria da Farmabrasilis com o National Institute of Allergy and Infectious Diseases (NIAID) e pesquisadores da Colorado State University, nos Estados Unidos.
“Primeiro foram feitos testes in vitro, nos quais foi aplicado o P-MAPA sobre colônias da bactéria causadora da tuberculose. O objetivo era ver se a droga possuía efeito antibiótico”, contou Fávaro.
O resultado foi negativo. Quando comparado aos antibióticos normalmente usados no tratamento da tuberculose, o P-MAPA não se mostrou capaz de inibir o crescimento dos bacilos. “Mas quando foi testado em animais, o imunomodulador se mostrou capaz de reduzir significativamente as unidades formadoras de colônias”, ressaltou.
O experimento foi feito com ratos infectados com a bactéria causadora da tuberculose por meio de um aerossol. Nesse caso, o tratamento com o P-MAPA foi comparado com o moxifloxacin (fluorquinolona), antibiótico sintético de quarta geração em fase final de aprovação pela Food and Drug Administration (FDA) – órgão do governo norte-americano que regula medicamentos .
No grupo tratado com P-MAPA, houve uma redução de 28% da carga bacteriana. No grupo tratado com Moxifloxacin, a queda foi de 40%. Os animais tratados com a associação das duas drogas apresentaram carga bacteriana 38% menor.
“O P-MAPA sozinho teve um efeito menor, mas também causou menos reações adversas. A vantagem de associar as duas drogas é que você consegue obter um resultado semelhante ao do moxifloxacin isolado, mas com menos efeitos colaterais”, disse Fávaro.
Em diversas pesquisas realizadas com animais e em testes preliminares com humanos, o P-MAPA apresentou baixa toxicidade. Até o momento, não foram relatados efeito adversos importantes nas dosagens usadas experimentalmente.
Farmabrasilis
A rede Farmabrasilis, entidade sem fins lucrativos criada em 2001 e constituída por cientistas brasileiros, chilenos, europeus e norte-americanos, também pesquisa outros candidatos a fármacos. O P-MAPA é o produto em estágio mais avançado de desenvolvimento.
“O próximo passo é tentar provar em testes com seres humanos que a droga pode ser uma opção terapêutica valiosa”, disse Iseu Nunes, um dos diretores da rede.
Segundo Nunes, a droga poderia ser usada em conjunto com a vacina BCG no tratamento do câncer de bexiga. Também poderia ser usada para auxiliar antivirais e antibacterianos no tratamento de doenças infecciosas.
A Farmabrasilis é a primeira a adotar no Brasil o modelo de fonte aberta para o desenvolvimento de fármacos e opera com uma política diferenciada de propriedade intelectual.
“Todos os produtos em desenvolvimento podem vir a ser cedidos gratuitamente para o tratamento de doenças negligenciadas e para programas de interesse da saúde pública”, contou Nunes.
Para financiar seus projetos, a rede conta com doações, parcerias nacionais e internacionais, apoio de órgãos de fomento e trabalho voluntário de seus integrantes. Os estudos do P-MAPA em tuberculose foram apoiados pela Farmabrasilis e NIAID e os estudos em câncer de bexiga pela Farmabrasilis, FAPESP e CNPQ.
Há pelo menos outros cinco projetos de pesquisa financiados pela FAPESP, alguns já concluídos, que investigam o efeito do P-MAPA no combate a doenças como , leishmaniose visceral em cães , câncer de bexiga e na inflamação induzida por toxinas da bactéria Escherichia coli .
O artigo Effects of P-MAPA Immunomodulator on Toll-Like Receptors and p53: Potential Therapeutic Strategies for Infectious Diseases and Cancer pode ser lido em www.infectagentscancer.com/content/pdf/1750-9378-7-14.pdf.
ONCOLOGIA COMPARADA
(Texto de Elton Alisson, distribuído pela Agência FAPESP)Em outubro, os maiores especialistas do Brasil e do exterior em oncologia comparada estarão reunidos em São Paulo para discutir sobre os mais recentes avanços científicos na área, que integra o estudo do câncer de ocorrência natural em animais e no homem. Eles participarão da São Paulo Advanced School of Comparative Oncology, que será realizada nos dias 30 de setembro a 7 de outubro no Grande Hotel São Pedro, em Águas de São Pedro, no interior de São Paulo.
Voltado para estudantes de doutorado, pós-doutorado e jovens pesquisadores nas áreas de oncologia humana e veterinária, um dos objetivos do evento, realizado no âmbito da Escola São Paulo de Ciência Avançada (ESPCA), modalidade de apoio da FAPESP, é estimular o avanço do conhecimento da área de oncologia comparada no Brasil.
O conceito tem despontado como uma potencial alternativa para pesquisa e desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas do câncer. Isso porque muitos tumores espontâneos que ocorrem em animais domésticos são semelhantes aos mesmos tipos dos que acometem humanos, tais como carcinomas de mama, linfomas, osteossarcomas, câncer de pele e tumores cerebrais.
Além disso, de acordo com os pesquisadores da área, os tumores espontâneos em cães e gatos domésticos apresentam elementos comuns às neoplasias do homem, como concordância das taxas de prevalência em áreas geográficas específicas, fatores da dieta, impacto neuro-hormonal, fatores ambientais, como poluição, além de mecanismos genéticos e epigenéticos semelhantes. Por isso, os animais de companhia são considerados excelentes modelos para a detecção de fatores de risco ambientais, e podem ser utilizados no desenvolvimento e otimização de novos sistemas de imagens para estudos de tumores, novas estratégias terapêuticas para uma variedade de cânceres.
“A população de animais de companhia com neoplasias espontâneas possibilita a realização de estudos comparativos com os humanos, dado que os animais têm menor tempo de vida e compartilham do mesmo ambiente do homem”, disse Silvia Regina Rogatto, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Botucatu, e coordenadora do evento.
De acordo com Rogatto, o conceito de oncologia comparada foi adotado pelo programa The comparative oncology trials consortium, do National Cancer Institute (NCI), dos Estados Unidos, que tem impulsionado o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas do câncer. Entretanto, ainda é pouco difundido no Brasil e em outros países.
Por intermédio do evento, os organizadores pretendem criar as bases para desenvolver uma rede de estudos colaborativos, com a participação de pesquisadores do país e do exterior, e implementar um programa multidisciplinar em oncologia comparada que utilize pequenos animais como modelos de tumores espontâneos para a caracterização de vias gênicas alteradas no câncer, identificação e validação funcional de potenciais alvos terapêuticos.
“Acreditamos que o evento será uma oportunidade única para os participantes interagirem e desenvolverem pesquisas colaborativas em câncer baseadas na interface homem-animal”, avaliou Rogatto.
Participarão do evento 28 cientistas do Brasil e do exterior, que abordarão temas como sequenciamento genômico em larga escala, imunomodulação e câncer, fatores de risco para o câncer esporádico e familial, epigenética, RNAs não-codificadores, células-tronco, inflamação, proteômica e bioinformática.
A programação científica do evento será composta por apresentações sobre diferentes tipos de tumores, como cânceres hematológicos, carcinomas de mama, cânceres do sistema genital masculino, cânceres colorretais e de cabeça e pescoço. Além disso, serão realizadas visitas técnicas à Unesp de Botucatu, Faculdade de Medicina Veterinária de Universidade de São Paulo (USP) e Hospital do Câncer AC Camargo, que organizam o evento.
Serão selecionados 100 estudantes, sendo 50 brasileiros e 50 do exterior. Os participantes receberão financiamento para passagens aéreas, transporte terrestre, alojamento, refeições e material de curso. Detalhes:  www.comparativeoncologyespca.org/.
NOVAMENTE AS RECEITAS MEDICINAIS
A Editora Unisul está lançando a segunda edição do livro Plantas Medicinais – Um Resgate do Conhecimento Popular. O livro, cuja primeira edição esgotou rapidamente, foi organizado pelas  enfermeiras mestras em enfermagem Fátima Farias e Tereza Gaio e por Jaci Helena Perotoni, graduada  em Tecnologia de Gestão Ambiental, com apoio das Associação Linha Verde e dos diversos grupos da Pastoral da Saúde. Resultado de trabslho realizado por vários pesquisadores, reúne receitas de chás e benefícios trazidos pelas mais diversas plantas, conforme indicação da sabedoria popular. Parte superior do formulário

Parte superior do formulário


Nenhum comentário:

Postar um comentário