(Texto de Fábio de Castro,
distribuído pela Agência
FAPESP) – Em janeiro de 2011, enchentes e
deslizamentos deixaram cerca de mil mortos e 500 desaparecidos na Região
Serrana do Rio de Janeiro. A tragédia evidenciou a precariedade dos sistemas de
alerta no Brasil e foi considerada por especialistas como a prova definitiva de
que era preciso investir na prevenção de desastres.
O mais importante desdobramento
dessa análise foi a Lei 12.601, sancionada em abril, que estabelece a Política
Nacional de Proteção e Defesa Civil e cria o sistema de informações e
monitoramento de desastres, de acordo com especialistas reunidos no seminário
“Caminhos da política nacional de defesa de áreas de risco”, realizado pela
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) no dia 6 de agosto.
A nova lei obriga as prefeituras
a investir em planejamento urbano na prevenção de desastres do tipo enchentes e
deslizamentos de terra. Segundo os especialistas, pela primeira vez a prevenção
de desastres poderá ser feita com fundamento técnico e científico sólido, já
que a lei determina que, para fazer o planejamento, todas as prefeituras
precisarão elaborar cartas geotécnicas dos municípios.
Katia Canil, pesquisadora do
Laboratório de Riscos Ambientais do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT),
disse que as prefeituras terão dois anos para elaborar as cartas geotécnicas
para lastrear seus planos diretores, que deverão contemplar ações de prevenção
e mitigação de desastres. Os municípios que não apresentarem esse planejamento
não receberão recursos federais para obras de prevenção e mitigação.
“As cartas geotécnicas são
documentos cartográficos que reúnem informações sobre as características
geológicas e geomorfológicas dos municípios, identificando riscos geológicos e
facilitando a criação de regras para a ocupação urbana. Com a obrigatoriedade
desse instrumento, expressa na lei, poderemos ter estratégias de prevenção de
desastres traçadas com base no conhecimento técnico e científico”, disse Canil
à Agência FAPESP.
A primeira carta geotécnica do
Brasil foi feita em 1979, no município de Santos (SP), mas, ainda assim, o
instrumento se manteve pouco difundido no país. Segundo Canil, a
institucionalização da ferramenta será um fator importante para a adequação dos
planos diretores em relação às características geotécnicas dos terrenos.
“Poucos municípios têm carta
geotécnica, porque não era um instrumento obrigatório. Agora, esse panorama
deve mudar. Mas a legislação irá gerar uma grande demanda de especialistas em
diversas áreas, porque as cartas geotécnicas integram uma gama de dados
interdisciplinares”, disse a pesquisadora do IPT.
As cartas geotécnicas reúnem
documentos que resultam de levantamentos geológicos e geotécnicos de campo,
além de análises laboratoriais, com o objetivo de sintetizar todo o
conhecimento disponível sobre o meio físico e sua relação com os processos
geológicos e humanos presentes no local. “E tudo isso precisa ser expresso em
uma linguagem adequada para que os gestores compreendam”, disse Canil.
As cidades terão que se organizar
para elaborar cartas geotécnicas e a capacitação técnica necessária não é
trivial. “Não se trata apenas de cruzar mapas. É preciso ter experiência aliada
ao treinamento em áreas como geologia, engenharia, engenharia geotécnica,
cartografia, geografia, arquitetura e urbanismo”, disse Canil. O IPT já oferece
um curso de capacitação para elaboração de cartas geotécnicas.
Uma dificuldade importante para a
elaboração das cartas será a carência de mapeamento geológico de base nos
municípios brasileiros. “A maior parte dos municípios não tem dados primários,
como mapeamentos geomorfológicos, pedológicos e geológicos”, disse Canil.
Plano nacional de prevenção
Plano nacional de prevenção
A tragédia da Região Serrana
fluminense, em janeiro de 2011, foi um marco que mudou o rumo das discussões
sobre desastres, destacando definitivamente o papel central da prevenção,
segundo Carlos Nobre, secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e
Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
“Aquele episódio foi um solavanco
que chacoalhou a percepção brasileira para o tema dos grandes desastres.
Tornou-se óbvio para os gestores e para a população que é preciso enfatizar o
eixo da prevenção. Foi um marco que mudou nossa perspectiva para sempre:
prevenção é fundamental”, disse durante o evento.
Segundo Nobre, que também é
pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e membro da
coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais, a
experiência internacional mostra que a prevenção pode reduzir em até 90% o
número de vítimas fatais em desastres naturais, além de diminuir em cerca de
35% os danos materiais. “Além de poupar vidas, a economia com os prejuízos
materiais já compensa com sobras todos os investimentos em prevenção”, disse.
De acordo com Nobre, a engenharia
terá um papel cada vez mais importante na prevenção, à medida que os desastres
naturais se tornarem mais extremos por consequência das mudanças climáticas.
“O engenheiro do século 21
precisará ser treinado para a engenharia da sustentabilidade – um campo
transversal da engenharia que ganhará cada vez mais espaço. A engenharia, se
bem conduzida, é central para solucionar alguns dos principais problemas da
atualidade”, afirmou.
Segundo Nobre, além da nova
legislação, que obrigará o planejamento com base em cartas geotécnicas dos
municípios, o Brasil conta com diversas iniciativas na área de prevenção de
desastres. Uma delas será anunciada nesta quarta-feira (08/08): o Plano Nacional
de Prevenção a Desastres Naturais, que enfatiza as obras voltadas para a
instalação de sistemas de alerta.
“Há obras de grande escala
necessárias no Brasil, especialmente no que se refere aos sistemas de alerta.
Um dos elementos importantes do novo plano é a questão do alerta precoce.
Experiências internacionais mostram que um alerta feito até duas horas antes de
um deslizamento é capaz de salvar vidas”, disse.
Segundo Nobre, as iniciativas do
plano serão coerentes com a nova legislação. O governo federal deverá investir
R$ 4,6 bilhões, nos próximos meses, em iniciativas de prevenção de desastres
nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Santa Catarina.
Mas, para pleitear verbas
federais, o município deverá cumprir uma série de requisitos, como incorporar
as ações de proteção e defesa civil no planejamento municipal, identificar e
mapear as áreas de risco de desastres naturais, impedir novas ocupações e
vistoriar edificações nessas áreas.
Segundo Nobre, outra ação voltada
para a prevenção de desastres foi a implantação do Centro Nacional de
Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), do MCTI, que começou a
operar em dezembro de 2011, no campus do Inpe em Cachoeira Paulista.
“Esse centro já tinha um papel
importante na previsão de tempo, mas foi reformulado e contratou 35
profissionais. O Cemaden nasce como um emblema dos novos sistemas de alerta:
uma concepção que une geólogos, meteorólogos e especialistas em desastres
naturais para identificar vulnerabilidades, algo raro no mundo”, afirmou.
Segundo ele, essa nova estrutura já tem um sistema
de alertas em funcionamento. “É um sistema que ainda vai precisar ser avaliado
com o tempo. Mas até agora, desde dezembro de 2011, já foram lançados mais de
100 alertas. O país levará vários anos para reduzir as fatalidades como os
países que têm bons sistemas de prevenção. Mas estamos no caminho certo”, disse
Nobre.
PRÊMIOS SANTANDER UNIVERSIDADES
Abertas até 16 de setembro as
inscrições para os Prêmios Santander Universidades 2012. São quatro premiações
oferecidas: Prêmio Santander Ciência e Inovação, Prêmio Santander
Empreendedorismo, Prêmio Santander Universidade Solidária e Prêmio Guia do
Estudante – Destaques do Ano. O vencedor de cada prêmio receberá R$ 50 mil.
O prêmio de Ciência e Inovação
visa estimular a produção da pesquisa científica, de caráter inovador, e
reconhecer e incentivar pesquisadores que, além de educar, contribuem com a
inovação do ensino no Brasil. Podem participar pesquisadores com título de
doutores e docentes e vínculo com instituição de ensino superior parceira do
programa Santander Universidades. Detalhes: www.santander.com.br/universidades.
MESSIANISMO, MILENARISMO E PROFECIA NO MUNDO
IBÉRICO
O colóquio internacional Messianismo, Milenarismo
e Profecia no Mundo Ibérico nos Séculos XV-XVIII será realizado de 22 a 24
PRÓXIMOS em São Paulo.
O encontro é promovido pelo Departamento de História da Unifesp, em
parceria com a Cátedra Jaime Cortesão da Universidade de São Paulo e com o
Laboratório de Estudos Sacralidades, do Programa de Pós-Graduação em História
da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Detalhes: http://milenarismo.wordpress.com/apresentacao.
FEIRA USP DE INOVAÇÃO E EMPREENDEDORISMO
A Agência USP de Inovação realizará, nos dias
23 a 25, a Feira USP de Inovação e Empreendedorismo – USPiTec 2012. Voltada
para estudantes, empresários e autoridades, os objetivos são demonstrar o
potencial tecnológico existente no meio acadêmico, motivar novas parcerias com
empresas e divulgar de forma ampla as inovações tecnológicas desenvolvidas pela
USP. Detalhes: www.inovacao.usp.br/uspitec/index.html.
1ª
JORNADA DE MÍDIAS E RELIGIÕES
Promovida pelo Programa
de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação (PPGCom-Unisinos), em parceria com
o Instituto Humanitas Unisinos - IHU, a 1ª Jornada de Mídias e Religiões A
Comunicação e a Fé em Sociedades em Midiatização visa a promover o debate
entre pesquisadoras/es e estudantes, a partir do olhar comunicacional, sobre os
desafios e possibilidades da interface mídias e religiões em diálogo com as
sociedades contemporâneas.
A jornada ocorrerá dias 3 e 4 de outubro de 2012, na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), em São Leopoldo, RS. Detalhes: http://www.ihu.unisinos.br/eventos/agenda/294.
MEETING ON CARDIOTONIC STEROIDS AND THE BA+PUMP: NEW HORIZONS
A jornada ocorrerá dias 3 e 4 de outubro de 2012, na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), em São Leopoldo, RS. Detalhes: http://www.ihu.unisinos.br/eventos/agenda/294.
MEETING ON CARDIOTONIC STEROIDS AND THE BA+PUMP: NEW HORIZONS
O Meeting on Cardiotonic Steroids and The Na+
Pump: New Horizons será realizado nos dias 20 e 21 pelo Departamento de
Farmacologia do Instituto de Ciências Biomédicas da USP.
O encontro reunirá pesquisadores
do Brasil e do exterior para debater avanços em estudos com esteroides
cardiotônicos, inibidores da função de transporte iônico. Detalhes: www.icb.usp.br, e bmfpg@icb.usp.br
A RELIGIÃO E O Anteprojeto do
Novo Código Penal Brasileiro
(Entrevista concedida pelo com
especialista em bioética, Pe. Helio Luciano, a Thácio Siqueira, da ZENIT.org) - O
Anteprojeto do novo Código Penal Brasileiro já foi entregue nas mãos do
presidente do Senado, José Sarney, pelos 15 juristas que o elaboraram. A
propósito, ZENIT entrevistou o especialista em bioética, Pe. Hélio membro da comissão de bioética da CNBB. A
primeira parte da entrevista está aqui.
ZENIT: Qual é a sua opinião sobre o Anteprojeto do Código
Penal entregue ao Senado Federal recentemente? Houve participação de católicos
preparados em todo o período de estudo e de debate sobre o anteprojeto? O governo
se interessou realmente em fazer que a sociedade debatesse todos os pontos?
Houve uma aceitação das propostas enviadas pela liderança da Igreja católica,
dos cristãos no geral, e de todos os que são contrários ao aborto, como os
espíritas e outros grupos?
PE.HELIO - Há que se falar, antes de
qualquer coisa, da necessidade premente de um novo Código Penal no Brasil. O
atual está defasado, tanto pela sua “idade” – já passa dos setenta anos – como
pelo fato de que, desde a sua promulgação durante o “Estado Novo”, foram
promulgadas ou outorgadas pelo menos outras três Constituições no Brasil
(alguns consideram que foram quatro). Neste período, o Código atual foi
sofrendo diversas emendas, perdendo sua unidade e, em alguns pontos, mantendo
regulamentações que já não condizem às práticas atuais. Também é necessário
dizer que o texto do Anteprojeto para o novo Código Penal, apresentado pela
comissão de juristas, é um texto claro, unitário e, em grande parte, em
conformidade com a Constituição Cidadã de 1988.
Ainda que no seu conjunto
seja um texto positivo, existem alguns pontos que contradizem tanto a nossa
Carta Magna como a opinião da imensa maioria dos brasileiros. Sendo assim,
minha preocupação em relação a este Anteprojeto é, em primeiro lugar, uma preocupação
em sentido jurídico – um Código Penal não pode legislar afrontando a
Constituição, criando ou eximindo de crime aquilo que a Carta Magna defende. Em
segundo lugar, preocupa-me que alguns valores próprios de uma sociedade tentem
ser desrespeitados de modo quase despótico, ou seja, sem ampla consulta à
sociedade. É verdade que havia um canal de sugestões no Senado no qual foram
apresentadas aproximadamente 3.000 propostas, mas pergunto-me: quantas pessoas
sabiam que o código penal estava sendo reelaborado e que são 3.000 sugestões
para uma população de quase 200.000.000 de habitantes? O que reivindico – até este
ponto – não tem nenhuma conotação religiosa – peço apenas o respeito à
Constituição e aos valores próprios de um povo.
Em terceiro lugar – mas não
menos importante – preocupa-me que em um País de imensa maioria cristã, alguns
valores defendidos pelo cristianismo possam ser simplesmente contrariados. Não
se trata aqui de reivindicar a presença de católicos ou de outros cristãos na
comissão de juristas, mas sim de defender que os valores cristãos – próprios da
nossa sociedade – fossem respeitados. Certamente a laicidade do Estado não pode
ser confundida com um laicismo. A laicidade separa o Estado da religião
enquanto o laicismo nega todos os valores de uma sociedade.
Finalmente, é bom lembrar
que as falhas do Anteprojeto não se referem apenas às questões ligadas à vida –
como o aborto e a eutanásia – mas também a outras questões importantes como,
por exemplo, o uso de drogas e a aceitação de um terrorismo bom.
ZENIT: Ainda há algo a ser feito ou podemos dizer que a
proposta atual é a proposta que vai permanecer?
PE.HELIO - Certamente há ainda muito a
ser feito. O Anteprojeto do Código Penal, como diz o próprio nome, não é ainda
nem mesmo o projeto que será submetido a votação. Agora é o momento de juristas
competentes enviarem emendas ao texto. Este é o momento também da sociedade
exercer sua função dentro da democracia – explicando aos amigos o que está em
jogo, usando a mídia, as redes sociais, os e-mails, entre outros meios, para
que não aceitemos, passivamente, que mudem a nossa sociedade naquilo que não
estamos de acordo. Um modo de nos fazer ouvir também seria enviar e-mails aos
Senadores e Deputados, manifestando a nossa opinião através de argumentos
racionais – se um ou dois enviam, não surtirá efeito, mas se uma grande
porcentagem da população começa a escrever, com certeza nos ouvirão.
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