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sexta-feira, 22 de junho de 2012

ECONOMIA VERDE EM XEQUE

(Texto de Washington Castilhos, distribuído pela Agência FAPESP) – Economia verde costuma ser usada para descrever a compatibilização do crescimento econômico com o meio ambiente, um dos blocos do crescimento sustentável. Segundo a Green Economy Initiative, iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) lançada em 2008, a economia verde resulta em melhoria do bem-estar humano e da igualdade social, enquanto reduz os riscos ambientais e a escassez ecológica.

Apesar de ser usada há mais de 20 anos, a expressão “economia verde” ainda é controversa, assim como seu próprio conceito. Enquanto para alguns é perfeitamente possível, para os mais críticos ela seria uma tentativa de viabilizar a sociedade de consumo e adiar mudanças estruturais.

Essa foi a tônica de um painel que reuniu cientistas de diversos países no Rio de Janeiro durante as discussões para a RIO+20. No encontro, os pesquisadores debateram as possibilidades de uma economia verde, se esse modelo requer uma mudança de paradigma nos padrões econômicos ou se é compatível com os mercados competitivos, com a mercantilização de recursos e com a expansão do consumo.

A economista Elizabeth Stanton, do Instituto do Meio Ambiente de Estocolmo, Suécia, pontuou que é preciso analisar para quem os benefícios desse novo paradigma econômico seriam distribuídos. “A tendência é fazer os pobres ficarem mais ricos ou os ricos ainda mais ricos?”, questionou.

Tim Jackson, professor de desenvolvimento sustentável da Universidade de Surrey, na Inglaterra, e autor do livro Prosperity without growth (“Prosperidade sem crescimento”), defendeu uma mudança de valores, com menos consumismo e individualismos.

“O crescimento econômico tem distribuído seus benefícios de maneira desigual. Longe de elevar o padrão de vida dos pobres, o crescimento piorou a situação de boa parte da população mundial. A riqueza favoreceu uma minoria”, disse.

“À medida que a economia se expande, crescem as implicações nos recursos naturais envolvidos, com impactos globais que já são insustentáveis. No último meio século, enquanto a economia global crescia, 60% dos ecossistemas mundiais foram degradados. Uma escassez de recursos naturais básicos – como o petróleo – pode estar a menos de uma década de nós”, afirmou Jackson.

“A economia verde é uma forma de negar evidências como a de que a concentração de dióxido de carbono está crescendo a 2 partes por milhão (ppm) ao ano”, disse o espanhol Joan Martinez Alier, da Universidade de Barcelona, à Agência FAPESP.

Segundo o economista catalão, a base do acordo deveria ser o hemisfério Norte global renunciar ao crescimento econômico em favor do crescimento do Sul.

“Creio que o Norte deveria ter economias sem crescimento e o Sul deveria reduzir suas extrações naturais para a metade e passar a exportar menos seus produtos. O que o Sul também poderia fazer era aumentar os impostos sobre a exportação. No caso brasileiro, por exemplo, quem pagaria por um possível acidente ecológico na extração do petróleo do fundo do mar, com o pré-sal?”, disse.

Para Alier, a proposta de sustentabilidade mundial baseada em ajudas financeiras multilaterais não é o caminho. “Emprestar dinheiro, como historicamente se tem feito, não é a saída, pois preservar o meio ambiente não é uma questão de milhões, mas sim de controlar a mudança climática e manter a biodiversidade”, disse.

“Em relação aos países do hemisfério Sul, há um pensamento de que eles são demasiados pobres para serem ecológicos. Mas do que morreram pessoas como Chico Mendes se não para defender a ecologia? Ecologia não é um luxo, é uma necessidade para todos”, afirmou Alier.

Lidia Brito, diretora da divisão de Políticas Científicas da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), rejeita a expressão “economia verde”.

“Para ser honesta, na Unesco não falamos em economia verde. Falamos de sociedade verde. Penso que o ceticismo dos investigadores vem daí: a discussão não é sobre economia. O que temos certeza é que não é possível falar apenas de um dos blocos do desenvolvimento sustentável”, disse.

“A economia não pode ser discutida sem as questões sociais, culturais e ambientais. Elas estão interligadas e não podem ser tratadas de forma independente. Fico satisfeita com os cientistas brasileiros, que não querem falar apenas em economia. Temos que falar em sociedade verde, para destacar essa força de mudança”, disse Brito.

Na opinião de Ronaldo Seroa da Motta, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e professor de Economia Ambiental do Ibmec no Rio de Janeiro, não há outra saída a não ser tentar uma economia que seja restritiva no uso de recursos naturais.

“Sou a favor da precificação dos recursos naturais. Enquanto tivermos água barata, por exemplo, vamos consumir mais. Devemos nos preocupar com o produto líquido, quer dizer, o quanto que de capital natural perdemos para gerar uma determinada produção. Era isso que deveríamos estar medindo”, disse.

“Se aumentarmos o preço dos serviços ambientais, teremos uma perda de crescimento econômico em curto prazo, mas depois isso será revertido. Um exemplo: devido ao alto índice de desmatamento das florestas, o cerceamento à extração de madeiras fez com que passássemos a usar derivados de petróleo, e hoje vemos muitos produtos de plástico e quase nada de madeira. Mas se tivermos uma política agressiva na área ambiental, a primeira coisa a ser feita é reflorestar, opção mais barata e urgente”, afirmou.

Segundo Motta, ex-diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), é preciso reflorestar 10% da superfície do planeta para capturar carbono. “Isso impulsionaria enormemente o setor produtivo da madeira, uma vez que vamos extrair madeira e mobilizá-la em artigos como móveis, para poder fazer a madeira crescer novamente e continuar capturando carbono”, disse.

“Então, daqui a 30 anos, por exemplo, o fato de colocarmos o preço do carbono alto e todo mundo ter que plantar para poder continuar a produzi-lo, implicará em crescimento econômico impulsionado pelo setor produtivo da madeira, mais competitivo, sem degradação do meio ambiente”, disse.

De acordo com Motta, a saída não é aumentar o preço do que não é sustentável por meio de impostos, mas sim incentivar iniciativas sustentáveis cujos produtos sejam mais baratos.

OCEANOS PODEM SOFRER MAIS COM AQUECIMENTO

(Texto de Washington Castilhos, distribuído pela Agência FAPESP) – Embora a comunidade científica internacional tenha chegado ao consenso de que o aumento de até 2º C na temperatura média do planeta é aceitável para os ecossistemas terrestres, esse aquecimento pode ser mais nocivo do que se imagina para os oceanos e para a vida marinha.

“Nesse cenário, o número de dias com picos de temperatura acima dos 28ºC a 30ºC aumentaria significativamente nas águas costeiras e em mares fechados, como o Mediterrâneo. Deveríamos avaliar melhor os efeitos da temperatura mais alta sobre a vida marinha, especialmente sobre a estabilidade de algumas proteínas”, disse Luis Valdés, chefe do setor de Ciência Oceânica da Comissão Intergovernamental de Oceanografia da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), à Agência FAPESP.

Segundo Valdés, que está no Rio de Janeiro para a RIO+20, há uma escassez de peixes no mundo todo e é cada vez mais difícil se achar peixes grandes, o que afeta de forma grave economias que dependem da pesca.

“A elevação dos níveis do mar causada pelo degelo é um dos grandes problemas. Ainda não sabemos a velocidade em que o degelo está ocorrendo na Groenlândia. Como isso vai afetar as mudanças de temperatura nas correntes marinhas é uma informação-chave. Se as correntes mudam, tudo muda”, disse.

“Em termos de biologia, se a produção primária dos oceanos diminuir, a pesca também vai cair. A mudança nas rotas migratórias dos peixes-espadas repercutirá diretamente nas economias dos países e em muitos postos de trabalho em terra. A pesca é um exemplo claro de como um setor produtivo repercute em uma grande economia”, disse Valdés.

Segundo Valdés, a dimensão dos efeitos das mudanças climáticas sobre os oceanos é frequentemente negligenciada e a informação recebida pela comunidade científica e pelo público geral é parcial.

“Temos dados do hemisfério Norte sobre o impacto das mudanças globais nos oceanos, mas não do hemisfério Sul. Desse modo, não temos como saber quais são os efeitos e os danos, como os ecossistemas estão respondendo ou como as espécies estão se adaptando”, ponderou.

Valdés afirma que as medidas que podem ser tomadas no sentido de mitigar os efeitos do aquecimento global sobre os oceanos estão diretamente relacionadas ao poder econômico dos países.

“As medidas tomadas em termos de adaptação em países como Holanda e Inglaterra são no sentido de se proteger contra o aumento no nível do mar. Isso significa uma importante transformação na engenharia costeira, o que é mais difícil de se fazer em economias menos desenvolvidas, como, por exemplo, em pequenas ilhas do Pacífico”, disse.

O FUTURO DA DEMANDA DE ALIMENTOS

A Embaixada Britânica em Brasília realizará, hoje, no Rio de Janeiro, durante a RIO+20, o Debate sobre o Foresight – Futuro da Demanda de Alimentos no mundo.

Para debater questões como o futuro da agricultura e dos alimentos no mundo e se a população do futuro conseguirá sobreviver ao desafio da escassez de comida, o evento contará com a presença do conselheiro científico chefe do governo britânico, Sir John Beddington.

De acordo com Beddington, o cenário atual demanda uma imediata ação das autoridades internacionais para ultrapassar os desafios do abastecimento mundial de comuda nos próximos 40 anos. Detalhes: diego.arruda@fco.gov.uk.

FIQUE DE OLHO

Biodiversidade: fique de olho! é a nova exposição da Estação Ciência da USP, criada pelo Museu de Zoologia e que foi aberta ontem.

Em comemoração à RIO+20 e ao aniversário de 25 anos da Estação Ciência, a exposição apresenta acervo exclusivo em ambientação especialmente criada para fazer referência ao crescimento urbano.

Em uma área de 600 metros quadrados, a exposição apresenta uma abordagem atual e ampla sobre a biodiversidade brasileira, incluindo elementos como animais, esqueletos, paineis, dioramas e maquetes. Detalhes: www.eciencia.usp.br e (11) 3871-6750.

MAIS DE UM MILHÃO DE ARTIGOS!

O número de artigos científicos e tecnológicos e outros registros em bases de acesso livre no Japão ultrapassou a marca de 1 milhão. Detalhes: http://jairo.nii.ac.jp/en

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